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Não é de hoje que a alfabetização é uma espécie de campo minado dentro do universo da educação. A sociedade em geral constata o fato de que à guerra renhida entre duas tendências não corresponde sucesso equivalente à energia despendida na defesa – e no ataque – das teorias sustentadas pelos grupos em disputa.
Partindo de um incômodo que a tem movido por toda a vida profissional, traduzido pelo recorrente fracasso nacional para universalizar a chegada ao mundo letrado, a linguista e educadora Magda Becker Soares busca em Alfabetização – A questão dos métodos (Contexto, 2016) trazer à luz as chaves para o entendimento do problema.
Criadora do Centro de Alfabetização e Leitura e Escrita, da Universidade Federal de Minas Gerais, em 1990, Magda Soares percorre no livro uma trajetória iniciada nos anos 50, quando começou a lecionar, desde cedo formando professoras do curso normal, futuras alfabetizadoras.
377 páginas,
R$ 59,90
Se a grande briga dos anos 80 para cá tem se dado entre fônicos e construtivistas, já havia precedente para a pendenga. Na virada do século 19 para o 20, a disputa era entre os métodos analíticos e sintéticos. Partindo de um panorama histórico sobre o campo, o livro vai mostrando, sobretudo, uma impressionante massa de pesquisas e conhecimentos produzidos principalmente a partir dos anos 60, com a entrada em cena de várias disciplinas, tais como psicolinguística, psicologia cognitiva e sociolinguística, entre outras. Como boa linguista, Magda também busca raízes nos aportes antes trazidos pela semiótica e pela psicologia.
Para entendimento geral das bases a partir das quais ocorrem as disputas, a autora assimila os desvios conceituais assumidos na área – como a transformação de uma teoria como o construtivismo em método –, sempre, porém, fazendo-o com rigorosa observação do conceito de origem e da forma consagrada.
Parte, também, de uma premissa: a aquisição da língua escrita envolve três grandes facetas: a linguística (objeto do livro), a interativa (uso entre pessoas) e sociocultural (funções e valores sociais). E implica o domínio de dois grandes sistemas: um sistema de representação (a própria língua) e um sistema notacional (a tradução dos sons da língua em escrita alfabética).
É das tensões acerca de o que ensinar e como ensinar que advêm as maiores disputas. Encerrados em suas visões de mundo, os métodos têm proporcionado visões restritivas à ação dos educadores. Limitam a seu ponto de vista, sem abrir-se a outros e, sobretudo, ao que as investigações científicas têm comprovado.
Muito mais do que a adoção de um método, defende Magda Soares, é importante alfabetizar com método, considerando objeto e sujeito de aprendizagem e todas as áreas que têm contribuído na reflexão sobre a alfabetização. Para isso, reúne um dos mais sólidos – senão o mais sólido – corpo de referências sobre o tema no Brasil, realimentadas por sua experiência em curso na formação de docentes no município de Lagoa Santa/MG.
Ou seja, tudo o que mais se tem preconizado: o diálogo constante entre teoria e prática.