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Arte e Cultura

Escola não deve reforçar rótulos de gênero, diz livro

Publicação reforça o papel da educação no debate

Publicado em 03/08/2016

por Redação revista Educação

Diferentes, não desiguais – a questão de gênero na escola, de Beatriz Accioly Lins, Bernardo Fonseca Machado e Michele Escoura

Companhia das Letras – selo Reviravolta, 144 págs., R$ 34,90


A aula de educação física é dividida em atividades de meninos e de meninas. Nos diálogos na sala dos professores, a indisciplina dos garotos é tida como natural e inevitável. Assim como a pouca aptidão feminina para a matemática. Muitas vezes sem intenção, a escola repercute estereótipos de gênero difundidos na sociedade. Embora possam parecer inocentes à primeira vista, eles reforçam injustiças e situações de desigualdade que são reproduzidas e vividas pelos estudantes dentro e fora da escola.
Em tempo de discussões acaloradas sobre feminismo nas redes sociais, a leitura abre os olhos dos educadores sobre o real problema em passar para as crianças, desde cedo, concepções prontas sobre o que é ser homem ou mulher. Um dos pontos levantados no livro é a alta taxa de evasão escolar entre meninos, especialmente os negros vindos de famílias pobres. Além de inegáveis fatores sociais e econômicos, a ideia de que eles são “terríveis” e naturalmente mais bagunceiros inspira nos garotos o desejo de impressionar os colegas e mostrar indisciplina. Com o tempo, a escola se torna insuportável e eles abandonam os estudos. As meninas, por outro lado, são ensinadas a se comportar como “mocinhas”, o que, por vezes, significa não manifestar a própria opinião ou vontade.
Ao contrário do que se pode imaginar, as autoras e o autor apontam para um caminho que não nega as diferenças biológicas entre os sexos. Mas propõe a reflexão sobre os modelos culturalmente transmitidos de geração para geração que não correspondem à essência de cada um e, com frequência, as desrespeitam. Nem toda mulher é vaidosa e gosta de usar batom. Por que a escola, então, vai pedir mais asseio para as meninas e valorizar o arquétipo da princesa toda maquiada? Há meninos que amam futebol, mas há os que preferem ginástica olímpica e não há nenhum problema nisso. Sendo assim, colocar todos os garotos para jogar bola não é a melhor opção se o objetivo é desenvolver as habilidades motoras e corporais na aula de educação física.
De quebra, o livro traz um breve histórico de figuras que lutaram pela igualdade entre os sexos, como a francesa Olympe de Gourges (1748-93), que reivindicou a necessidade de pensar os direitos das mulheres entre as pautas da Revolução Francesa (1789) e redigiu a Carta dos Direitos da Mulher e da Cidadã em 1791. Outros dois nomes importantes destacados são a britânica Mary Wollstonecraft (1759-97) autora de Uma defesa dos direitos da mulher, no qual defende o acesso delas à educação, e a americana Sojourner Truth (1797-1883), pioneira na defesa do feminismo negro.
Para complementar, a obra apresenta um apêndice com sugestões para professores, gestores e funcionários sobre como agir em situações reais recorrentes nas escolas. Um outro anexo traz indicações de filmes e livros que melhoram o repertório do educador sobre o tema e também podem ser usados nas aulas.
 

Autor

Redação revista Educação


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