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Gestão

As partes e o todo

Fazer com que todos se sintam parte da escola e responsáveis por ela é apontado por gestores como um dos maiores desafios dos diretores escolares

Publicado em 10/05/2016

por Rubem Barros

O diretor Wesley Gomes Soares e equipe na EM Padre Valentim, em Niquelândia (GO): diagnóstico permitiu novas ações contra a evasão

Em 2011, o Centro de Ensino Fundamental 04 de Planaltina, região administrativa do Distrito Federal a 38 km de Brasília, trocava um diretor atrás do outro. Com o afastamento do último deles por improbidade administrativa, a escola sofreu intervenção. O edifício estava degradado, a violência campeava no entorno, os índices de evasão e repetência eram altos.

Nesse cenário, Marli Dias Ribeiro, diretora, e Maria Socorro Dias Martins, vice-diretora, assumiram como interventoras. Tinham pouco mais de dois meses para transformar a escola antes do retorno dos alunos das férias. Reuniram os 130 funcionários e a nova diretora perguntou, para mexer com os brios de todos: “Vocês gostariam de continuar sendo profissionais da pior escola da cidade?”.

Após um primeiro momento de estupefação, quiseram saber qual era a proposta da nova dupla. Ouviram que ainda não havia nenhuma, que teriam de construir conjuntamente. Com isso, começaram aos poucos a ganhar a confiança da equipe. Identificaram as lideranças, reativaram o Conselho Escolar, traçaram um planejamento inicial. Num primeiro momento, dedicaram-se a pintar e jardinar a escola, além de consertar cadeiras e carteiras quebradas, sempre com a ajuda da comunidade. Para isso, conseguiram ajuda até mesmo de detentos de um presídio próximo.

Com o tempo, trabalharam o Projeto Político-Pedagógico, um ilustre desconhecido da comunidade, e reviram metas. Hoje diretora da escola, Maria Socorro veio do Núcleo Pedagógico de Planaltina, função em que ministrava capacitações em unidades da rede, após o convite de Marli. Antes do Núcleo de Planaltina, havia sido professora de geografia numa mesma escola da zona rural por 8 anos.

“Meu maior desafio era fazer a mudança do PPP da escola, fazer que os colegas aderissem a essa nova postura, mais participativa, de inovação pedagógica. Fiquei encarregada da capacitação dos professores, enquanto a diretora cuidou mais da parte legal, prestação de contas etc.”, relembra.

A escola promoveu uma profunda mudança, recebendo o Prêmio Gestão Escolar 2013, concedido pelo Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), ainda sob a gestão de Marli. Desde a virada para 2012, melhoraram a aprovação, criaram salas para atendimentos mais direcionados (altas habilidades, teatro, ciências exatas, artes visuais, linguagens, entre outras), nas quais recebem também alunos de outras escolas.

Para Maria Socorro, no entanto, restam questões ainda delicadas, como a carência de vagas nas escolas da região. “Precisaríamos de mais duas escolas como essa em Planaltina”, calcula.

As escolas da região utilizam uma estratégia contestável com os alunos considerados problemáticos: remanejam de uma unidade para outra, para cortar a rede de relações. “Surte efeito, pois muitas vezes o adolescente deixa para trás a turma e, precisando reinserir-se num grupo, sai do ciclo mais problemático”, defende.

Escuta

O contato mais próximo com a comunidade escolar foi o estopim para que Wesley Gomes Soares se tornasse diretor escolar. Professor de matemática e ciências do Fundamental 2, começou a trabalhar em 2006 na Escola Municipal Padre Valentim (Fundamental 1 e 2, EJA), em Niquelândia, cidade de 45 mil habitantes em Goiás. Em 2008, foi designado coordenador de turno pela direção.

“Esse cargo me levou à direção, pois tive muito contato com alunos, professores, funcionários e pais. Tinha uma postura bastante firme orientando o trabalho”, lembra. Em 2010, resolveu se candidatar à direção, em oposição à gestora que o havia posto como coordenador. Ganhou a eleição, exerceu um mandato, saiu e voltou. Está no segundo mandato consecutivo, o último possível.

O grupo inicial que liderava apostou no fortalecimento do conselho escolar, das representações dos alunos e na inclusão da escola em atividades extras, como concursos e competições. A escola obteve destaque no concurso Tempos de Escola, do Instituto Votorantim, e na Olimpíada de Língua Portuguesa, do MEC/Cenpec, em que um aluno foi semifinalista em 2010. Foi uma maneira de criar objetivos comuns para o trabalho conjunto.

A partir de 2015, a escola adotou os Indicadores da Qualidade na Educação (Indique), ferramenta de avaliação que busca o envolvimento de toda a comunidade escolar para uma gestão participativa. O ponto inicial é um grande processo diagnóstico, feito junto a toda a comunidade.

“Com o Indique, soubemos qual é a visão real da comunidade sobre a escola e demos prioridade às questões indicadas na avaliação feita com a ferramenta”, conta Soares, para quem o novo método aumentou de forma expressiva a participação de pais e estudantes. Exemplo disso foi a reforma realizada no início deste ano, com a participação de 340 pessoas da comunidade.

Outra mudança decorrente do Indique foi a ação mais efetiva para conter o abandono escolar na Educação de Jovens e Adultos. “Com as crianças, tínhamos uma postura mais ativa, se faltavam dois ou três dias seguidos, visitávamos os pais, acionávamos o conselho curador. Com os adultos, não. Depois do Indique, passamos a ser mais ativos e conseguimos minimizar a evasão em EJA. Resgatamos pelo menos 15 alunos desde então.”

Ao avaliar-se como gestor, Wesley Soares não titubeia ao indicar no que mais melhorou: “na escuta dos colegas e da comunidade”. Para ele, todos os professores deveriam passar pela gestão. “Como professor, você é muito crítico em relação à direção. Quando está no cargo, vê toda a dimensão dos problemas e questões”, avalia.

Escola Privada

Se nas escolas públicas os problemas mais centrais estão ligados à escassez de recursos, desestímulo das equipes, contexto socioeconômico e violência, na rede privada os desafios são outros. Aqui, os pais são mais exigentes, mas muitas vezes ultrapassam a fronteira do interesse comum.

Carlos Gonçalves, professor da PUC com larga experiência em formação docente, lembra que, quando era diretor do Pueri Domus, introduziu um simulado para os alunos do ensino médio, visando uma preparação para os vestibulares – questão que preocupava as famílias. No dia da prova, houve um enfrentamento com um pai que queria de todo jeito que o filho que chegara atrasado tivesse acesso ao exame. “Estávamos preparando os alunos para uma situação real. Não poderíamos abrir exceções, até porque isso não ocorre nos exames oficiais.” Por mais que o pai esperneasse, o filho ficou de fora.

Mas Gonçalves avalia que à preocupação das famílias de classe média com os exames deveria somar-se um olhar para a formação para a cidadania nas escolas privadas. “Um bom índice para medir isso seria ver o percentual de alunos com 16 anos já inscritos na Justiça Eleitoral”, sugere.

Autor

Rubem Barros


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