NOTÍCIA

Ensino Superior

5 olhares sobre o ensino superior

Veja o que especialistas de diferentes áreas pensam sobre o futuro do ensino superior e esteja pronto para absorver as possíveis mudanças Em nome da ampliação do acesso Uma das marcas de Anna Penido é o engajamento com políticas pela educação. Após concluir as especializações em […]

Publicado em 21/06/2013

por Ensino Superior

Veja o que especialistas de diferentes áreas pensam sobre o futuro do ensino superior e esteja pronto para absorver as possíveis mudanças
Em nome da ampliação do acesso
Uma das marcas de Anna Penido é o engajamento com políticas pela educação. Após concluir as especializações em Direitos Humanos e Gestão Social pelo Desenvolvimento, a jornalista fundou a ONG Cipó, foi coordenadora do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em alguns estados do Brasil e atualmente é diretora do Inspirare, instituto que tem como missão fomentar iniciativas para melhorar a qualidade da educação no país. Entusiasta das novas tecnologias, ela acredita que com novas ferramentas o acesso ao ensino superior poderá ser mais democrático.
Inovação no ensino: De modo geral, a tecnologia será responsável por ampliar o acesso. Irá personalizar a educação e permitir que os alunos foquem o que é mais interessante, respeitando o ritmo e as características de cada um. A partir de uma orientação curricular, o aluno poderá escolher os cursos que quiser fazer do jeito que achar melhor. A grande oportunidade são os Moocs. Uma das vantagens para as instituições será a divulgação da qualidade do que oferecem. Além disso, hoje as universidades têm de dar conta de tudo. Se fizerem parcerias, vão otimizar o que já existe.
Inovação no Brasil: Existem países que investem mais no desenvolvimento de novas tecnologias. Mas cada vez é mais curto o tempo de a tecnologia se globalizar. Acredito que o Brasil não está tão atrás. Mas não podemos ser só um reprodutor. Temos de nos preparar para ser um produtor de novas tecnologias.
Novas tecnologias: Essa é a época dos suportes móveis. Ainda estamos na linha do computador tradicional, migrando para o notebook. Mas certamente os tablets, os celulares e os aplicativos vão entrar com força. É bem interessante ver como os novos negócios em educação estão muito focados na oferta de plataformas, aplicativos e jogos simulados. Tenho visto em muitos cursos superiores profissionalizantes o quanto esses games estão ganhando um papel importante. Na Faculdade de Hotelaria do Senac, os alunos utilizam um jogo em que administram um hotel. Também vi na Universidade Stanford um grupo desenvolvendo um laboratório virtual. Esse ambiente poderá ser utilizado inclusive por alunos de instituições que não têm condição de construir um laboratório de ponta para pesquisas.
Modelo de educação: A linha será o que se chama de ensino híbrido. Algumas atividades poderão ser feitas virtualmente. Os encontros presenciais serão reservados ao debate. Mesmo as universidades que se propõem a ser totalmente on-line vão pensar em formas de criar momentos presenciais, que inclusive podem ocorrer em diferentes lugares. Uma universidade poderá ter alunos em diversos países num mesmo ambiente virtual. De tempo em tempo, poderá ter um encontro presencial em cada um desses locais. Isso exigirá uma quebra de paradigmas.
Professor do futuro: Acho que o novo formato de educação traz ainda mais nobreza ao papel do professor. De transmissor do conteúdo, passa a ser um mediador da aprendizagem, um tutor. Isso exigirá, obviamente, um novo posicionamento, mas nada tão dramático, especialmente para aqueles que já têm essa atitude.
Apenas mais uma ferramenta
José Goldemberg é um dos nomes mais respeitados da área de ciência, pesquisa e tecnologia do Brasil. Teve a maior parte da sua vida acadêmica ligada à Universidade de São Paulo (USP), onde se formou em física, pós-doutor e chegou ao cargo de reitor da instituição. Foi ministro da Educação e lecionou nas universidades de Paris, Princeton, Stanford e Toronto. Aos 85 anos, o pesquisador de fala direta e franca se revela um cético referente à reinvenção do papel da universidade. Para ele, a utilização da tecnologia é apenas uma ferramenta complementar ao ambiente de sala de aula e os cursos livres são uma experiência que não deve substituir o atual formato de educação superior.
Papel da universidade: Na verdade, não vejo grandes modificações no atual formato de educação. A única coisa que reparo é na educação a distância. Acho que isso não é nenhuma revolução, mas sim um instrumento adicional que precisa ser utilizado com muito cuidado para não se tornar uma fábrica de diplomas por correspondência.
