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A educação nos jornais

Seminário que reuniu jornalistas e educadores para discutir a abordagem de educação pela imprensa aponta que a prioridade dada ao tema pelos veículos varia entre países da América Latina e que para qualificar a cobertura dessa área é preciso aproximá-la dos estudantes de comunicação

Publicado em 13/09/2013

por Deborah Ouchana

Desde a década de 1990, temas relacionados à educação passaram a ser abordados com mais frequência pela imprensa. Esse crescimento está relacionado, principalmente, à criação de um sistema de avaliação e de indicadores de qualidade educacional, somados à universalização do ensino fundamental e a um maior interesse social pela área. Apesar de a presença de matérias sobre educação ter aumentado nos últimos 20 anos, o tema ainda está longe de ser tratado como prioridade pela grande imprensa. A qualidade da cobertura preocupa educadores e, cada vez mais, se faz necessário que essa discussão chegue também ao meio jornalístico.

Essas e outras questões foram temas do I Seminário Internacional de Educação, Jornalismo e Comunicação, organizado pelo Instituto Internacional de Ciências Sociais (IICS) e pelas revistas Educação e Negócios da Comunicação, da Editora Segmento, nos dias 9 e 10 de setembro.  O evento contou com a presença de jornalistas de veículos de imprensa brasileiros, além de profissionais que trabalham em jornais de Chile, Argentina e Paraguai.

Dulcília Buitoni, jornalista e professora do programa de mestrado Comunicação na Contemporaneidade da Faculdade Cásper Líbero, abriu o evento questionando os presentes: por que a educação não é uma editoria importante nos jornais e revistas brasileiros? “Não dá para escrevermos sobre educação se nem ao menos sabemos que tipo de educação nós queremos”, afirmou. Na análise da professora, a cobertura da área ainda é acrítica. Ela avalia que o ensino superior recebe mais atenção dos meios de comunicação, pois há um interesse mercadológico por trás, mas não se discute, por exemplo, a quantidade de vagas oferecidas, nem questões relacionadas à infraestrutura das instituições.

Já as notícias sobre o ensino fundamental e o ensino médio são episódicas, baseadas em acontecimentos como violência na escola. “Alguns episódios geram grande repercussão, mas morrem naquilo. O bullying é o assunto da moda, mas talvez seja menos importante do que a discussão sobre a alfabetização”, opina.

Em relação à educação infantil, a professora acredita que a cobertura é quase inexistente. “Quando se fala em creche, a abordagem é numérica. Não se discute a pedagogia e prevalece uma visão higiênica e nutricional”, afirma. “A criança precisa estar limpa e bem alimentada, mas onde fica o brincar, a arte e a cultura?”, questiona.

AMÉRICA LATINA
O primeiro painel, “Cobertura jornalística e linhas editoriais sobre educação na América Latina”, contou com a participação de Ricardo Braginski, editor do suplemento de educação do jornal argentino Clarín, Antonio Góis, jornalista de O Globo, e Elizabeth Simonsen, do chileno La Tercera.

Braginski falou sobre a criação do suplemento de educação do Clarín, em março de 2001. O novo caderno se comprometia a mudar a cobertura de temas educacionais, definindo uma linha editorial que tivesse o professor como protagonista. Além disso, o jornalista ressaltou outros três pontos importantes que guiam a cobertura: fazer um jornalismo de serviço; dar ênfase à apresentação das matérias, trazendo imagens e ilustrações inovadoras; trazer um olhar positivo sobre a escola, buscando boas experiências e fontes que procuram soluções para os problemas educacionais.

Se na Argentina o diário optou por traçar objetivos para melhorar a qualidade da cobertura educacional, na opinião de Antonio Góis, do carioca O Globo, o mesmo não acontece no Brasil. “Não acho que a grande imprensa tem uma linha editorial de educação. Isso depende muito do editor ou do repórter de plantão e dificilmente somos chamados para discutir como será feita a cobertura”, disse. O jornalista ressaltou ainda que é preciso achar caminhos para qualificar a cobertura de educação e destacou a dificuldade de disputar espaço com outras editorias, além do desafio de atrair o leitor não especializado.

