© Brooks Kraft/Corbis
Se em solo brasileiro o grande debate educacional diz respeito à supressão da vida partidária – entendida esta como assunção de um ponto de vista a partir do qual ensinar – do universo escolar, nos Estados Unidos corre solto o debate dos partidos acerca do papel da educação no futuro do país.
Os dois principais candidatos à presidência dos Estados Unidos – Hillary Clinton, do Partido Democrata, e Donald Trump, do Partido Republicano – elegem a educação como tema prioritário. Ao menos no discurso.
O iconoclasta e incendiário Trump diz que a educação, ao lado da saúde e da segurança, serão as três grandes prioridades de seu governo. Isso, no entanto, não é indício para uma ideia de mão pesada do Estado na condução das grandes questões do setor. Ao contrário. Para Trump, falta competição no âmbito da educação, o que vale tanto para as oportunidades da carreira docente como para os modelos de escolas a serem ofertados aos cidadãos.
O republicano, com pauta menos clara e propostas ainda um tanto vagas no que diz respeito a 12 temas de relevância listados pelo
portal Education Week em agosto último, bate de frente com as entidades de classe do setor e com o
Common Core State Standards, a proposta curricular americana, que qualifica como um desastre total.
Já Hillary está próxima a entidades como
National Education Association e
American Federation of Teachers, às quais promete oportunidades para que professores e gestores tenham chances de aprendizado contínuo, para melhorar e inovar suas ações. A democrata também põe em xeque os testes de larga escala, defendendo que voltem à sua função original de dar subsídios a famílias e professores, sem que o ensino seja modulado pela necessidade de os estudantes darem boas respostas nessas avaliações.
No que diz respeito à lei batizada de
Every Student Succeeds Act (Essa), assinada pelo presidente Barack Obama no final de 2015 para suceder o programa No Child Left Behind, lançado por Bush filho em 2002, Hillary diz que, se não é perfeita, dá padrões de referência com flexibilidade para estados e professores. Trump não se manifestou a respeito, mas o portal avalia que ele deve aprovar o fato de o Essa, ao contrário do
No Child Left Behind, dar mais espaço para as decisões em nível local e regional, tirando poder do governo central.
Dois outros pontos marcam bem as diferenças entre republicanos e democratas: o financiamento e a escolha das escolas. No quesito financiamento, Hillary diz que são necessários novos investimentos para o ensino de ciências da computação, para a primeira infância, aumento do acesso aos
college e em inovação. Já Trump andou dizendo, erroneamente, que os EUA são o país com o maior investimento por aluno e que é preciso gastar menos e melhor.
No quesito tipo de escolas, Trump defende a variedade de modelos –
charter schools,
vouchers etc., que traduziriam o espírito da sociedade americana, baseada na competição. Já Hillary diz que sempre apoiou as
charter schools (escolas com fundo governamental e atuação independente)
, mas não como substitutas das escolas públicas, e sim como suplemento ao sistema, com possibilidade de boas experiências serem incorporadas.