NOTÍCIA

Edição 251

A expansão das escolas bilíngues no Brasil

Tendência educacional lançada há menos de uma década consolida-se no mercado com potencial para ampliar ensino da segunda língua

Publicado em 06/08/2018

por Eduardo Marini

Escolas bilíngues crescem a índices bem maiores do que os da educação particular tradicional, num país onde apenas 5% da população domina outra língua além do português — competência fundamental para inserção no mercado de trabalho e no mundo moderno (Crédito: Shutterstock)

Escolas bilíngues crescem a índices bem maiores do que os da educação particular tradicional, num país onde apenas 5% da população domina outra língua além do português — competência fundamental para inserção no mercado de trabalho e no mundo moderno (Crédito: Shutterstock)


O brasileiro decidido ou encaminhado a aprender outro idioma foi forçado, historicamente, a se contentar com uma entre quatro opções: um curso fora do colégio regular, um professor particular competente, uma das caríssimas escolas internacionais ou o aeroporto mais próximo. Mas uma nova tendência educacional, lançada há menos de uma década, consolida-se no mercado com potencial para ampliar fortemente o ensino da segunda língua, sobretudo o inglês, nos próximos anos. Ela envolve as parcerias de colégios particulares com empresas de programas didáticos, pedagógicos e de gestão para transformar escolas tradicionais em bilíngues. São contratos de fornecimento de material didático, treinamento de educadores, tecnologia, plataformas digitais, métodos de integração entre idioma e conteúdo, avaliação de resultados e de proficiência.
“Os dados apontam para um caminho aparentemente irreversível: a rápida conquista de espaço, pelas escolas com bilinguismo, no mercado de ensino de idiomas”, resume Fernando Rodrigues, diretor administrativo da Associação Brasileira do Ensino Bilíngue (Abebi) e de operações da Simple Bilingual Education, uma das grandes empresas do setor.
E o fim da estrada é distante. De acordo com o último censo escolar do MEC, o país tem cerca de 40 mil escolas privadas, 21% das 184,1 mil unidades brasileiras. A Abebi estima que, no máximo, 3% dessas particulares (1,2 mil) tenham hoje algum ensino bilíngue. Para comparação, na Argentina, Uruguai e Chile, esse percentual bate nos 8%. O gigantismo do território e da população dificulta a implantação de qualquer projeto nacional brasileiro. Feita a constatação, é fácil perceber que, apenas para chegar aos factíveis 8% dos hermanos, o sistema precisaria incorporar mais duas mil escolas particulares, ou 5% do total. E ainda assim o mercado teria à sua frente um espaço estratosférico de 92% das escolas particulares para explorar.
Outras comparações importantes surgem ao se trocar o número de colégios privados pelo de alunos particulares. Ainda segundo o censo, cerca de nove milhões — ou 18,4% dos 48,6 milhões de estudantes do infantil e fundamental — estão matriculados em escolas pagas. A Abebi estima que entre 3% e 4% desse total, algo entre 270 mil e 360 estudantes, estudem hoje em unidades bilíngues. Entre os colégios privados argentinos, chilenos e uruguaios, essa parcela chega a 10%. Para chegar a ela, o mercado brasileiro precisaria incorporar mais 540 mil alunos, quase o dobro do contingente atual. Nessa conta não foi incluída a parcela de estudantes privados entre os 7,9 milhões de alunos do ensino médio brasileiro. Como no exemplo anterior, o território a desbravar no mercado continuaria a ter dimensões de latifúndio.
As parcerias para a transformação de escolas convencionais em bilíngues encontram pista livre num cenário formado pela mistura de efeitos da globalização com peculiaridades do país. O primeiro grande ponto é a carência. Uma pesquisa do Conselho Britânico revela dados desanimadores sobre a relação dos brasileiros com o idioma de Shakespeare, Wilde, Dickens e Tolkien. Apesar do trabalho elogiável dos cursos de inglês nos últimos 60 anos, apenas 1% dos brasileiros é verdadeiramente fluente em inglês. Outros 4% se relacionam com a língua em vários estágios inferiores ao da fluência plena.
Fernando Rodrigues, diretor administrativo da Associação Brasileira do Ensino Bilíngue (Crédito: Divulgação)

Fernando Rodrigues, diretor administrativo da Associação Brasileira do Ensino Bilíngue (Crédito: Divulgação)