Já no Chile, a jornalista Elizabeth Simonsen acredita que a educação é uma prioridade nacional, inclusive nos meios de comunicação.  Ela fez parte da equipe que criou, em 2006, o suplemento de educação do jornal La Tercera. Hoje, por causa da crise dos veículos impressos, a educação foi integrada à editoria nacional, disputando espaço com matérias sobre política, por exemplo. “Isso se traduz na redução de páginas dedicadas à educação, mas não quer dizer necessariamente que o assunto perdeu relevância. Por semana, temos pelo menos uma chamada de capa sobre educação”, lembrou.

FORMAÇÃO
Durante o segundo painel do dia, “Comunicação, educação e tecnologia”, o jornalista, crítico de cinema e colunista de Educação, Sérgio Rizzo, contou que durante toda sua vida acadêmica como professor em cursos de jornalismo, nenhum aluno manifestou para ele a vontade de se especializar na cobertura de educação. “Alunos de jornalismo têm dificuldade em vislumbrar uma carreira na cobertura de educação, porque ela é relegada nas grandes redações”, afirmou.  Como forma de aproximação dos estudantes com o tema, o jornalista sugeriu que faculdades e veículos de comunicação organizassem concursos e oficinas para os estudantes.

Rizzo, que já foi editor de Educação, também afirmou que a imprensa é distante da realidade escolar. “A cobertura de educação não pode ser feita por repórteres que ficam presos na redação o dia todo”, defendeu.  Em sua opinião, o padrão de funcionamento do jornalismo não se aplica ao mundo da educação e a objetividade que se busca para falar sobre economia, por exemplo, não se aplica à área educacional. “Por isso conseguimos entender o fetichismo da mídia por avaliações, indicadores e rankings”, acrescentou.

ECONOMIA E ESTATÍSTICA
Natalia Daporta, jornalista do paraguaio ABC Color, e Luciano Máximo, do Valor Econômico, trouxeram o olhar econômico e estatístico na educação para o centro do debate. A repórter paraguaia argumentou que se já é difícil o jornalista se especializar na cobertura de educação, relacioná-la com a economia é um desafio ainda maior. “Mas quase todas as variáveis econômicas têm influência direta ou indireta na qualidade educacional”, afirmou.

Natalia ressaltou que não basta analisar pesquisas ou dados estatísticos; o jornalista deve ir a campo conhecer a realidade educacional. “Como vou escrever sobre educação se nunca piso na escola? De onde vou tirar os dados?”, questionou. Luciano Máximo também destacou pontos que ele considera importantes o jornalista seguir: questionar criticamente as metodologias e abordagens técnicas de pesquisadores, economistas e governos; buscar comparar dados de diferentes períodos e regiões, além de fazer o cruzamento com outros setores; traduzir estatística para ilustrar a realidade social.

DIREITO À EDUCAÇÃO
“A partir do direito, o jornalismo pode definir pautas prioritárias da educação”, defendeu o advogado e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor) Antonio Jorge Pereira Junior, durante o painel “Direito e judicialização da educação na cobertura jornalística”. Como muito foi discutido durante o seminário, o advogado também apontou que os veículos não têm uma linha editorial definida de educação. Apesar das diferentes perspectivas e opiniões sobre o tema, muitos pontos já estão definidos por lei e, por isso, Pereira acredita que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a própria Constituição podem dar ao jornalista um norte na cobertura educacional.

Na opinião de Carlos Roberto Jamil Cury, professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), a judicialização da educação sofre hoje uma tensão muito grande, que passa pela obrigatoriedade escolar. “A obrigatoriedade escolar é difícil de ser sintetizada porque é, ao mesmo tempo, direito e dever.” O professor acrescentou, ainda, que a educação não pode ser vista apenas do ponto de vista de um setor administrativo.

Já o jornalista Paulo Saldaña, do jornal O Estado de S. Paulo, afirmou que o tema direito à educação tem ganhado espaço na mídia. Ele fez um levantamento no acervo digital do jornal e descobriu que a palavra ‘educação’ aparece mais de 251 mil vezes. No entanto, o jornalista acredita que justiça e direito pautam muito mais a mídia do que temas próprios da educação.  Em época de eleições, por exemplo, é recorrente falar sobre o número de vagas em creche. Outro tema educacional que gerou demandas judiciais foi o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), quando diversos estudantes entraram na justiça para ter acesso à correção das redações.

Autor

Deborah Ouchana


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