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Autor

Camila Ploennes

Publicado em 25/10/2011

Quatro olhares sobre educação

Livro gera debate a respeito dos papéis da família e da escola

“Não conheço uma família estruturada. Toda família é desestruturada e desestruturante, porque tem afeto envolvido”. A fala da psicóloga Rosely Sayão durante o debate de lançamento do livro “Família e educação: quatro olhares”, nesta segunda-feira (25), em São Paulo, pode ser um ponto de partida para repensar a função dos pais e da escola na educação. Esse é o objetivo do trabalho feito junto com o professor titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo Yves de La Taille, o colunista de Educação Sérgio Rizzo e o professor da Faculdade de Educação da USP Julio Groppa Aquino, que também já foi colunista da revista.

Após levantar a mão em meio ao público, um educador da Fundação CASA (Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente) expôs que os problemas de violência e indisciplina enfrentados por ele no trabalho com os jovens da instituição não são muito diferentes dos encontrados por profissionais em escolas estaduais: “O que eu posso fazer, se o problema já vem da família, que é desestruturada?”, questionou. Para Rosely, a escola é o espaço de intervenção: “A responsabilidade da família é a de gerir intervenções que podem ser feitas na escola, onde há metodologia e estrutura para tal. O que me causa desgosto é o fato de a escola não querer experimentar”.

Para Julio Groppa Aquino, que contribuiu no livro com o artigo “Crise, acosso e reinvenção da experiência educativa contemporânea”, os adultos carregam a culpa de não cuidar das crianças e tentam amenizar isso fazendo de conta que cuidam: “Basta ver a obscenidade do ””eu te amo””. Amor não se declara. Isso não é e nunca foi trabalho familiar, nem educação. Há uma necessidade dos pais de reafirmar a todo momento que amam as crianças, enquanto na verdade o amor seria o cuidado”, atentou.

Rosely, que organizou o livro e escreveu o capítulo “Filhos, melhor não tê-los?”, apontou que essa postura da família advém de uma distorção da sociedade sobre o que é tornar-se pai e mãe. “Virou parte um sonho de consumo”. A ideia conversa com a visão de Yves de La Taille, autor de “A mudança e a cultura do tédio”: “Eu brinco que escrevi a faixa-bônus do livro, porque meu texto não relaciona diretamente família e educação. Ele é sobre o fato de a felicidade ter se transformado em uma obrigação. Hoje tudo precisa ser divertido e, se nada é divertido, a vida fica pesada, sem sentido, e o resultado é essa cultura do tédio”, explicou.

Família e educação: quatro olhares, de Julio Groppa Aquino, Rosely Sayão, Sérgio Rizzo e Yves de La Taille (Editora Papirus, R$ 39,50)


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