NOTÍCIA

Edição 255

Entenda o que é o Movimento Maker e como ele chegou à educação

A popularização do mundo digital e a redução do preço de equipamentos foram decisivas para introduzir o Movimento Maker nas escolas

Publicado em 22/02/2019

por Eduardo Marini

Maker, em inglês, significa realizador, criador, fazedor. Os “faça-você-mesmo” não é nenhuma novidade para educadores, estudantes e o restante da sociedade. Começou a ser adotado em escala social no início do século 20. Foi incentivado na Europa no pós-guerra, para que a recuperação dos equipamentos devastados em combate fosse acelerada com a mão de obra disponível. Logo depois, a partir dos anos 1960, ganhou força nos Estados Unidos, turbinado pela mistura dos conceitos de realização individual típicos da cultura americana com a necessidade de mostrar uma nação poderosa em todos os seus aspectos na nova realidade da Guerra Fria.
O Movimento Maker é um desdobramento, com recursos ampliados, das inúmeras possibilidades de massificação abertas, nas últimas três décadas, pela miniaturização e popularização de objetos de informática, computadores pessoais, circuitos, softwares e hardwares livres. E também pelo barateamento de equipamentos como impressoras 3D, cortadoras a laser, blocos de montar e kits eletrônicos para criação de protótipos, estes últimos compostos majoritariamente pelas placas de programação Arduíno e BBC Micro:bit.
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Esses dois fatores – popularização do mundo digital e redução dos preços de equipamentos e hardwares de ponta do setor de produção – foram decisivos para a introdução do Movimento Maker nas escolas fundamentais e médias públicas e privadas, nos cursos e em outros projetos de educação no Brasil e no mundo. O Movimento Maker na educação é a introdução dos conceitos dessa cultura no ambiente das escolas públicas e privadas, cursos e de outros projetos educacionais.
Os criadores do portal Fazedores , um dos principais espaços dedicados a conteúdos educacionais maker colaborativos e gratuitos mantidos por brasileiros na internet, detalham parte da história da evolução do movimento. “Com o acesso cada vez mais fácil e barato a ferramentas dos mais variados tipos, e a explosão de informações sobre tecnologia e técnicas na internet, o Movimento Maker vem se tornando cada vez mais forte e, hoje, conta com centenas de milhares de pessoas envolvidas”, destacam. “Foi fundado por volta de 2005 com o lançamento da bíblia do movimento, a revista Make Magazine. Além dela, os líderes criaram também um evento anual chamado Maker Faire, ou Feira Maker, que agrupa entre 50 mil e 125 mil pessoas em três das maiores cidades dos Estados Unidos.”

Movimento Maker escolas

Foto: divulgação Escola Castanheiras


“De lá para cá”, acrescenta a turma do portal, “milhares de pessoas, os Makers ou Fazedores, se juntaram ao movimento e foram seguidas por centenas de empresas que abraçaram a filosofia maker como forma de trabalhar. O resultado é um movimento forte e relevante. Ele tem cara de revolução e está mudando totalmente a forma como criamos e nos relacionamos com as coisas. O empreendedorismo é muito presente entre os makers, pois cada vez mais fazedores criam novas empresas a partir de seus projetos pessoais”.
A Cultura Maker produziu impactos importantes na economia mundial, e até na história, antes mesmo da construção do cenário a partir da explosão popular da internet e dos equipamentos. Ela foi responsável pela geração e parte do desenvolvimento de setores poderosíssimos. Caso, por exemplo, da indústria de computadores pessoais, de origem no Homebrew Computer Club. Foi nesse clube americano de computadores caseiros que, em abril de 1976, dois jovens, Steve Jobs e Steve Wozniak, apresentaram ao mundo o Apple I, um dos primeiros hardwares pessoais de informática do mundo e produto inaugural da hoje gigante multinacional, para mudar de rota a nave da humanidade.
Um dos principais gurus e incentivadores da Cultura Maker é o físico, jornalista e escritor britânico Chris Anderson, autor dos livros A Cauda Longa: Do Mercado de Massa para o Mercado de Nicho e Makers, a nova Revolução Industrial. Anderson trabalhou nas revistas Science, Nature e The Economist. Foi editor-chefe da publicação americana Wired até 2012, quando abandonou as redações, convidou como sócio um adolescente mexicano que conheceu pela internet, transformou o hobby de construir robôs em negócio e fundou a 3D Robotics, hoje uma das mais importantes empresas do mercado mundial de drones.
“Estamos vivendo um momento onde não há mais nenhum tipo de barreira. Onde todos podem fazer”, declarou Anderson, empolgado, numa edição recente da Campus Party no Brasil. “O relógio que estou usando não foi feito por uma grande empresa, e sim por makers”, destacou em outro ponto da palestra com o dedo apontado para o pulso em que trazia o seu Pebble, exemplar de um smartwatch produzido depois de uma bem-sucedida campanha de crowdfunding na internet. Para ele, o Brasil tem todas as condições de ter uma versão do Vale do Silício potente, mas adaptada à sua realidade. “Vocês têm os melhores engenheiros aqui. Estão entre os melhores do mundo. Há também muitos bons atores nas áreas de informática, tecnologia e internet. Em resumo: façam rápido, façam agora.”
O potencial sugerido pela reunião de tantos componentes de barateamento, popularização e ensino em informática, matemática, química, engenharia, ciência, tecnologia, arte, design e indústria, entre outras áreas, leva grande parte dos adeptos da Cultura Maker a acreditar estar diante dos primeiros movimentos do surgimento de uma nova revolução industrial. Exagero? Empolgação? Otimismo? Talvez um pouco de tudo isso junto – ou não.
makers na escola

