NOTÍCIA
Projetos abordam questões como bullying de maneira lúdica
Tabuleiro do Jogo do Espião, desenvolvido por Izadora Perkoski com arte de Juliana Slupko
Usar jogos como estratégia de ensino pode ser uma tarefa mais complicada para o professor a explicar conteúdos de uma maneira tradicional. “As brincadeiras educativas não são nem tão gostosas de jogar quanto um jogo comercial e nem tão benéficas ou saudáveis quanto os meios tradicionais de ensino “, explica Izadora Perkoski, psicóloga e pesquisadora do Laboratório de Avaliação e Desenvolvimento de Jogos Educativos (LADEJE) da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Porém, as atividades lúdicas podem ensinar, e muito, sobre diversos temas e ajudar no combate à indisciplina.
Izadora acredita no entanto que é possível criar jogos que sejam divertidos e eficientes ao mesmo tempo. Com essa proposta, desenvolveu o Jogo do Espião em seu mestrado na UEL. O objetivo é incentivar crianças de 8 a 11 anos a reconhecer e combater práticas de bullying nas salas de aula.
Para jogar, tem-se um tabuleiro e cartas que indicam se o participante deve avançar ou retroceder. As cartas de nível 1(amarelas) apresentam apenas os conceitos básicos sobre o bullying diferentes pontuações para seguir em frente no jogo. As do próximo nível (vermelhas) mostram um trecho de história, que deve ser completado pela criança com outra carta que seja a mais adequada entre as opções. Já as de nível 3 (verdes) retratam uma situação em forma de diálogo em primeira pessoa, colocando o jogador no centro da ação sobre como se posicionar frente ao bullying. Cada resposta condiz a uma pontuação diferente indicada nas instruções.
A opção por um jogo analógico – que utiliza peças físicas – foi feita por uma questão pedagógica, já que o tabuleiro promove uma interação mais próxima dos estudantes. “O jogo permite o contato face a face, com maior probabilidade de, por exemplo, autorrevelação, na qual o aluno relate episódios de bullying pelos quais passou ou testemunhou”, explica.
Para testar a eficiência do jogo no campo do aprendizado, foram realizados testes com crianças na faixa etária que pretendiam atingir. “Tivemos bons resultados em manter o engajamento dos jogadores por um período relativamente longo (quatro sessões de 50 minutos cada)”, explica a pesquisadora. Já sobre a eficácia pedagógica, os resultados demonstraram que os estudantes passaram a identificar os casos de bullying e o que poderiam fazer para denunciar. Izadora aponta que o jogo passará ainda por novos testes antes de ser lançado comercialmente.
Para crianças, pais e educadores
Cartas do jogo Imagine-me se dividem em três categorias para formar diferentes personagens
Desenvolver um jogo analógico também foi a escolha de Henrique Dallmeyer, um dos três designers da agência Cusco Studio que desenvolveram o Imagine-me. O jogo foi concebido a partir da ideia de instigar a imaginação das crianças em uma atividade que valorizasse o contato delas com pais e professores. “Existem estudos que falam sobre a influência que atividades criativas e artísticas durante a infância exercem sobre as pessoas quando se tornam adultas, então fomos por esse caminho por ser algo de que carecemos na nossa educação”, explica Dallmeyer.
A primeira edição do Imagine-me está em produção graças a uma ação de crowdfunding, que arrecadou mais de 10 mil reais para a realização do jogo. São três tipos de cartas que descrevem partes do corpo em três categorias: cabeça, corpo e pernas. Escolhe-se uma carta de cada tipo e, a partir das informações lidas, desenha-se a figura descrita. O jogo permite a formação de 1 700 personagens diferentes e estimula a leitura para as crianças que já sabem ler e aumenta a interação com pais e professores para as menores, que precisam da ajuda de outras pessoas para realizar a atividade.
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