NOTÍCIA
Apesar de sabermos que a plasticidade é maior na primeira infância, ela ainda é grande na adolescência e tudo indica que persiste de maneira significativa na vida adulta
Publicado em 25/04/2019
Quando cursei o ensino médio – naquele tempo longínquo em que ainda se chamava segundo grau – aprendi que a formação de novos neurônios, a neurogênese, ocorria apenas durante a vida intrauterina. Costumo perguntar aos meus alunos de graduação o que eles aprenderam a respeito em seus cursos pré-vestibulares e muitos relatam o mesmo: neurônios não são formados após o nascimento.
É curioso como o conhecimento científico atualizado muitas vezes demora a chegar às aulas da educação básica. A primeira evidência de que novos neurônios são produzidos no cérebro humano adulto surgiu há mais de 20 anos, em artigo publicado pela revista Nature Medicine, em 1998. Um grupo de pesquisadores suecos e norte-americanos liderado pelo neurocientista Fred Gage mostrou o aparecimento de novos neurônios no hipocampo – região cerebral importantíssima para a formação das memórias – de indivíduos adultos.
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A demonstração da existência de neurogênese após o nascimento sugere que a plasticidade cerebral não se limita a mudanças na configuração das redes neurais, mas inclui a incorporação de novos neurônios a essas redes. Situações de novas aprendizagens seriam estímulos à formação de novos neurônios. A técnica utilizada no estudo de Gage permitiu a identificação de novos neurônios apenas após a morte dos pacientes que participaram do estudo. De lá para cá, novas técnicas surgiram facilitando a investigação na área, possibilitando a identificação de novos neurônios ainda em vida.
Em 2018, um estudo publicado na revista Nature colocou em dúvida os resultados obtidos pelo grupo de Gage ao mostrar que a produção de novos neurônios seria grande na infância, mas praticamente indetectável em adultos. Alguns meses depois, outro estudo publicado na também importante revista Cell Stem Cell mostrou que a neurogênese persiste na idade adulta.
É importante ressaltar que os estudos identificaram a neurogênese em apenas uma área cerebral, o hipocampo. Ainda não há evidências de que ela ocorra em outras regiões cerebrais, como o córtex, por exemplo. Uma possível explicação para esses resultados aparentemente contraditórios é a diferença nas técnicas utilizadas para detecção da neurogênese.