Imagem: Gustavo Morita
A rima está muito presente na literatura infantil e desperta por si só o interesse desse público pelo verso, sem que seja necessário obrigar as crianças a decorar regras sobre métricas para o aproveitamento do texto. Partindo dessa reflexão, os autores de
O cordel no cotidiano escolar apresentam uma série de conhecimentos históricos e socioculturais sobre esta que é uma das mais importantes manifestações da cultura popular brasileira. Discutem ainda seu aproveitamento em sala de aula para além de um viés pragmático, levando em conta principalmente a variedade de histórias, formas e temas dos folhetos.
É justamente essa a proposta explícita no primeiro capítulo da obra, que faz parte da coleção
Trabalhando com… na escola, da editora Cortez. Para os professores Ana Cristina Marinho, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), e Hélder Pinheiro, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), o cordel pode ser objeto de ensino desde que ressaltados seu humor, sua natureza poética, sua importância social e as fantasias narrativas nele encontradas. Nessa parte, os dois autores contam a história desse gênero por meio dos próprios cordéis, seja em textos integrais ou trechos comentados. Entre eles,
Sertão, folclore e cordel, de José da Costa Leite: “Cordel é folheto em versos / Como Manoel Riachão / Zezinho e Mariquinha / Juvenal e o Dragão / Os aventureiros da Sorte / José de Souza Leão. (…)”. Destacam ainda a relevância das ilustrações em xilogravura para os textos.
Mais à frente, a obra ressalta um tema recorrente nos folhetos: as histórias que versam sobre um tempo mítico no qual os animais falavam. Um exemplo é
No tempo em que os bichos falavam, de José Francisco Borges – ou J. Borges, como é conhecido. Nesse cordel, são retratadas com fantasia e humor as características dos animais e situações tipicamente humanas, como brigas e inveja, são transpostas para o mundo dos bichos. No entanto, diferentemente da fábula, nem sempre há uma “moral da história”, sequer um final, mas, sim, foco nas ações: “O Macaco é bicho esperto / O Jumento trabalhador / O Macaco é mais alegre / O Jumento mais sofredor / O Jumento sofre calado / O Macaco é chiador”.
Além de um vasto glossário sobre artistas de cordel, o volume apresenta sugestões metodológicas para trabalhar o cordel em sala de aula, tais como a leitura em voz alta, os debates sobre folhetos, jogos dramáticos, produção de xilogravuras e pequenos eventos culturais. Uma das possibilidades de trabalho é a adaptação de histórias para esse gênero, como acontece no livro
O jumento e o boi em cordel, de João Bosco Bezerra Bonfim. Nele, o autor reconta um dos primeiros contos de As mil e uma noites: “Num país muito distante, / Um matuto de valor / Trabalhava duro a terra / Da qual ele era senhor, / Junto com esposa e filhos, / Sua roça era um primor”.