Coordenador pedagógico do ensino médio deve atuar como articulador, dando condições para que projetos aconteçam. Crédito: Shutterstock
Estar atento aos resultados dos alunos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e nos vestibulares, assim como articular projetos complementares que visem a preparação para essas provas são algumas das funções que se adicionam às outras tantas do coordenador pedagógico quando ele atua no ensino médio.
Se ter altos índices de aprovação nos exames nem sempre é uma prioridade do projeto político-pedagógico das escolas, nem por isso esses dados deixam de ser valorizados e avaliados pelas instituições. O vestibular é, afinal, importante para os alunos e suas famílias – e há uma forte demanda para que os colégios ofereçam recursos para que a aprovação nas universidades seja uma possibilidade real.
Além dos conteúdos abordados em aula sofrerem influência das principais provas, escolas da rede privada também conduzem projetos complementares, que podem desde reforçar o que mais cai em cada exame até familiarizar o aluno com os diferentes estilos de questões. Ao coordenador pedagógico do ensino médio, cabe a tarefa de dar condições para que essas iniciativas sejam possíveis.
Para isso, segundo coordenadores consultados pela reportagem, é necessário atuar como um articulador – e estar aberto ao diálogo. “A maioria dos projetos tem início dentro da sala de aula”, afirma Viviane Paiva Direito, coordenadora pedagógica do ensino médio do Colégio Pio XII, de São Paulo (SP). “Os alunos manifestam angústias com relação aos vestibulares e ao Enem, e os professores, fazendo essa escuta, podem propor projetos.”
Ainda que tais projetos tenham sua importância, segundo Andrea Godinho, coordenadora pedagógica do ensino médio do Colégio Vértice (SP), é fundamental ter em mente que eles devem atuar apenas como ‘paliativos’, apresentando os vestibulares e o Enem aos alunos. “A escola, a priori, tem de pensar um currículo em termos de competências e habilidades, expectativas de aprendizagem. Resultado é uma consequência”, avalia. “Mas é claro que dá para incluir algumas coisas no currículo que ajudam a atingir essas expectativas.”
Nesse sentido, investir em projetos interdisciplinares e dar espaço ao trabalho com habilidades socioemocionais, por exemplo, acaba por impactar, naturalmente, os resultados atingidos nos vestibulares, avalia Andrea. “Isso ajuda de forma direta ou indireta. Direta no aprendizado efetivo e, indireta, no caso das habilidades socioemocionais, na capacidade de sustentar situações de maior pressão.”
Iniciativas
No Colégio Pio XII, foi a partir da ponte que liga alunos a professores e estes ao coordenador pedagógico que surgiu o projeto Ilumina. Criado em 2016, ele funciona como uma espécie de jogo em que os alunos recebem cartões com questões dos diferentes vestibulares e são desafiados a resolvê-las num tempo semelhante ao que terão nos exames. A iniciativa surgiu a partir de uma proposta feita pelo professor de matemática da instituição e, inicialmente, era restrito a questões dessa disciplina. Com o sucesso do Ilumina, o projeto foi ampliado para as outras matérias no segundo semestre deste ano. A participação dos alunos é facultativa e os encontros acontecem no contraturno das aulas.
Alunos do ensino médio participam do projeto Ilumina. Atividade surgiu a partir do diálogo entre professor e coordenador pedagógico. (Crédito: Divulgação)
O formato gamificado, segundo Viviane, ajuda a motivar os estudantes. “Os games vêm crescendo na educação. O jogo traz a competição, o desafio, a socialização, a diversão. Os alunos ficam muito tensos e parece que só a palavra jogar já traz uma leveza”, explica. O Pio XII investe ainda em outras atividades extra-aula, como debates sobre questões sociais. O objetivo é aprofundar discussões que podem ser tema das redações dos vestibulares.
No Colégio Radial, também de São Paulo (SP), professores são convidados, ao longo do ano, para falar com os alunos sobre o formato dos vestibulares e do Enem e sobre as matérias mais cobradas em cada um deles. Há, inclusive, a presença de profissionais que já trabalharam na elaboração do Enem.
No ano passado, a instituição também criou o Corujão, evento que acontece próximo à data das provas e que visa auxiliar os alunos em questões como a administração do tempo durante a realização dos exames.
Alunos participam do ‘Corujão’ (Crédito: Divulgação)
Segundo Fábio Pereira, coordenador pedagógico do 2º e 3º ano do ensino médio da instituição, esses trabalhos foram criados a partir de demandas dos pais e dos próprios alunos. “Muitos alunos ficam meio perdidos com os procedimentos do Enem e dos vestibulares, não entendem as diferenças entre eles”, explica. “Mas, nas palestras que promovemos, procuramos ir além da questão dos vestibulares, falando também do mercado de trabalho.”
Já no Colégio Vértice, a única atividade focada mais diretamente no vestibular são os simulados, muito comuns nas escolas particulares. Mas, segundo a coordenadora pedagógica do ensino médio da instituição, o Enem trouxe mudanças positivas na maneira como o Vértice – assim como outros colégios particulares – pensam seus currículos. “De maneira geral, o Enem nos fez repensar os currículos em termos de competências e habilidades. Antes, o currículo era muito esquemático”, analisa. “Hoje, olhando para a Base Nacional, todo o desenvolvimento curricular está sendo feito com base nas áreas do Enem”, lembra.
Olhando para os índices
Para Viviane Direito, do Pio XII, os resultados nos vestibulares acabam por refletir a qualidade acadêmica da escola. “A análise de resultados e indicadores auxilia no projeto pedagógico. Podemos ver onde estamos falhando, qual área os alunos estão tendo mais dificuldades. Indicadores do Enem são até mais profundos, pois trazem habilidades e competências.”
A instituição conta com o trabalho de uma empresa que fornece índices e avaliações de desempenho dos alunos nos simulados. Depois, esses dados são analisados pela coordenação e pelo corpo docente nas reuniões pedagógicas.
Na Escola Vera Cruz (SP), também há um acompanhamento dos resultados dos alunos. Segundo Ana Bergamin, coordenadora pedagógica do ensino médio da instituição, para ter contato com esses dados, é preciso investir em formação. “Os profissionais de TI trabalham os dados conosco, e fazemos as análises aproveitando as habilidades que temos na equipe, com matemáticos, sociólogos”, conta. “Eu, por exemplo, venho da área de história, então não lido tão bem com a matemática. Com o trabalho de como ler estatísticas, a equipe se robustece em algo que não é a fortaleza do coordenador.”