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Fórum do ensino superior particular brasileiro evidencia a transformação do setor e debate a busca de alternativas para a sustentabilidade das instituições por Luciene Leszczynski | fotos Gustavo Morita O fim de um mundo não é o fim do mundo. Com esse mote o 16º […]
Publicado em 22/10/2014
Fórum do ensino superior particular brasileiro evidencia a transformação do setor e debate a busca de alternativas para a sustentabilidade das instituições
por Luciene Leszczynski | fotos Gustavo Morita
O fim de um mundo não é o fim do mundo. Com esse mote o 16º Fórum Nacional: Ensino Superior Particular Brasileiro (Fnesp) convidou o grupo de cerca de 600 participantes do evento, formado por gestores, mantenedores, coordenadores e corpo docente de instituições de todas as regiões do Brasil, a encarar o desafio de repensar a educação superior e a refletir sobre a sustentabilidade das organizações educacionais.
Na abertura do Fórum, ocorrido durante os dias 25 e 26 de setembro, no Hotel Renaissance, na capital de São Paulo, o presidente do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp), Hermes Ferreira Figueiredo, ressaltou o momento de mudança do ambiente de ensino superior, constituído hoje, de um lado, por pequenas e médias instituições de ensino que lutam para se manterem a fim de atender às realidades das regiões em que estão inseridas, e de outro, por grandes grupos educacionais. Como exemplo, ele lembrou a existência de um documento de 25 anos atrás, assinado pelas maiores instituições de ensino superior da época. Hoje, a maioria daquelas instituições pertence aos grandes grupos. Nesse sentido, Figueiredo ressaltou o desafio das organizações de hoje em dia e a importância desse espaço de discussão. “Não temos a pretensão de ser o único caminho, mas de buscar alternativas para promoção da sustentabilidade das instituições de ensino superior”, disse.
A transformação cai na rede
Para refletir sobre o papel da inovação para a sustentabilidade das organizações, o evento contou com a palestra do diretor executivo do Twitter para o Desenvolvimento de Mercado para a América Latina, Carlos H. Moreira Jr. Ao traçar um paralelo com a sua trajetória, o executivo provocou os gestores educacionais a encontrarem a força motriz que os move para, a partir disso, investirem seus esforços nessa direção. Moreira Jr. questionou até que ponto o sistema de ensino está preparado para dar conta das necessidades de preparação dos alunos para os dias vindouros. “Qual a oportunidade? Onde está o dinheiro que vai financiar?” Ele recomendou se questionar a fim de encontrar os caminhos que viabilizarão a sustentabilidade do negócio. “Hoje vivemos em um mundo com ausência de barreiras internacionais, fragmentado, onde tudo muda constantemente. A nossa capacidade de adaptação tem de ser urgente, pois a tecnologia é disruptiva, mais rápida do que nossa capacidade de nos adaptar às novas realidades”, disse. Moreira Jr. incentivou ainda incluir o lado emocional na preparação dos estudantes.
No sentido das barreiras da regulação, Moreira Jr. propôs abrir caminho a partir do enfrentamento do status quo, criando uma nova forma de relação com o MEC. Ele sugeriu mostrar aos agentes do processo de regulação as necessidades dessa nova realidade do sistema e da formação profissional. “É preciso se organizar de forma a construir centros de excelência, com condições de mostrar as saídas para essa transformação por que passa a atividade de ensino”, destacou. Para finalizar, Moreira Jr. salientou a importância das plataformas de mídias sociais nesse novo mundo e recomendou o uso efetivo dessas ferramentas. “É preciso assumir o protagonismo e domínio das plataformas sociais, fazendo-as trabalharem junto nessa construção.”
Retrato em construção
Como ser sustentável em um ambiente competitivo e complexo? Para buscar respostas a essa questão, participou do debate o pesquisador e diretor da Cátedra Unesco de Políticas Comparadas de Educação Superior da Universidade Diego Portales do Chile, José Joaquín Brunner, que traçou um panorama dos desafios da atividade que estão postos no momento a partir do cenário em que o ensino superior se insere na América Latina. Para o pesquisador, é preciso considerar a massificação do acesso, que permitiu a entrada de mais estudantes no ensino superior, a fim de repensar a continuidade das organizações.
