NOTÍCIA

Educação no Mundo

Autor

Beatriz Rey

Publicado em 10/09/2011

Um processo de 40 anos

Reformas do sistema educacional começaram no final dos anos 60. Até então, as decisões eram totalmente centralizadas


Aluna cria objetos durante uma oficina de cerâmica: ensino médio com ênfases

Parece quase impensável hoje, mais de 20 anos depois, que o único atrativo do sistema educacional finlandês na década de 80 fosse o fato de as crianças de 10 anos fazerem parte do grupo de leitores mais vorazes do mundo. O país investiu pesado em educação a partir de 1968, com a promulgação do chamado School System Act, mas os resultados demoraram a aparecer. Foi a partir da década de 70 que o governo configurou o sistema educacional como ele é hoje: o ensino passou a ser obrigatório dos 7 aos 16 anos.

“Antes, tínhamos um sistema velho que obrigava crianças a escolher aos 10 anos se iam para um liceu, e depois para a universidade, ou para uma escola vocacional. A educação era paga também”, lembra Eeva Pentillä, diretora de relações internacionais do Departamento de Educação da cidade de Helsinque. Envolvida em todo o processo, Eeva diz que a universalização foi só uma parte da mudança: com a nova configuração veio a instituição de um currículo mínimo nacional. Aliás, a universalização do ensino só aconteceu de fato em 1980. Até o final dessa década, a autonomia ainda não tinha aparecido: o sistema era totalmente centralizado. Era o meio que o governo tinha para implantar a reforma, já que a oposição dos partidos de direita e dos sindicatos de professores era grande.

“Os anos 70 pediram não apenas mudanças institucionais e organizacionais, mas também planejamento intensivo e contínuo”, diz uma publicação do Ministério da Educação finlandês da época, editado por René Nyberg. Após a instituição da autonomia, os municípios passaram a ser responsáveis pela gestão de todo o ensino fundamental finlandês, e as escolas, pela própria gestão. Além disso, tornaram-se responsáveis pela elaboração do próprio currículo, desde que seguissem as linhas gerais do currículo mínimo preparado pelo Conselho Nacional de Educação. Os professores ganharam mais liberdade para escolher os métodos de ensino.

De lá para cá, poucas mudanças aconteceram no esqueleto do sistema educacional. Ainda hoje as crianças podem entrar na pré-escola aos 6 anos se os pais assim desejarem – atualmente, é o caso de praticamente toda a população, já que os pais trabalham o dia inteiro. As chamadas “escolas compreensivas”, que equivalem às escolas de ensino fundamental brasileiro, podem escolher um foco de ensino. Por exemplo, na escola em que estudam Alfons e Muaad, os garotos da parte inicial desta matéria, o foco é em línguas. Isso é possível porque há um currículo mínimo. Desde que ele seja executado, não há problemas com o Ministério da Educação. Após os nove anos de ensino fundamental, o aluno tem duas opções para o ensino médio, que não é obrigatório: as escolas regulares e as escolas de ensino técnico profissionalizante (veja boxe ao lado). Aproximadamente 98% dos estudantes prosseguem no ensino médio. Independentemente da escolha, ele pode, ao sair do ensino médio, frequentar uma universidade ou um instituto politécnico, que tem um viés mais profissional – a base curricular é a mesma.

As duas vias do ensino médio

“Você pode ser um hippie, um yuppie ou um punk”, diz um folder da Escola de Ensino Médio de Artes Visuais. Há, de fato, todas as “tribos” adolescentes na escola. Três estudantes que desejam seguir a carreira de moda já incorporam a profissão na roupa que vestem. Outros andam com máquinas fotográficas pelos corredores. A escola se divide entre dois prédios no centro de Helsinque: um abriga as aulas regulares, como história, finlandês e matemática, e o outro traz as salas específicas de artes visuais. No currículo da escola, todas as disciplinas são obrigatórias – o que varia é a carga horária de cada uma. Por exemplo: é obrigatório frequentar 16 cursos de matemática durante o ensino médio. Mas há a possibilidade de assistir a mais aulas, se o aluno desejar. O diferencial dessa escola de artes visuais está nas opções que a disciplina “artes” oferece: desenho e pintura, design gráfico, desenho tecnológico, fotografia, cinema, cerâmica, arte têxtil, escultura ou multimídia. Durante praticamente todos os dias da semana, os estudantes permanecem na escola até aproximadamente 17 horas. Há outras escolas de ensino médio regular na Finlândia, com focos diferentes.

Um pouco distante dali fica Escola de Arte Culinária, Moda e Beleza, que representa o outro tipo de ensino médio finlandês: um ensino técnico profissionalizante que já forma os alunos para o mercado de trabalho. Com 105 anos de existência, a instituição forma alunos em moda, culinária, serviços de restaurante e hotel, cabeleireiro e cuidados com beleza. Durante dois ou três anos, os estudantes precisam cumprir os seguintes créditos (40 horas de estudos fazem um crédito): 90 são destinados aos estudos vocacionais, 10 são de estudos livres (hobbies escolhidos pelos estudantes) e 20 de estudos comuns (disciplinas comuns como as do ensino médio regular). Durante esse período, o aluno já faz um treinamento trabalhando na área em que vai atuar. Quem estuda culinária, por exemplo, pode trabalhar no restaurante Kokki, anexo à escola. Há hoje 1.535 alunos na escola. Segundo a ministra de Educação, Henna Virkkunen, a proporção de alunos que segue para o ensino regular e para o técnico profissionalizante é igual. “O importante é que mesmo os que cursam o técnico profissionalizante têm currículo para ir à universidade ou às politécnicas. É um bom balanço”, afirmou.


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