Cursos livres e gratuitos: Há cerca de um mês, houve uma reunião com alguns pró-reitores da USP que fizeram uma discussão sobre esse assunto. A ideia era oferecer cursos como em um formato de buffet. Você escolhe o que quiser, pesa e paga pela quantidade que pegou. Seria isso. Teria um catálogo de coisas. Tem muitas universidades americanas que fazem isso – vemos no cinema também. Mas é como um buffet. Isso não está acontecendo no Brasil em grande escala. Em cursos mais tradicionais, como medicina e nas engenharias, não se tem tanta escolha. Onde foi feito uma experiência importante foi na Universidade Federal do ABC. O reitor Luiz Bevilacqua é um grande entusiasta. Já eu sou da escola mais antiga, mais conservadora. Acho que os cursos livres só vão ter efeito nas margens. Se quiser ser engenheiro, tem de fazer disciplinas fundamentais. Você não escapa de um miolo duro. Acho que essa ideia de “menu” não tem um efeito que vai alterar a estrutura da universidade. Vai ser complementar. Não vejo isso como uma revolução.
Avanço das tecnologias: São Paulo não tem somente a USP, Unesp e Unicamp entre as universidades estaduais. Tem uma quarta. Está sendo criada uma universidade virtual (Univesp). Ela já dá muitos cursos por meio de uma TV educativa, cursos a distância. Mas entre os cursos que mais funcionaram, a maior parte tinha momentos presenciais e não só pela televisão. Já a computação é muito usada aqui na USP. Não se vê mais um professor que escreva no quadro-negro com giz. Ele leva o seu computador e conecta na internet. Agora, quando se dá uma aula, se leva um monte de links com detalhes do conteúdo. A grande maioria dos alunos tem seu próprio computador. Mas ainda não vejo isso como algo muito inovador no sistema de educação.
Certificação: Ver a universidade como apenas uma certificadora de diplomas é uma ideia ruim. Se você quer uma elite capaz de conduzir o país, formar médicos competentes, em primeiro lugar se precisa ensinar o básico. Sobretudo nas universidades públicas, que têm muita competição. Então realmente se precisa ter uma certa estrutura para dar formação básica fundamental aos alunos.
Um lugar para todos
Maurício Garcia tem ampla vivência no setor acadêmico. Após concluir sua formação em medicina veterinária pela USP, assumiu cargos relevantes como de vice-reitor da Universidade Anhembi Morumbi, e teve passagens como avaliador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e membro da Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior (Conaes). Com uma visão centrada sobre futuro das instituições de ensino superior, Garcia acredita que as grandes mudanças dependerão principalmente do posicionamento do governo federal. Atualmente, no cargo de vice-presidente de Planejamento e Ensino do Grupo Devry Brasil, ele percebe a passos lentos a chamada revolução do ensino superior e acredita que o atual sistema de sala de aula presencial ainda irá perdurar por um bom tempo.
Papel da universidade: Sempre haverá espaço para todos os dois tipos de instituições. Haverá instituições com vocação mais humanística, com cursos de natureza mais reflexiva e haverá instituições com vocação mais profissional, com cursos de natureza mais focada. Não acredito que haverá um predomínio de um determinado tipo sobre o outro. Além disso, a regulamentação de determinadas profissões, como medicina, direito e engenharia, vai continuar. Não acredito que um dia esses cursos venham a ser “livres” e o diploma venha a ser dispensado.
O efeito dos Moocs: A chave dessa resposta está na regulação. Ou seja, enquanto a regulação governamental não permitir que classes tenham centenas de alunos, os Moocs ficarão restritos a cursos livres e pouco efeito vão provocar no setor. Além disso, há a questão do prestígio das marcas. As instituições mais tradicionais, mesmo as que já oferecem Moocs, como Stanford, não querem que todo mundo possa ter um diploma seu e, com isso, perder o prestígio da exclusividade. Então os Moocs estão limitados a cursos livres, que não levam a um diploma, pois hoje você pode fazer um curso de Stanford, por exemplo, via Coursera, mas não pode ter um diploma de direito da instituição. Ou seja, Stanford permite que você seja aluno de um curso livre, mas não lhe dá um diploma de um curso tradicional. É como se fosse um clube que você é convidado para visitar, mas somente pelo lado de fora.
