NOTÍCIA

Ensino Superior

A base da evolução

Instituições investem em empreendedorismo e inovação com a participação em parques tecnológicos para estabelecer um diferencial no ensino e criar novas oportunidades por Cristina Morgato Berço de ideias inovadoras, habitado por uma grande parcela de jovens disposta a “mudar o mundo”, ou pelo menos a […]

Publicado em 18/09/2013

por Ensino Superior

Instituições investem em empreendedorismo e inovação com a participação em parques tecnológicos para estabelecer um diferencial no ensino e criar novas oportunidades
por Cristina Morgato
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Berço de ideias inovadoras, habitado por uma grande parcela de jovens disposta a “mudar o mundo”, ou pelo menos a sua conta bancária, os campi universitários são locais especialmente favoráveis ao empreendedorismo e à criação de novos negócios. Assim, além da responsabilidade pela produção e transmissão do conhecimento, as instituições de ensinos superior se constituem cada vez mais em ambientes de apoio e fomento para o desenvolvimento da inovação.
Para o sucesso nesse ambiente, porém, é preciso oferecer também infraestrutura adequada e suporte gerencial para que os novos empreendedores, além de apoio acadêmico, sejam orientados quanto à gestão do negócio, competitividade, entre outras questões essenciais ao sucesso de uma empresa. É aí que entram as incubadoras e parques tecnológicos, que, vinculados às instituições de ensino, ajudam a gestar e gerir novas oportunidades de negócios, enriquecendo ainda a experiência acadêmica.
De acordo com estudo da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), realizado em parceria com o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o Brasil tinha, em 2011, 384 incubadoras em operação, que abrigavam 2.640 empresas, gerando 16.394 postos de trabalho. Essas incubadoras foram responsáveis pela geração bem-sucedida de 2.509 empreendimentos que, juntos, faturam mais de R$ 4 bilhões e empregam mais de 29 mil pessoas.
A Anprotec atua há 25 anos junto a incubadoras de empresas, parques tecnológicos, instituições de ensino e pesquisa, órgãos públicos e outras entidades ligadas ao empreendedorismo e à inovação. O meio encontrado pela associação para estimular a atividade no país foi a promoção de atividades de capacitação, articulação de políticas públicas, geração e disseminação de conhecimentos.
Outro estudo, intitulado Global Entrepreneurship Monitor (GEM), feito pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em parceria com o Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP), aponta que em 2011 o Brasil possuía 27 milhões de pessoas envolvidas ou em processo de criação de um negócio próprio. Em números absolutos, o país alcançava o terceiro lugar no ranking de 54 países analisados pela pesquisa. E as pessoas que decidem em­preender optam por isso muito mais por oportunidade do que por necessidade – a estimativa é de que, para cada empresa aberta por necessidade, 2,24 iniciam pela identificação de uma oportunidade de negócio.
“Nosso país está se tornando um celeiro de startups – novas e inovadoras empresas – que se destacam em todos os campos. Centenas de ideias criativas são registradas diariamente em todo o Brasil. A inovação é a responsável por esse número e, para o empreendedor, é o fator fundamental para conquistar mercados e negócios”, explica Nei Grando, organizador do livro Empreendedorismo inovador, publicado pe­la Editora Évora, e consultor de negócios. Segundo ele, além do surgimento de programas do governo de apoio à tecnologia, inovação e startups, há diversos meios incentivando a criação dessas empresas, como investidores que avaliam e fornecem mentoria aos interessados, redes de relacionamento com o mercado, e, claro, as universidades, que vêm investindo em empresas-júnior, cursos de educação em empreendedorismo, e outras iniciativas de incentivo e capacitação.
Habitats de inovação
As incubadoras de empresas são consideradas, assim, “habitats de inovação”, locais apropriados para oferecer apoio administrativo e assistência tecnológica às micro e pequenas empresas inovadoras de todos os setores da economia brasileira. Ao lado delas estão os parques tecnológicos, cujo objetivo é constituir um complexo produtivo industrial e de serviços de base científico-tecnológica, ou seja, empresas cuja produção se baseia em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Os parques atuam, portanto, como promotores da cultura da inovação, da competitividade e da capacitação empresarial, fundamentados na transferência de conhecimento e tecnologia, com o objetivo de incrementar a produção de riqueza de uma determinada região.
Os dados apurados no estudo da Anprotec e MCTI, no âmbito do Programa Nacional de Apoio às Incubadoras de Empresas e Parques Tecnológicos (PNI), apontam que o movimento das incubadoras de empresas no Brasil encontra-se entre os maiores do mundo, e já pode ser considerado maduro e em sintonia com os melhores padrões internacionais. Como a atuação é descentralizada, cabe aos governos federal, estadual e municipal a função orientadora e de reconhecimento das incubadoras e dos parques tecnológicos como mecanismos de apoio à inovação e ao desenvolvimento local e regional, impulsionando o crescimento da economia e a geração de empregos.
Nesse contexto, algumas instituições de ensino superior públicas acabam saindo na frente, por contar com apoio do governo e linhas de financiamento disponíveis. É o caso da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que inaugurou recentemente a primeira parte da infraestrutura de seu Parque Científico e Tecnológico. A área já conta com ruas, calçadas, quadras e estacionamentos definidos no espaço de 100 mil m2 destinados a abrigar os laboratórios de cooperação universidade-empresa. Com gestão da Agência de Inovação Inova Unicamp, a iniciativa foi realizada com o apoio do Sistema Paulista de Parques Tecnológicos (SPTec) – sistema do governo no Estado de São Paulo que dá apoio e suporte aos parques tecnológicos. O objetivo é atrair investimentos e gerar novas empresas intensivas em conhecimento ou de base tecnológica, que promovam o desenvolvimento econômico do Estado.
