NOTÍCIA
Os especialistas não cansam de apresentar números, estatísticas e dados que apontam a necessidade de se adotar o tema em instituições de ensino brasileira em escala aceitável
Publicado em 24/11/2019
Nos últimos cinco anos, o número de projetos de lei inspirados nas ideias dos integrantes do movimento Escola Sem Partido, que defende limitações na atuação dos professores em temas políticos, de gênero ou educação sexual, cresceu de forma importante. Criaram o termo “ideologia de gênero”, rechaçado pelos educadores, mas adotado com ênfase por Bolsonaro e seus auxiliares. Mas, de acordo com a última pesquisa Datafolha, 49% consideram que o assunto deve ser tratado no ensino fundamental, 54% no médio e 63% no superior.
Em seu novo livro, Mamãe, o Que é Sexo? – Vem Que Eu Te Ajudo Com a Resposta, em que aborda dúvidas dos filhos, o papel das escolas e das famílias e prevenção de abuso sexual infantil, Lilian Macri destaca um levantamento do Instituto de Pesquisas Aplicadas (Ipea) com base em dados apurados em 2017 pelo Sistema de Informações de Agravo de Notificação do Ministério da Saúde (Sinam). O estudo revela um dado preocupante: sete em cada dez vítimas de estupro no país são crianças e adolescentes.
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No mesmo trabalho, Lilian revela que 98% dos abusos sexuais são cometidos aqui por homens, mais de 80% dos casos têm pais ou padrastos como realizadores e a maioria das atitudes é tomada contra meninas. “A maior parte dos abusadores não é pedófila no contexto da doença, ou seja, não são homens com preferência sexual por crianças”, chama atenção Lilian. “Eles cometem o crime por acreditar que as crianças estão à sua disposição. A atitude é sustentada na crença de que os menores são objetos”, acrescenta.
“Estima-se que, a cada hora, três crianças ou adolescentes sofram algum tipo de abuso, assédio ou toque sexual de adultos. Um a cada 20 minutos. É espantoso. A ordem de quem comete os abusos é a seguinte: pais, padrastos, avós, tios, cunhados, outros parentes e amigos próximos frequentadores da casa. Muitas vezes nem dor provocam, o que faz com que o menor não entenda inicialmente a gravidade do fato e permita os abusos por longo tempo. Quando ele finalmente percebe, fica atormentado, arrasado psicologicamente, com muito sofrimento”, detalha Caroline Arcari,pedagoga, escritora e mestre em educação sexual pela Unesp.
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“A conclusão é óbvia: se a ameaça, quando ela existe, está dentro da casa da criança ou do adolescente, a existência de um elemento externo para esclarecer os alunos, e até mesmo ter a chance de identificar situações em que algo muito errado ocorre, é fundamental e indispensável. E nada melhor do que esse elemento externo ser um educador preparado para identificar tudo isso dentro da estrutura escolar, que, além dos familiares, é a parte informada em convívio com o estudante nesse período da vida deles. Mesmo porque, infelizmente, parece inacreditável mas ainda temos mães ou mesmo famílias, e muitas, que percebem os abusos mas fingem que a situação não existe.”
Estudos comparativos realizados ou oferecidos a pesquisadores do assunto em todo o mundo mostram que, ao contrário do que pensam os que condenam a inclusão do tema nas escolas, os adolescentes e jovens que têm educação sexual nas salas de aula iniciam a vida sexual, na média, bem mais tarde do que os sem essa orientação. “Isso é realidade atestada por pesquisas no Brasil e em todo o mundo”, afirma a assistente social e professora Karina Figueiredo, mestre em Política Social pela Universidade de Brasília (UnB) e secretária-executiva do Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Criança e o Adolescente. “Não apenas retardam o início da vida sexual, mas também escolhem os parceiros com critérios mais responsáveis, são menos expostos às ISTs e envolvem-se bem menos com gravidez precoce. É, portanto, rigorosamente o contrário de tudo o que estamos ouvindo nos últimos meses”, frisa ela.
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