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O sonho (e o pesadelo) da imigração

Os fluxos migratórios constituem um dos principais temas do mundo em que vivemos. São desencadeados, entre outros motivos, pela distribuição de renda, ainda muito desigual em quase todo o planeta, e pela decorrente busca de oportunidades em re­giões mais ricas e industrializadas do próprio país […]

Publicado em 16/12/2014

por Redacao

Os fluxos migratórios constituem um dos principais temas do mundo em que vivemos. São desencadeados, entre outros motivos, pela distribuição de renda, ainda muito desigual em quase todo o planeta, e pela decorrente busca de oportunidades em re­giões mais ricas e industrializadas do próprio país – ou mesmo em outros países e continentes. Para os que se veem obrigados a integrar essa diáspora, o processo de adaptação tende a ser tão mais difícil quanto maior for a distância entre as raízes e o novo lar. O cinema tem se ocupado da dramaticidade desses deslocamentos, mas raramente com a delicadeza e a poesia de Era uma vez em Nova York (EUA, 2013, 120 min).

#R#

Ambientada em 1921, a trama acompanha a chegada de duas irmãs polonesas a Nova York. Depois de uma viagem extenuante, ambas passam pelo rigoroso processo de triagem na ilha Ellis. Uma delas, Magda (a armênia Angela Sarafyan), está doente; os médicos decidem mantê-la em quarentena. A outra, Ewa (interpretada pela francesa Marion Cotillard, vencedora do Oscar de melhor atriz por Piaf – Um hino ao amor), é autorizada a desembarcar nos EUA. Como se não bastasse o trauma da separação e a falta de informações sobre o paradeiro de Magda, Ewa precisa enfrentar sozinha o desafio da adaptação em um cenário que lhe parece muito hostil.

A primeira ajuda vem na forma de um homem (Joaquin Phoenix, de O mestre e Ela) que, muito solícito, a transforma em prostituta. Um primo desse personagem (Jeremy Renner, de Guerra ao terror e Trapaça) entra em cena e torna a situação de Ewa ainda mais tumultuada. Pelas mãos do diretor James Gray, essa história adquire contornos românticos e desemboca em tragédia, mas funciona também como cuidadosa reconstituição do que passaram, nas primeiras décadas do século 20, milhões de imigrantes que fizeram de Nova York a porta de entrada do “sonho americano”. Muitas vezes, no entanto, ela foi também portal para pesadelos.

Terra estrangeira
A busca de imigrantes por melhores condições de vida em outros países foi abordada por inúmeros filmes. Confira alguns bons exemplos:

Gaijin, os caminhos da liberdade (1980)
Descendente de japoneses, a diretora brasileira Tizuka Yamazaki estreou no longa-metragem com essa recriação da chegada de centenas de imigrantes japoneses ao Brasil, em 1908, em virtude da guerra contra a Rússia, do desemprego e da falta de perspectivas em seu país.

Coisas belas e sujas (2002)
Formado em medicina, um imigrante nigeriano (Chiwetel Ejiofor, de 12 anos de escravidão) recebe uma proposta, em tom de chantagem, que põe à prova suas convicções morais. Dirigido por Stephen Frears (A rainha, Philomena).

Neste mundo (2002)
Dois afegãos refugiados no Paquistão se entregam a contrabandistas de pessoas e tentam, por terra, chegar à Europa. O diretor inglês Michael Winterbottom usa procedimentos do documentário para dar mais autenticidade a esse doloroso longa de ficção.

Novo mundo (2006)
O diretor e roteirista italiano Emanuele Crialese reconstitui o fluxo migratório que levou milhares de italianos aos EUA no início do século 20, a partir de uma família muito pobre de lavradores da Sicília, no sul do país, que idealiza um paraíso na América.

O silêncio de Lorna (2008)
Depois de comprar um casamento com um jovem belga para obter o passaporte europeu, uma albanesa planeja se separar dele para lucrar com um novo casamento. O filme conferiu aos diretores Luc e Jean-Pierre Dardenne o prêmio de melhor roteiro em Cannes.

Bem-vindo (2009)
Um professor francês decide ajudar um jovem iraquiano a atravessar o canal da Mancha e chegar à Inglaterra, onde planeja encontrar a namorada, mas enfrenta o preconceito dos moradores de sua cidade e é perseguido pelas autoridades. Dirigido por Philippe Lioret.

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