Tempo e segurança
Feitas as contas, nota-se que apenas 10,5 milhões de habitantes possuem algum nível de intimidade com o idioma – os outros 200 milhões passam ao largo. Em resumo, o Brasil é praticamente surdo e mudo na voz e na fala que o mundo ainda mais exige. Historicamente, inglês de qualidade no ensino formal brasileiro sempre foi privilégio de poucos. As escolas particulares quase sempre se limitam a cumprir as exigências do MEC, nunca rígidas o suficiente para gerar o aprendizado efetivo do idioma.
Às públicas, cronicamente mergulhadas em um mar de dificuldades, resta, com raríssimas exceções, cumprir tabela. Ocorre que, nos últimos anos, o Brasil, a exemplo da maioria dos países do mundo, começou a destravar cadeados e destrancar portões. Barreiras e fronteiras despencaram, viagens e intercâmbios ficaram comuns, a comunicação entre povos tornou-se mais popular e barata e a internet chegou com 70% de seu conteúdo em inglês. Nesse novo contexto, a língua inglesa no Brasil, de vantagem competitiva para os poucos que a dominam, passou num pulo a ser desvantagem primária para os muitos que não a controlam.
Além da necessidade evidente de acelerar e ampliar o aprendizado do segundo idioma, dois outros fatores preciosos passaram a jogar a favor das escolas bilíngues: tempo e segurança. Um aluno que aprende inglês na escola não precisa se deslocar, ou ser levado, na ida e volta para o curso out of school. Ganho de tempo. Sem esses deslocamentos, alunos e condutores estarão também menos expostos à violência. Mais segurança. Isso vale, sobretudo, nos grandes e médios centros, onde o estudante não raro cumpre longos trajetos sozinho, enquanto os pais trabalham.
Esses fatores contribuíram para que essas parcerias construíssem, em poucos anos, um mercado de R$ 220 milhões a R$ 270 milhões anuais no país, estima a Abebi. As cifras ainda não são impressionantes, mas os poucos anos de existência do setor e o imenso espaço a ser explorado criam um cenário para se apostar numa consistente evolução de mercado.
O surgimento das primeiras parcerias despertou em muitos pais a vontade de matricular seus filhos em escolas bilíngues. Mas uma reclamação comum era de que o custo aumentava acima da capacidade de pagamento. A situação melhorou nos últimos três anos. E tende a ficar cada vez melhor com o crescimento da base implantada. Hoje, a maioria das bilíngues acrescenta, em média, entre R$ 100 e R$ 200 mensais, a depender da série e do estágio de aplicação dos programas. São valores razoáveis, sobretudo se comparados aos cobrados pelos cursos de idioma, quase sempre mais altos. Normalmente, o valor é incluído pela escola na mensalidade e depois repassado à empresa contratada.
Não é raro ocorrer confusão nas definições de escola internacional, bilíngue e com programa bilíngue. Nas internacionais, o aluno tem todo o conteúdo ensinado na língua de outro país e o português é, a rigor, o segundo idioma. O programa oficial das internacionais não é o do MEC, como ocorre nas brasileiras regulares, e sim o da nação de origem da unidade. É como se um aluno de uma escola americana do Rio de Janeiro estudasse num colégio de Nova York e outro, de uma francesa de São Paulo, fosse estudante de uma unidade parisiense. São escolas de outros países, submetidas às regras e leis educacionais da origem, mas em funcionamento no solo brasileiro. São pelo menos 30% mais caras do que as bilíngues.
Escolas e programas
No caso de uma escola bilíngue reconhecida, ela recebe o registro se solicitá-lo ao MEC e for aprovada após o cumprimento de exigências, entre elas a de oferecer entre 40% e 50% do conteúdo brasileiro na língua estrangeira. A terceira parte é formada pelas escolas formais que acrescentaram na grade um período para o estudo, em inglês ou no idioma adotado, de arte, entretenimento, informática, cultura, ciências, matemática, história, geografia e outros temas, sem alterar o conteúdo obrigatório que a escola deve fornecer de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e as outras leis que regem a educação no país. Este último grupo inclui a maioria das escolas bilíngues hoje parceiras das empresas. “Não acho interessante buscar uma escola bilíngue com metade do conteúdo do MEC em inglês ou outro idioma”, opina o pedagogo e empresário Ulisses Cardinot, diretor da International School, um dos braços fortes do setor. “A maioria das escolas precisaria, por exemplo, demitir professores excelentes de várias matérias que não dominam o segundo idioma a ponto de transmitir conteúdo nele. Seria desastroso. Na realidade brasileira, as escolas com modelo formal combinado a programas bilíngues serão, por muito tempo, a solução ideal para a expansão e a democratização do ensino de idiomas”, completa.
