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Arte e Cultura

Historiador britânico expõe vísceras da cultura extrativista que pontua continente africano

Livro faz recorte da história de invasões e permanências estrangeiras na África, dando panorama introdutório sobre o continente

Publicado em 10/11/2017

por Rubem Barros

Se a história do Brasil é marcada pela cultura extrativista que tão pouco nos legou em termos de condições sociais mais igualitárias para toda a população, questão que nos aflige até os dias de hoje, o que dizer do continente africano, berço de muitos dos que hoje dão cara ao Brasil?

Charge de publicação do século passado: a serpente que vem explorar o continente africano

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A história africana registra uma sucessão de invasões e permanências estrangeiras, dos romanos da Antiguidade aos chineses de hoje, na maioria das vezes retirando do continente riquezas de toda espécie.
É um recorte dessa história, composto principalmente por meio de figuras-chave, que nos traz o livro do jornalista, historiador e biógrafo inglês Martin Meredith em O destino da África – Cinco mil anos de riquezas, ganância e desafios. Meredith é autor, entre outras, da primeira biografia do líder sul-africano Nelson Mandela.
Já em seu prefácio, ele nos lembra que, num intervalo de 20 anos no século 19, diversos países europeus se lançaram à dominação de seu quinhão de terras africanas, muitas vezes fazendo lembrar a posse de símbolos de status que suas proeminentes famílias burguesas costumavam ostentar nos salões europeus.
Mas se, ao tempo do Império Romano, a necessidade estratégica advinha, entre outras coisas, do trigo que saía do norte da África para a população da capital do império, no século 19 os europeus usavam padrões de civilidade bem distintos para a vida na África e no seu continente de origem.
Como a proximidade temporal e a disponibilidade documental são maiores em relação aos séculos 19 e 20, o autor se detém mais nessa época, mas não deixa de lado o Egito antigo ou a vinda dos muçulmanos para a África, oferecendo ao leitor um interessante panorama introdutório sobre o continente, ainda que privilegie um olhar histórico mais tradicional, muitas vezes assentado em perfis biográficos.
Nesses perfis, recorre, para introduzir uma das figuras de mais triste registro na história africana, o rei Leopoldo II, da Bélgica, a um dos grandes personagens da história da literatura: o sr. Kurtz, europeu radicado no então Estado Livre do Congo, maior exportador mundial de marfim, a quem Charlie Marlow, o narrador do romance Coração das trevas, de Joseph Conrad, procura quando é contratado por uma companhia de comércio. O Kurtz que ele encontra é apenas uma sombra do homem de raízes civilizadas que ali desembarcou, tantas atrocidades ali viveu e cometeu.
Leopoldo II é um dos maiores símbolos dessa visão dual de civilidade, que levou homens brancos a praticarem códigos muito distintos vivendo em casa e quando iam para expedições em outras terras. Declarou-se rei de uma área de 2,5 milhões de km², extraindo marfim enquanto pôde. E quando o marfim escasseou, passou a extrair borracha.
Com alguma variação de proporção, outros também tiveram triste presença ao longo de todo o continente. Hoje, o espírito parece renovado com a exploração de minérios diversos. Como antes, nunca sem excluir parcerias locais para explorar o território e relegar a população a segundo plano.
O destino da África – Cinco mil anos de riquezas, ganância e desafios, de Martin Meredith, tradução: Marlene Suano (Zahar Editora, 740 páginas, R$ 99,90, e-book: R$ 59,90)

O destino da África – Cinco mil anos de riquezas, ganância e desafios, de Martin Meredith, tradução: Marlene Suano (Zahar Editora, 740 páginas, R$ 99,90, e-book: R$ 59,90)

Autor

Rubem Barros


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