NOTÍCIA

Edição 247

Relato de um dependente em recuperação

Nosso repórter dá seu depoimento sobre como pode ser bom se afastar das redes sociais

Publicado em 26/03/2018

por Redacao

Relato de um dependente em recuperação

Crédito: Shutterstock


Em dezembro de 2017, concluí que dedicava muito tempo às plataformas de relacionamento social nas quais tenho perfil (Facebook, Instagram, LinkedIn e Twitter). Logo depois de acordar, conferia as novidades usando os aplicativos do telefone. No computador, deixava abertas janelas para essas redes. Antes de dormir, muitas vezes já deitado na cama, fazia uma última checagem. O telefone ficava no criado-mudo. De vez em quando, o som de uma notificação e a tela iluminada me levavam de volta ao transe. Pegava no sono com algumas dessas informações na mente. Com frequência, elas invadiam meus sonhos.
Aos 52 anos, eu havia me tornado um dependente. Mas estava disposto a mostrar que este corpo não pertencia às redes sociais. Então, postei mensagens de “feliz 2018” e resolvi lutar contra o impulso de abrir os aplicativos e as janelas do navegador. Adotei a dieta de só acompanhar as notificações, que foram se reduzindo à medida que deixei também de publicar qualquer coisa, pessoal ou profissional, por mais de um mês. Tive a sensação de alguém que abandona uma festa barulhenta, realizada em um salão lotado de gente falando sem parar, e que senta, sozinho, num banco do outro lado da rua. Ainda perto, mas longe o bastante para notar a diferença.
Dois meses depois da implantação dessa dieta, reconheço que já não sei mais o que fazem e pensam diariamente as centenas de amigos e de conexões profissionais; minhas visitas às redes são muito breves. Mas descobri que isso não faz falta. Telefonemas, mensagens e encontros presenciais (ah, a que ponto chegamos: qualificar dessa forma o que até anteontem era apenas “encontro”) dão conta do recado. Como jornalista e professor, me relaciono diariamente com muita gente. O alimento que as redes sociais me forneciam correspondia a uma dose cavalar de informação extra, dispensável e redundante – as mesmas fontes emitindo quase sempre os mesmos sinais de fumaça.
Meu diagnóstico aponta para ganhos inquestionáveis. Reduzi drasticamente os níveis de ansiedade. Passei a ser aquele que diz aos outros “calma, depois você resolve isso” quando uma mensagem de WhatsApp lhes perturba como se fosse o anúncio da Terceira Guerra Mundial. Em geral, não é – e, se for, relaxe e aproveite. Voltei a ser mais ativo na busca por informações, no lugar de consumir inicialmente o que me chegava pelas redes. Divirto-me ao observar pessoas caminhando pela rua com o olhar pregado na tela do celular. E, como havia imaginado, recuperei um tempo diário significativo para empregar como bem entender, inclusive para, sentado num café, saborear o tempo que ganhei para pensar no tempo que ganhei. Um luxo.

Leia mais:

http://www.revistaeducacao.com.br/falta-de-privacidade-fake-news-e-vicio-os-perigos-das-redes-sociais/

Autor

Redacao


Leia Edição 247

MAST

Como a aproximação entre museus e escolas pode despertar o interesse de...

+ Mais Informações
Dialogo Platao Aristotelesx

Os diálogos de Gabriel

+ Mais Informações
shutterstock_610188548

Por que a discussão sobre fake news deve ser levada para a sala de aula

+ Mais Informações
shutterstock_75495451

Perversões

+ Mais Informações

Mapa do Site