A Abebi e a Organização das Escolas Bilíngues de São Paulo (OEBI) adotam como padrão três quartos do tempo da grade escolar (75%) para o idioma estrangeiro no infantil, um terço (33,3%) no fundamental e um quarto (25%) no médio. Escolas bilíngues dos dois últimos casos são, na média, 25% a 30% mais caras do que as particulares não bilíngues. Há ainda colégios com cursos de língua de outras bandeiras em seu espaço, mas isso é um caso à parte. Na prática, são duas escolas dividindo o mesmo território sem que os alunos da primeira tenham obrigação de frequentar a segunda.
Criada em 2009 em São Paulo, a Simple Bilingual Education, hoje com 18 mil estudantes de 53 mil escolas parceiras atingidas, é um player importante do setor. O eixo central envolve alunos de dois anos até os do 9º ano fundamental. A escola parceira pode incluir no programa um programa de imersão, exclusivo para o infantil, e o High School, para turmas do 9º ano ao final do ensino médio, com formação de alunos com dupla certificação, em parceria com a universidade americana de Nebraska. “A metodologia, com tecnologia e acompanhamento pedagógico, foi desenvolvida por profissionais brasileiros experientes e especialistas americanos. A formatação segue as diretrizes do MEC e está alinhada ao modelo pedagógico das melhores escolas do tipo no mundo”, explica o diretor Fernando Rodrigues.
Terra de gigantes
Nos últimos cinco anos, o mercado de escolas particulares formais cresceu 2% ao ano, em média, no Brasil. Enquanto isso, o das bilíngues se expandiu a índices entre 6% e 10%. Parte desse desempenho elogiável, em pleno túnel escuro da crise, deve-se a apostas amplas e ousadas como a do Conexia. O grupo faz parte do Sistema Educacional Brasileiro (SEB), ativo há cinco décadas no mercado de educação e hoje presente em mais de 300 escolas de 20 estados.
Uma prova do potencial desse mercado é o desembarque de gigantes mundiais como britânica Pearson Bilingual Program, considerada a maior empresa de educação do mundo, com 170 anos de existência, 35 mil profissionais e atuação em mais de 70 países, e a editora multinacional de origem espanhola Santillana. Em apenas seis anos de existência, a Pearson, que atende mais de um milhão de alunos no mundo, conquistou 150 escolas brasileiras. O pacote do programa, um dos mais adotados na Europa, oferece vinte itens de serviço, de concursos culturais a gestão escolar.
Outro produto interessante do grupo é o Science-Technology-Engineering-Mathematics (STEM), com material produzido por autores consagrados nas quatro áreas. “Educação bilíngue de qualidade deve trazer uma carga alta de insumo para o aluno, o uso da segunda língua como ferramenta para se ensinar conteúdo interdisciplinar, professores fluentes, espaço físico adequado e comprometimento com a qualidade do ensino”, defende Marco Mendonça, da Pearson Brasil.
A espanhola Santillana também não perdeu tempo. Por meio da marca associada Richmond, lançou, em 2017, seu programa escolar bilíngue. Nele, utilizam a segunda língua como veículo de aprendizagem de outras áreas do conhecimento (artes, matemática e ciências, por exemplo). Incluem a experiência digital e levam em conta não apenas o desenvolvimento da língua, mas também habilidades como pensamento crítico, colaboração, flexibilidade, empatia, imaginação, criatividade e inovação. Outro eixo, o Educate, envolve crianças dos três aos cinco anos com diversão, materiais lúdicos, aulas de culinária, arte, jogos e alinhamento a conteúdos da educação infantil. “As escolas bilíngues respondem à aspiração de parte crescente da sociedade convencida de que o idioma adicional hoje faz parte da formação integral do indivíduo”, afirma a diretora de conteúdo do grupo, Sandra Possas. Escolas parceiras da Santillana têm um aumento médio de R$ 100 na mensalidade.
O potencial seduziu também editoras nacionais historicamente envolvidas com o mercado de idiomas. Caso da FTD, que criou em 2015 seu núcleo de idiomas, com as marcas StandFor e Edelvives (espanhol), ambas implantadas e ainda gerenciadas pelo educador e executivo Cayube Galas. “Temos produtos e serviços para todas as situações e idades, com cargas horárias estendidas que podem ser divididas em até cinco dias da semana”, diz ele. “Oferecemos projetos interdisciplinares, consultoria para educadores e gestores e apoio em eventos da escola. A FTD é uma editora de grande capilaridade e de todos os públicos. Esse ativo, que nem todos possuem, nos ajuda a democratizar esse aprendizado ainda elitizado.”
O educador e executivo Cayube Galas, da FTD, aposta em projetos interdisciplinares, consultoria e apoio em eventos da escola (Crédito: Divulgação)