A grande participação da iniciativa privada também é uma característica do modelo de ensino superior latino-americano, além da atuação forte na formação profissional em detrimento da pesquisa. Segundo Brunner, existem cerca de três mil instituições universitárias na América Latina contra mais de seis mil instituições de ensino superior não universitárias.
Como forma de ruptura desse modelo, o pesquisador sugeriu a redução do período de formação, com um primeiro período de formação mais curto, passando depois às especializações específicas, necessárias à formação, e de forma constante. Por outro lado, defendeu a educação presencial devido à importância do momento de convivência dos jovens no ambiente universitário, entre seus 18 e 28 anos. “É uma experiência que não está em currículo algum, mas extremamente importante para a formação dos jovens”, defendeu Brunner. O pesquisador comentou ainda que existem duas vertentes do caminho para a inovação no ensino superior. Uma delas percebe as universidades que são inovadoras como entidades que já possuem um núcleo muito forte voltado à inovação. A outra mostra que as universidades se tornam inovadoras na medida em que em seu entorno existe esse ânimo, seja vindo do setor produtivo, do governo ou da própria comunidade.
Na terceira onda do ensino
Para pensar alternativas à gestão sustentável das instituições de ensino superior, o vice-presidente acadêmico da DeVry Brasil, Maurício Garcia, buscou contextualizar a trajetória de crescimento do ensino superior brasileiro. Segundo ele, o primeiro drive de expansão ocorreu a partir da ampliação natural da oferta, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) em 1996. “Naquele momento, não havia problema de preenchimento de vagas, pois havia uma demanda reprimida, e a característica dessa primeira onda era a inexistência da concorrência”, lembrou Garcia. A segunda onda começa com a necessidade de a gestão investir no marketing educacional. “A característica da segunda onda é ter de olhar para os custos, porque a concorrência começa a surgir”, comentou. É também o momento em que se dá o pontapé inicial dos grandes grupos.
Já na terceira onda, de acordo com Garcia, a concorrência é mais acirrada e só a questão de controle de custos já não dá mais conta da manutenção da instituição no mercado. Para o gestor, a ampliação do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) foi um fator benéfico para a manutenção do crescimento das instituições na terceira onda; no entanto, ele acredita que não vai ser sempre assim. Uma característica da terceira onda se baseia na diferenciação, o que não significa ter soluções objetivas para destacar a qualidade. “O processo de escolha do aluno é complexo, já que a qualidade percebida é subjetiva”, avisou. Nesse sentido, o surgimento das métricas de avaliação e mais especificamente o Conceito Preliminar de Curso (CPC), em 2010, traz um fato novo em termos de diferenciação. “Aqui não quero entrar no mérito da avaliação e do conceito criado para isso, se está certo ou errado, mas tenho convicção do impacto dele na expansão do ensino”, disse.
Entre outras características que devem ser consideradas para a sustentabilidade da gestão do ensino superior, Garcia lembrou o surgimento de marcas para os cursos abertos massivos on-line (os Moocs) e do ensino adaptativo. Segundo o gestor, tais tecnologias devem contribuir para o fim dos cursos noturnos. Para ele, uma nova vertente em voga, chamada social collaboration, e a participação nas comunidades virtuais de aprendizagem serão o item diferenciador das instituições. Além disso, ele alertou que a entrada dos big players, como Amazon, Google e Apple, no negócio da educação é que deve ser temida como a causa de uma mudança ainda maior no universo educacional.
Para o pró-reitor acadêmico do Centro Universitário Belas Artes, Sidney Ferreira Leite, pensar numa matriz curricular na era da terceira onda do ensino superior envolve diferentes variáveis, tais como novo perfil de alunos, demandas do mercado e o próprio enfrentamento do processo de regulação em curso. Segundo ele, debater sobre os atuais processos de ensino e aprendizagem, que parecem estar em rota de colisão com as novas tecnologias, se constituiria numa discussão infindável, mas alertou para a necessidade desse enfrentamento. “Detectamos a valorização do ensino de graduação e a ênfase nas competências, sempre sob o fogo concêntrico de avaliações, algumas vezes inquisitoriais”, asseverou o pró-reitor em seu discurso. Ele criticou as inúmeras portarias que regulam o sistema, que parecem ser criadas por quem não conhece o dia a dia das instituições, criando mecanismos para barrar a agilidade. De acordo com Leite, a palavra de ordem dos dias de hoje é a traduzida pela expressão da “gestão conectada”.