Formato remunerado: Já há casos, como a University of People, que não cobram pelas aulas, os alunos pagam apenas as provas. Iniciativas desse tipo poderão dar margem a uma divisão de papéis, onde um grupo de instituições “dá as aulas” e outro grupo “faz as provas”. As primeiras seriam “preparatórias” e as segundas seriam as “certificadoras”. Isso já existe em cursos livres, como é o caso do Toefl e da Cisco. São casos em que determinadas instituições cobram pela preparação para o exame e outras cobram pelo exame em si. Mas, novamente, tudo depende de como a regulação governamental vai proceder de forma a flexibilizar o formato atual.
Ritmo de inovação: De tudo que tem surgido, o que mais tem me impressionado são as plataformas de aprendizagem adaptativa, que permitem que cada aluno tenha seu percurso individualizado. Ou seja, o conceito de uma turma homogênea deixa de existir, cada aluno tem a possibilidade de seguir seu próprio ritmo e o ambiente virtual o conduz conforme seu estilo de aprendizagem e suas necessidades cognitivas.
Sala tradicional: Não creio que o formato de sala de aula esteja realmente ultrapassado. Podemos não gostar dele, mas ainda não surgiu algo que possa substituí-lo em ampla escala. Existem projetos pilotos e iniciativas isoladas. Mas a grande maioria dos alunos continua assistindo aula em salas tradicionais. Não me refiro ao caso da educação a distância, essa sim deve mudar muito. Refiro-me aos cursos presenciais, onde a sala de aula continua seguindo firme e forte.
Fator de estímulo
Oscar Hipólito consolidou sua carreira profissional na área de pesquisa e inovação. Ph.D. em física, o professor publicou centenas de trabalhos científicos em revistas especializadas e teve importantes passagens por órgãos de fomento ligados à educação como Fapesp, CNPq e Capes. Considerado um dos principais nomes da pesquisa no país, Hipólito assumiu recentemente o cargo de reitor da Universidade Anhembi Morumbi. Para ele, o futuro da educação superior está intimamente ligado à utilização de novas tecnologias e à adoção de uma metodologia que incentive permanentemente o aluno. Hipólito acredita ainda que o espaço físico das instituições de ensino superior será mantido e que não haverá mais distinção entre aulas a distância e presenciais.
Papel tecnológico: De fato, estamos passando por um momento ímpar e é claro que isso se deve muito à tecnologia, mídias sociais e facilidades de comunicação. Hoje, as pessoas ficam sabendo em tempo real qualquer coisa que acontece no mundo. Antigamente o conhecimento estava restrito às instituições de ensino, principalmente na cabeça do professor. Hoje está muito mais diversificado. Sabemos que as pessoas aprendem mais fora da sala de aula do que dentro. Quer dizer que a metodologia do futuro precisa se adaptar a essa realidade e às novas tecnologias. Toda vez que ocorre um avanço tecnológico se questiona se ele irá substituir o papel do professor e da escola. Isso nunca aconteceu desde a invenção do livro. Colocar uma aula na internet é complementar, mas não o suficiente. O que pode dar força será colocar tudo junto: som, imagem, vídeos tudo no mesmo local. Isso pode ser um grande avanço como metodologia de ensino.
Educação aberta: Acho que será uma atividade complementar. Não acredito que uma universidade vai viver de cursos livres. A universidade não é uma instituição exclusivamente de educação. Além disso, os Moocs não são uma novidade quando se trata de ensino. A única diferença é a mídia utilizada, a internet com alta velocidade. O que se tem são aulas filmadas e disponibilizadas na internet.
Futuro da tecnologia: Dispositivos digitais em uma só tecnologia vão mudar o panorama de ensino. A metodologia será desenvolvida para que o aluno com um iPod na mão tenha todo o conteúdo para desenvolver a sua aprendizagem em tempo real. Os dispositivos eletrônicos permitirão uma maior interação, marcação de textos, links com informações adicionais. Mas para isso será preciso trabalhar uma nova metodologia e especialmente incentivar o aluno.
O papel do professor: A atual postura do professor já é diferente da de 10 anos atrás. Deixou de ser um mero conteudista e passou a trabalhar mais em uma metodologia de ensino que motiva o aluno ao aprendizado. Ele é mais focado no planejamento de aula, mais motivacional e desafiador ao aluno. Com as tecnologias digitais esse professor será mais um orientador para o aprendizado, muito próximo do atual papel do orientador de um trabalho científico.