O educador e executivo Cayube Galas, da FTD, aposta em projetos interdisciplinares, consultoria e apoio em eventos da escola (Crédito: Divulgação)


Os programas da SEB/Conexia, outro pilar do mercado, são baseados em cinco pilares: assessoria pedagógica permanente, formação contínua de profes­sores, interface com outros programas educacionais do grupo, material didático impresso e digital e assessoria de propaganda e marketing, com peças customizáveis para os parceiros. “Nossa abordagem pedagógica foi testada com muito cuidado e profundidade”, conta a diretora executiva do grupo, Thamila Zaher. “Nosso conhecimento do tema, acumulado em anos, tem feito a diferença e atraído parceiros importantes, como Pueri Domus e o AZ”, completa.
Os parceiros parecem satisfeitos. “Existe grande diferença entre aprender inglês e aprender em inglês”, constata Lady Christina Sabadell, diretora geral das escolas bilíngues Pueri Domus. “No nosso caso, o aluno recebe a comunicação em situações reais, espontâneas, observando o uso que o modelo, o professor, faz da língua. O aluno aprende o segundo idioma de modo intercalado, aproveitando o contexto do idioma pátrio”, explica a educadora.
Na concorrência cada vez dura, ter uma grife forte ao lado pode ajudar bastante. A BE – Bilingual Education, com escritórios em Belo Horizonte e São Paulo, tem como parceira a editora National Geographic Learning. Graças à aliança, afirmam ser capazes de oferecer, nas grades das escolas parceiras, “um conteúdo completo de ciências, linguagem, geografia e cultura mundial cem por cento em inglês e em consonância como o currículo internacional” a crianças a partir dos dois anos até o Fundamental II.
O programa da BE estreou nas escolas em 2017. O primeiro parceiro foi o grupo de colégios Santo Agostinho, de Belo Horizonte. A diretora pedagógica do grupo, Flávia Fulgêncio, não economiza argumentos ao destacar o que considera os adicionais de qualidade de seu produto. “O conteúdo da National encanta o mundo inteiro há anos. Além disso, talvez sejamos a única empresa do setor a oferecer disciplinas escolares específicas no programa. No infantil e no Fundamental I, ela envolve Ciências e Linguagem. No Fundamental II, geografia, cultura mundial e linguagem.”
Uma ascensão recente
A história ainda recente da International School ajuda a explicar melhor a rápida expansão do setor. O pedagogo fluminense Ulisses Cardinot é filho dos donos de uma tradicional escola de Campos dos Goytacazes, no norte do Estado do Rio. Estudou inglês em cursos na juventude, mas não conseguia se comunicar no idioma. Foi para fora aprimorar a segunda língua. Diante de sua experiência, os pais concluíram que a escola deveria oferecer um ensino de inglês mais consistente. Em 2009, após pesquisas e consultas no exterior, desenvolveram o próprio programa e implantaram o ensino bilíngue no colégio.
O projeto atraiu a curiosidade de gestores escolares da região e despertou na família a ideia de repassá-lo em parcerias. Três anos depois, tendo a própria unidade como “cobaia”, os Cardinot conquistaram os primeiros clientes da International. Em seis anos, tornaram-se um dos braços fortes do setor, com 55 mil alunos de 170 escolas em 22 estados, um trabalho premiado em 2017 com o Top Educação de sistema de ensino bilíngue. “Nossa meta educacional é democratizar o ensino de inglês”, diz Cardinot. “A mensalidade aumenta entre R$ 120 e R$ 160 em nossas parcerias. Não é muito. Detalhamos os programas para os gestores, damos na seleção dos professores bilíngues, formação continua­da presencial e online e fazemos acompanhamento, marketing e campanha de matrícula para divulgar o projeto nas unidades”, enumera.
O educador Rone Costa não disfarça o orgulho diante da evolução do segmento. Um sentimento justificado: ele é diretor de desenvolvimento da Systemic Bilingual, empresa presente no mercado de educação há 33 anos, responsável, em 2002, pelo lançamento do primeiro programa bilíngue do país nos moldes atuais. “Identificamos numa pesquisa interna recente que, hoje, mais de 30 empresas de todos os portes fazem esse trabalho, de escolas de idiomas a sistemas de ensino e grandes editoras internacionais.”
O Systemic adota o Content-Based Teaching of English as Foreign Language (Ensino de Inglês como Língua Estrangeira Baseado em Conteúdo), método ligado ao contexto brasileiro baseado no Content and Language Integrated Learning (CLIL), algo como Aprendizagem Integrada de Conteúdo e Linguagem, metodologia mais utilizada pelas escolas europeias e adotada também por International, Pearson, Santillana, FTD e outros players do setor.
O grupo atinge atualmente 16 mil alunos de 80 escolas, metade delas no Sudeste. “Acabamos de investir R$ 4 milhões em uma plataforma digital de última geração totalmente integrada ao nosso programa. Temos também escolas próprias, nossos laboratórios dentro de casa. Nelas, testamos e pilotamos tudo o que é levado aos parceiros. Isso nos dá a segurança de que os resultados vão aparecer”, detalha Costa. “Não vejo esse modelo como tendência ou modismo, mas como único possível neste momento para a expansão do inglês.”
Pode ser. O crescimento contínuo do número de alunos e de escolas bilíngues (apesar de ainda modesto se comparado ao universo das escolas privadas), a queda nos custos por aluno a patamares aceitáveis, que deverá prosseguir com o aumento da base de estudantes, e as vantagens logísticas e educacionais geram inevitavelmente uma questão: será que a expansão desse formato retira parte da clientela dos cursos de idioma out of school e submete esse modelo a algum tipo de prova de sobrevivência?
Ainda levará um bom tempo
Alexandre Garcia, presidente do Cel.Lep — 51 anos de história e mais de 15 mil alunos em suas 78 unidades e escolas (Crédito: Divulgação)