Segundo o diretor de Planejamento Estratégico do Grupo Kaplan University, dos Estados Unidos, Leonardo B. Gonçalves, a sustentabilidade das instituições está diretamente relacionada à sua capacidade de implementar ações tangíveis e coordenadas que permitam a manutenção nesse mercado. “Independentemente de quantas ondas vierem, a exemplo do mercado americano, a sustentabilidade de uma instituição sempre estará relacionada à capacidade de enfrentamento de quatro fatores na sua gestão: a desacelerac¸a~o do crescimento e ciclos econômicos, o aumento da importância da empregabilidade dos estudantes, o recuo do governo e grupos de defesa do consumidor no suporte ao setor privado de educação e o custo com o recrutamento de novos estudantes.”
Debate aberto e constante
“O que está em discussão aqui ainda vai ser um desafio em que se pensar durante muitos anos”, alertou a diretora do Instituto Inspirare e criadora do programa Porvir, Anna Penido, ao comentar o processo de transformação desse mundo e suas inúmeras variáveis presentes nas novas gerações, incluindo as especificidades de cada aluno e do aprendizado de cada um. Para isso, Anna recomendou pensar a partir das competências necessárias aos jovens de hoje e às próximas gerações. “As pessoas precisam muito mais de mentores que os ajudem a construir seu processo de aprendizado, é a popularização do coach que vemos hoje”, disse. Na opinião da diretora, para serem sustentáveis as instituições precisam incentivar e estimular a busca por esse aprendizado constante e dar suporte para isso.
Nesse sentido, Anna salientou ainda a necessidade de repensar também as formas de avaliação, a fim de dar conta dessa nova realidade. “Cada instituição precisa ter um núcleo de inovação, com a participação de diferentes áreas para contribuir com esse processo e fazer o acompanhamento das mudanças”, sugeriu. Ela provocou uma ruptura com o atual sistema de ensino, que hoje caminha para o modelo conhecido por nano degrees, em que a formação é compartimentada e constante. “A gente precisa sair do ensino somente de sala de aula massificada, seja a distância ou presencial, para dar conta de atender essa nova significação da educação no mundo daqui por diante”, inspirou a diretora. Anna lembrou que até os Moocs se iniciaram de forma mais parecida com os cursos tradicionais e hoje já se moldaram oferecendo graduações mais pontuais.
Pensado para modernização |
Parceiras na realização da 16a edição do Fórum Nacional: Ensino Superior Particular Brasileiro (Fnesp), empresas que oferecem soluções para as instituições educacionais, desde a área de gestão até a sala de aula, também participaram do evento com consultoria especializada e demonstração de seus produtos e serviços. A novidade apresentada pela Techne é o Lyceum Cloud, sistema de gestão em nuvem. As soluções tecnológicas da Ellucian também podiam ser conferidas no estande da companhia. A D2L apresentou a nova plataforma de aprendizagem, a Brightspace. A GVDasa Sistemas também oferece soluções integradas para a gestão educacional, assim como os sistemas desenvolvidos pela Totvs. Outra empresa presente, a Digisystem, oferece soluções de TI para o ensino superior. Já a Epson trouxe para a feira o seu novo projetor interativo, pensado para dinamizar as aulas. Ainda a fim de modernizar a sala de aula, as soluções educacionais Saraiva para a educação superior estão baseadas em três pilares: conteúdo, tecnologia e serviços. Na área do ensino de línguas, a Rosetta Stone aproveitou o fórum para lançar o novo portfólio de soluções on-line de idiomas. O ensino de línguas de maneira fácil e interativa também é o foco da Voxy. Munditech tem soluções para interatividade em sala de aula e correções de provas. Na área de captação e retenção de alunos estava presente o Planeta Y. O Bradesco completou o time de expositores com soluções de crédito. |