De acordo com o professor Roberto Lotufo, diretor executivo da Inova, o objetivo do parque é ampliar de forma sustentável a interação da universidade com os demais atores do sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação, por meio da criação de ambientes que estimulem a pesquisa colaborativa e multidisciplinar com organizações públicas e privadas. “O espaço visa ampliar as oportunidades de formação dos alunos da Unicamp, bem como valorizar e ampliar o fomento e as linhas de apoio à pesquisa”, explica. O diretor conta que o parque já atraiu mais de R$ 30 milhões, tendo a universidade investido 44% deste valor. “Este é um projeto de longo prazo”, ressalta Lotufo.
Segundo a SPTec, em todo o Estado de São Paulo, existem 27 iniciativas para implantação de empreendimentos como esse. Para fazer parte do SPTec, a prefeitura ou a entidade gestora do parque tecnológico deve encaminhar um ofício à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo solicitando sua inclusão no Sistema Paulista de Parques Tecnológicos. Após a aprovação dos documentos, o credenciamento será efetuado por meio de uma resolução válida por dois anos.
Setor privado em ação
Mas iniciativas desse tipo não são privilégio das universidades públicas. Diversas instituições de ensino privadas também estão atentas ao seu papel como centro de formação de pessoas e de produção de conhecimento, contribuindo para o desenvolvimento das regiões em que estão instaladas. É o caso do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal), que uniu forças com a Escola de Engenharia da USP (campus de Lorena) com o objetivo de colaborar com a formação de profissionais qualificados na região metropolitana do Vale do Paraíba, em São Paulo. Juntas, as instituições de ensino irão cooperar no intercâmbio de tecnologia, nos laboratórios e no relacionamento com as empresas.
Segundo Fabio José Garcia dos Reis, diretor de operações do Unisal, há uma saturação em grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro, e esse momento econômico tem favorecido cidades como Lorena como uma saída natural para o desenvolvimento. “Por se tratar de um município desfavorecido, tanto em riqueza como em indicadores sociais, a região é alvo de políticas públicas e privadas de fomento e investimento, com base no Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS), e aí entram a responsabilidade do Unisal e sua essência salesiana”, explica o diretor. Ele cita o exemplo da cidade de São Carlos, que conseguiu uma transformação social por meio da educação. Com 80 mil habitantes, Lorena estaria no mesmo caminho de tornar-se uma cidade universitária, com a previsão de 15 mil alunos no ensino superior em 2015.
A criação do polo tecnológico em Lorena envolveu diversas etapas, começando por um amplo benchmarking por iniciativas de sucesso no exterior. “Professores e diretores do Unisal visitaram instituições de ensino de destaque nos Estados Unidos, como o MIT, Harvard, Stanford, Babson College, entre outras. Visitamos também a Espanha e a Inglaterra, para buscar as melhores referências mundiais em tecnologia e inovação”, conta Reis, que também incluiu na incursão em busca das melhores práticas a visita a centros de empreendedorismo brasileiros (como os da FGV, Ibmec, Insper, Senac e ESPM).
Só em viagens e estudos, foram investidos em torno de R$ 120 mil. Outras etapas do projeto incluíram pesquisas de mercado, a criação de um conselho formado por 15 pessoas da comunidade externa (entre executivos, políticos, educadores, ambientalistas e religiosos), a implantação de novos cursos na área de engenharia e de tecnologia e, por fim, a criação do Centro de Empreendedorismo e Inovação. O resultado físico de todo o esforço poderá ser visto em janeiro de 2014, quando será inaugurado um novo prédio equipado com laboratórios de ponta, mas a instituição já contabiliza outros frutos do investimento. Em 2012, o Unisal Lorena cresceu 29% em número de matrículas. Ao final de 2013, a estimativa é de um crescimento em torno de 23%. “Nossa unidade começa a atrair estudantes de São José dos Campos, Jacareí, Taubaté, Itajubá, Volta Redonda, Resende, entre outras cidades (hoje temos estudantes de 34 cidades)”, comemora o diretor.
O investimento em tecnologia também trouxe ao Unisal novos relacionamentos com empresas e com outras instituições públicas e privadas. E, entre os projetos futuros, a instituição já visualiza a criação de uma incubadora de empresas, em um modelo que envolva a prefeitura de Lorena, o Sebrae e outras instituições de ensino presentes na região. “Também já iniciamos um processo de aproximação com as escolas de ensino médio, com a realização de atividades que envolvem tecnologia. O objetivo é incentivar a cultura de inovação desde cedo”, indica Fábio Reis.
Entre as dificuldades encontradas para viabilizar o polo tecnológico na região, o diretor aponta principalmente as resistências culturais. “O modelo de ensino e a concepção dos laboratórios devem ser diferentes, por isso a consolidação do polo de tecnologia exigiu um investimento inicial – só em 2012, R$ 10 milhões foram destinados ao projeto”, relata. Outro ponto importante, segundo Reis, foi adaptar o que viram nas universidades visitadas e, ainda, manter-se fiel à identidade institucional, à missão e aos valores do Unisal.
Alternativa institucional
Criado como uma alternativa da Universidade Tiradentes (Unit) para poder concorrer aos editais de Fundos Setoriais do governo federal, o Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP) é considerado um modelo vitorioso que em pouco tempo começou a atrair, além de pesquisadores, novos investimentos, justamente pela possibilidade de ser um centro de referência em pesquisas e inovação no Estado de Sergipe. Para superar as dificuldades financeiras, o ITP criou uma frente de prestação de serviços na área ambiental e o desenvolvimento de produtos para a indústria, o que proporcionou uma parceria com a Petrobras e a entrada de novos recursos.
“Foi uma forma de o instituto ganhar autonomia, inclusive para melhorar ainda mais a sua estrutura”, explica Jouberto Uchôa de Mendonça Júnior, superintendente-geral do Grupo Tiradentes. Segundo ele, mais R$ 11 milhões já foram investidos pela Petrobras em projetos de pesquisa vinculados ao ITP, o que possibilitou ampliar a infraestrutura (veja quadro na página 28). O IPT também conta com outras parcerias: com o CNPq, Banco do Nordeste, Sebrae, Capes, Finep e demais órgãos de fomento à pesquisa e empresas que buscam o instituto para a realização de serviços.
Na opinião de Jouberto, para que o Brasil cresça como polo tecnológico e de inovação, não há outra receita senão o investimento em educação. “E não é só gastar, é gastar bem, investir. Recursos existem, mas não há prioridade para a educação. Para que o aluno se interesse por pesquisa, é preciso ter boas escolas”, assevera o gestor da Unit.