Alexandre Garcia, presidente do Cel.Lep — 51 anos de história e mais de 15 mil alunos em suas 78 unidades e escolas (Crédito: Divulgação)


Alexandre Velilla Garcia, presidente do Cel.Lep, uma das mais respeitadas e eficientes redes de cursos de idiomas do país, com 51 anos de história e mais de 15 mil alunos em suas 78 unidades de rua e em escolas, garante que esse não é o caso do setor e, tampouco, do grupo comandado por ele. “O que nos tirou estudantes nos últimos anos foi a crise, não as bilíngues.” Em todo caso, eles decidiram colocar todo o merecido prestígio – e boa parte dos R$ 20 milhões investidos nos últimos quatro anos – a serviço do lançamento do primeiro projeto de bilinguismo da empresa para as grades escolares de escolas parceiras, o Cel.Lep Solução Bilíngue.
O programa irá do infantil ao F2, terá carga horária entre cinco a dez horas semanais e estrutura baseada na CLIL, em consonância com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Será voltado ao desenvolvimento das quatro habilidades essenciais ao inglês (fala, escrita, compreensão oral e leitura) e vai oferecer assessoria em gestão, consultoria pedagógica e recursos tecnológicos de apoio. Ao final do F2, os alunos, diz Garcia, terão condição de atingir o nível B2 na escala do CEFR, o quadro comum de referências para línguas adotado pelo Conselho Europeu, um estágio descrito como “intermediário superior”, capaz de deixar o aluno “confiante”. “Teremos as primeiras turmas em 2019. Estou certo de que iremos transferir a mesma qualidade que consagrou nossos cursos para as escolas dos parceiros”, aposta um confiante Garcia.
Mas será que tanta renovação no ensino da segunda língua vai implicar o fim da linha para os cursos de idioma? Os especialistas não acreditam nessa possibilidade. “Ao contrário: os modelos são complementares. Há muitos adultos dispostos a aprender outra língua entre os 210 milhões de brasileiros. Depois, é nas escolas de língua que os professores buscarão proficiência e os pais, motivados pelo aprendizado de seus filhos, procurarão aprender o idioma cuja falta os privou de oportunidades”, analisa a pedagoga Selma Moura, consistente estudiosa do bilinguismo. “Não acabarão, mas precisarão se reinventar e buscar novos espaços”, opina Costa, da Systemic. “O bilinguismo ainda levará um bom tempo para chegar à maioria das escolas privadas, principalmente no interior. Além disso, o Brasil tem 40 milhões de alunos em escolas públicas, e esse público não terá escola com educação bilíngue por muito tempo. Apenas parte deles dará para formar um imenso mercado. Por último, haverá sempre demanda para cursos entre adultos e profissionais”, analisa Rodrigues, da Simple e da Abebi. Better this way: it will be good for all (“Melhor assim: será bom para todos”).


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Autor

Eduardo Marini


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