NOTÍCIA
Em entrevista à Educação, Virgínia Garcia, diretora da International School, revela as dúvidas mais frequentes de educadores sobre o sistema bilíngue nas escolas, que centraliza um idioma estrangeiro para todas as disciplinas
Publicado em 09/01/2019
Em plena “era da globalização”, só 5% dos brasileiros sabem o básico de inglês e menos de 1% são fluentes na língua, segundo dados do Conselho Britânico. No meio desse cenário cheio de deficiências e que pede cada vez mais um aluno formado para o mundo, a educação bilíngue vem ganhando força. A prática é a seguinte: parcerias entre escolas particulares com empresas que oferecem materiais didáticos e pedagógicos e até mesmo formação para professores faz com que todas as disciplinas, como matemática e história, sejam ensinadas em uma língua estrangeira, sendo mais comum no Brasil, o inglês.
Para compreender melhor as diferenças desse tipo de prática com outras existentes e a metodologia, Educação entrevistou Virgínia Garcia, diretora de Pesquisa e Desenvolvimento Editorial da International School, empresa brasileira de solução bilíngue para redes de ensino que tem sua metodologia aplicada em mais de 200 escolas do país.
Qual a diferença de escola/curso de idioma, educação bilíngue e escola internacional?
A escola de inglês [ou outro idioma] enfatiza a estrutura gramatical da língua, do vocabulário; ela explora o ensino da língua como uma matéria em si para ensinar inglês.
Educação bilíngue é o inglês sendo dado dentro da escola. A diferença é que você ensina o idioma integrado às outras matérias, como artes, matemática, geografia e história, com isso, o inglês passa a ser o meio de instrução para desenvolver a matéria e não uma matéria em si. O que gera integração curricular, ou seja, você faz com que o segundo idioma ou o idioma-alvo se torne o meio pelo qual a instrução se dá. Não há dissecação do idioma e o olhar apenas na mecânica da gramática. Pelo contrário, na educação bilíngue ambas são aprofundadas ao mesmo tempo e de maneira integrada.
Finalmente temos a escola internacional, como a inglesa, britânica, alemã e suíça. A diferença é que se usa o currículo do país-alvo, ou seja, não é o currículo brasileiro. Na educação bilíngue você utiliza o currículo brasileiro. As escolas britânicas e alemãs, por exemplo, começam o ano letivo em setembro, porque na Europa é assim. Eles usam o currículo e calendário escolar ao qual a escola está ligada.
Vocês oferecem aulas em inglês e não aulas de inglês. Quando vocês chegam nas escolas elas já estão cientes dessa diferença? Quais as principais dúvidas e receios dos educadores em relação a essa metodologia?
Aí está um dos grandes diferenciais da International School. Nós temos um processo de familiarização para a escola que deseja adotar o nosso programa. Fazemos um contato com os professores, coordenadores, alunos e pais para que antes mesmo de assinar um contrato essas pessoas já tenham conhecimento de nossa proposta.
A dúvida central, principalmente dos responsáveis pela escola é: qual a diferença entre este inglês que estudamos no instituto de línguas e o inglês sendo utilizado como meio de instrução na educação bilíngue.
No momento em que a escola fecha contrato conosco focamos na formação inicial dos professores. O nosso grande segredo é que, além de um material didático impresso e digital de excelente qualidade, buscamos sempre inovar. Fazemos formação inicial com professores e o que chamamos de formação continuada, em que oferecemos oficinas, acompanhamento mensal a esses docentes e todo um apoio digital e por telefone.
Quais as principais mudanças que as escolas costumam fazer ao adotar o programa de vocês?
Em primeiro lugar, as escolas nos pedem — e oferecemos como parte do processo — uma avaliação voltada a professores de abordagem metodológica e proficiência linguística para saber se eles estão capacitados em acompanhar o programa ou se nós podemos apoiar uma seleção. Quem decide quem será o docente é a escola. Nós oferecemos um auxilio técnico e logístico para que a instituição encontre aquele professor que atenda às necessidades e realidade da escola.
A primeira mudança é a adequação de um professor que não esteja voltado para aquela abordagem mecânica de dissecação de língua e, sim, com uma “pegada” diferente. E, obviamente, a mudança de mentalidade, de compreender nossa abordagem pedagógica, que é diferenciada. O responsável [escolar] precisa acompanhar isso.
Em nossa parceria com a escola, o aluno é o centro. Porque um de nossos principais objetivos, além da integração da língua com o conteúdo, é que o estudante desenvolva as competências do século 21, também previstas dentro da BNCC [Base Nacional Comum Curricular], entre elas: resolução de problemas, uso de pensamento crítico, trabalho em equipe e uso de tecnologia educacional.
Como essas competências e valores são aplicadas nas aulas?
Por meio de atividades. Temos, por exemplo, uma ‘plataforma gamificada’ em que o aluno tem um planeta, que é o mundo dele, com problemas de poluição, superpopulação, fome, escassez de água e outros. Por meio de projetos eles devem ter ideias inovadoras para solucionar esses problemas, entre elas, como diminuir o lixo no planeta. Queremos realmente encorajar os alunos a terem ideias inovadoras. Usamos uma abordagem metodológica chamada PBL (Project Base Learning, ou aprendizagem baseada em projetos). Nós já temos exemplos de alunos com boas iniciativas, como o fundamental I de uma escola que levou itens de higiene pessoal para comunidades menos privilegiadas.
Ulisses Cardinot, CEO da International School, fala em fazer uma revolução na educação. Que revolução seria essa?
Acredito que seja em relação aos dados da última pesquisa feita pelo Conselho Britânico sobre o nível de proficiência em inglês dos brasileiros, que traz como resultado que 5% da população domina o inglês em algum nível – não o alto – e dentro desses 5%, 60% está no nível básico, que seria o inglês de sobrevivência, ao passo que menos de 1% dos brasileiros falam inglês com alto nível de proficiência. Foi tão baixo o índice que ficou sendo menos de 1%.
Vou ousar dizer que há uns 10/15 anos atrás, no começo dos anos 2000, só quem tinha acesso ao estudo de inglês eram pessoas de uma classe social mais “abastada”. O que a International School faz e vem fazendo desde 2015 é democratizar a educação bilíngue. Sem contar que antes, inglês na escola era considerado [pelo senso comum] fraco e que a pessoa não ia aprender. Nenhuma nação que tenha uma estrutura educacional de respeito e sólida aprende-se língua fora da escola. Na Espanha, cerca de 80% das escolas públicas são bilíngues. Qualquer país europeu as pessoas aprendem inglês na escola e o nível é impressionante.
Aprender inglês é na escola e essa seria a segunda parte da revolução [que o CEO prega] para não só apoiar que a educação bilíngue seja amplamente distribuída para a população brasileira, assim como também assegurar que os alunos aprendam inglês de qualidade na escola.
A educação bilíngue engloba apenas classe média para cima ou consegue acessar escolas particulares cujas famílias não possuem renda tão alta?
Temos escolas de classe alta, em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Fortaleza, assim como também temos escolas que pertencem a uma classe B, B-, com isso estamos procurando fazer com que um maior número de crianças e adolescentes tenham acesso a essa educação.
Vocês pensam em fazer parceria com o Governo brasileiro para levar o programa a escolas públicas?
Isso é uma pergunta para o futuro [risos]. Começamos como startup e ainda não temos estrutura para responder a essa pergunta.
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