Números do empreendedorismo no Brasil
384 incubadoras
2.640 empresas incubadas
2.509 empresas graduadas (excluindo empresas graduadas que foram adquiridas por outras companhias)
1.124 empresas associadas
16.394 postos de trabalho nas empresas incubadas
29.205 postos de trabalho nas empresas graduadas
R$ 533 milhões em faturamento de empresas incubadas
R$ 4,1 bilhões em faturamento de empresas graduadas

 

Visão inovadora
Com mais de 100 empresas graduadas e cerca de 30 incubadas atualmente, o Parque Científico e Tecnológico (Tecnopuc) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) é um dos mais dinâmicos e premiados do Brasil – com mais de 80 empresas e 5,9 mil pessoas trabalhando no local. Segundo Jorge Luis Audy, pró-reitor de Pesquisa, Inovação e Desenvolvimento da PUCRS, a decisão de investir em empreendedorismo e inovação está relacionada à terceira missão da universidade, avançando em relação às missões básicas de ensino e pesquisa e tornando-se um vetor de desenvolvimento econômico e social na região onde atua. Assim, Audy ainda considera importante formar cidadãos aptos a atuarem como líderes da sociedade do conhecimento, com um perfil empreendedor e inovador. “Nosso objetivo é a aproximação com a sociedade, tanto na identificação dos desafios que o ambiente apresenta como em busca de soluções”, diz. Entre os desafios enfrentados para a implantação da rede de inovação, a maioria tinha relação com a tendência conservadora da academia. Mas as dificuldades para a captação de recursos humanos e financeiros também atrapalharam. Segundo Audy, o papel do governo nos três níveis, municipal, estadual e federal, é fundamental para este processo.

 

Mão na massa
Vinculados à Universidade Tiradentes (Unit), os laboratórios do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), como o Núcleo de Estudos em Sistemas Coloidais (Nuesc), recebem por ano mais de 140 alunos. Alguns com bolsa, outros voluntários, mas todos com interesse em dar continuidade à formação acadêmica. “Temos recebido visitas de diversos profissionais, inclusive do exterior, querendo conhecer o nosso modelo de instituição privada, que mantém um instituto de tecnologia e pesquisa atuante e de referência nacional e internacional”, destaca Jouberto Uchôa de Mendonça Júnior, superintendente-geral do Grupo Tiradentes.

 

Origem da incubação
As incubadoras de empresas no Brasil têm história recente. Elas começaram a ser criadas a partir da década de 1980 com a implantação do primeiro Programa de Parques Tecnológicos, numa iniciativa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O programa, que semeou a noção de empreendedorismo inovador no Brasil, desencadeou o surgimento de um dos maiores sistemas mundiais de incubação de empresas. Diversas incubadoras também se tornaram o embrião de parques tecnológicos em anos recentes, quando o ambiente brasileiro se tornou mais sensível à inovação.

 

Autor

Ensino Superior


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