Novo formato: Hoje a gente tem dois tipos de ensino, o presencial, em que os estudantes vão para o ambiente físico, e o a distância, em que se pode cursar as mesmas disciplinas por meio de diferentes mídias. O futuro do ensino não terá essa divisão. O aluno vai poder escolher fazer algumas disciplinas a distância e outras de forma presencial. Nos cursos que requerem laboratórios físicos será feito presencial. Nos mais teóricos ele vai poder escolher entre on-line ou sala de aula. Já a metodologia para cada um será diferente. As duas vão usar toda tecnologia disponibilizada. Acredito que vamos ter um ensino híbrido. Lá na frente ninguém mais vai falar se o curso é a distância ou presencial. A escolha vai depender da disponibilidade do aluno.
Mudanças dependem de lideranças
por Melissa Becker, de Birmingham (Inglaterra)
Futurologista em tempo integral, o britânico Ian Pearson, da empresa Futurizon, acredita que a universidade do amanhã será transformada pela tecnologia e pela necessidade de especialização e interdisciplinaridade do mundo. Mas ele não aposta em mudanças apocalípticas na forma como o ensino superior é concebido hoje. Para ele, cursos on-line abertos e massivos irão conviver com universidades tradicionais, mas não tirar seus alunos. Mesmo assim, gestores terão de estar preparados para liderar mudanças. Com uma formação nas áreas de matemática aplicada e física teórica, Pearson identifica novidades que surgirão devido à tecnologia e sua rápida transformação em diversos setores, com base em evidências.
Tradição x inovação: Apesar de as informações estarem se tornando cada vez mais on-line – algumas universidades fizeram o upload de cursos inteiros –, não vejo uma real competição com as universidades tradicionais. No Reino Unido, temos a chamada Universidade Aberta (Open University), com cursos que as pessoas podem fazer de casa, equilibrando com o trabalho e a família. É popular, mas não está tirando o negócio das universidades existentes. Outra tendência é assistir a aulas ou simpósios via web. Acredito que tudo isso irá continuar, mas não vejo muitas mudanças, mesmo baseado nas evidências.
Cursos massivos: Acredito que os Moocs vão conviver ao lado dos cursos existentes. Cursos on-line oferecem um jeito fácil de ter uma nova direção em um assunto. Onde não se tem acesso à universidade, é um benefício; mas onde há, não oferece muitas vantagens, exceto em ter acesso a novos conteúdos. Os Moocs não trarão grandes mudanças às universidades tradicionais.
Fragmentação dos cursos: A demanda por conhecimento está aumentando, o que significa assuntos mais especializados a cada ano. Em áreas como engenharia, medicina ou ciência, certamente veremos mais cursos, porque haverá mais especialidade. O Brasil está crescendo rápido, e isso significa que precisa oferecer cursos em todos os assuntos, não pode continuar apenas com os básicos. O país tem alcançado um bom nível econômico, e agora precisa alcançar um bom nível na educação dos jovens para a próxima geração da economia. Do contrário, o Brasil vai ficar para trás de novo.
Preparação para o futuro: A chave é olhar para o que o mercado demanda globalmente. Universidades devem treinar alunos para tirar o máximo dessas áreas em crescimento e oferecer os cursos certos. Começamos a ver cursos tradicionais se sobrepondo. Com o desenvolvimento em áreas como biotecnologia, não é suficiente entender apenas biologia. Deve-se entender física, matemática e química também. A maior parte do crescimento global nos próximos 15 ou 20 anos virá das tecnologias convergentes – nanotecnologia, biotecnologia, tecnologia da informação e tecnologias cognitivas. Por isso, é importante que universidades de qualquer país tenham cursos interdisciplinares. Isso vale ainda mais para países emergentes como o Brasil. Regiões em desenvolvimento precisam fazer isso com maior entusiasmo do que as outras.
Questão de gestão: Provavelmente, a maior mudança para os gestores será o funcionamento interdisciplinar. É desafiador, porque estruturas administrativas tradicionais são focadas nos campos tradicionais. O que não se vê comumente é esses gestores trabalhando entre si, de forma construtiva, para formar um novo tipo de departamento, que encoraje a interdisciplinaridade. Deve-se dispor de prédios com o layout certo: se você quer que o pessoal da física fale com o pessoal da química, é importante que tenham proximidade.Requer liderança, motivação e habilidades administrativas. Não acredito que aconteça automaticamente. É algo em que as universidades terão de tomar decisões e políticas deliberadas. Não vai acontecer por si mesmo.

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