Foto: divulgação Escola Castanheiras

Manifesto

Os makers já possuem até um manifesto. Ele foi publicado em detalhes, e também numa versão resumida, no livro “The Maker Movement Manifesto: Rules for Innovation in the New World of Crafters, Hackers, and Tinkerers” (O Manifesto do Movimento Maker: Regras para Inovação no Novo Mundo dos Artesãos, Hackers e Reformadores), de Mark Hatch, fundador da empresa TechShop e um dos gurus mundiais do movimento, lançado em 2013 na Europa e nos Estados Unidos. Hatch é um dos que acreditam no potencial revolucionário do MM, “talvez maior até do que o da internet”. A ver com toda cautela.
A seguir, a tradução da versão resumida do manifesto:
Fazer – Algo fundamental para o significado do ser humano. Devemos fazer, criar e nos expressar para nos sentirmos inteiros. Há algo único em fazer coisas físicas. Elas são como pequenos pedaços de nós e parecem incorporar porções de nossas almas.
Compartilhar – O sentimento total de plenitude de um criador ou inventor só é alcançado quando ele compartilha o que fez e sabe sobre o fazer com os outros. Fazer e não compartilhar é inviável e anacrônico.
Presentear – Há poucas coisas mais altruístas e satisfatórias do que dar algo que você fez. O ato de fazer coloca um pequeno pedaço de você no objeto. Dar isso para outra pessoa é como doar um pequeno pedaço de si mesmo. Tais coisas muitas vezes são nossos itens mais estimados.
Aprender – Você deve aprender a fazer. Sempre procurar aprender mais sobre sua criação. Você pode se tornar um viajante ou mestre artesão, mas ainda aprenderá, desejará aprender e impulsionará o aprendizado de novas técnicas, materiais e processos. Construir um caminho de aprendizagem garante uma vida rica e recompensadora e, mais importante, permite compartilhar.
Equipamentos – Você deve ter acesso às ferramentas certas para cada projeto. Invista e desenvolva acesso local às ferramentas de que você precisa para fazer o desejado. As ferramentas jamais foram tão baratas, poderosas e fáceis de usar.
Divirta-se – Tenha bom humor diante do que está fazendo, e ficará surpreso, animado e orgulhoso do que descobrir.
Participe – Junte-se ao Movimento Maker e alcance os que estão por perto. Juntos, vocês irão trocar experiência, conhecimento e descobrirão a alegria de fazer. Realizem encontros, seminários, festas, eventos, dias de fabricante, feiras, exposições, aulas e jantares com e para os outros makers em sua comunidade.
Apoie – Isso é um movimento. Requer apoio emocional, intelectual, financeiro, político e institucional. Apoie no que for ao seu alcance. A melhor esperança de melhorar o mundo está em nós mesmos. Somos responsáveis ​​por isso fazendo um futuro melhor.
Mude – Aceite e abrace as mudanças que se apresentarão e ocorrerão naturalmente em sua trajetória maker. Você se tornará uma versão mais completa de você mesmo (no espírito maker, sugiro fortemente que você pegue esse manifesto, faça mudanças nele se for o caso, e trilhe o seu próprio caminho. Esse é o ponto no fazer).

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Autor

Eduardo Marini


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