NOTÍCIA
Professores sentem despreparo para utilizarem plataformas digitais. Realidade é ainda mais forte nas regiões vulneráveis
Publicado em 23/06/2020
As condições estrutural e social da família são consideradas há tempos elementos fundamentais para garantir a aprendizagem dos filhos. O acompanhamento dos estudos por parte de pais ou responsáveis, com atento e cuidado, é um gesto encorajador para que os estudantes sintam-se confiantes e consigam seguir adiante, mesmo nas piores situações. Em outra frente, manter a comunicação constante com a escola é o tópico número um de recomendação para famílias por parte de psicanalistas ligados à educação.
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Nessa relação, o limite entre “intromissão” e “acompanhamento”, entretanto, é um assunto ainda nebuloso, sobretudo após o ingresso do estudante nos últimos anos do ensino fundamental, quando a escolarização, no sentido estrito, começa a demonstrar sua força no currículo e no conteúdo. Desenhar caminhos para esse relacionamento não é tarefa fácil; exige recursos humanos e tempo por parte de diretores das escolas e pais, atolados de trabalho, e formuladores de políticas públicas, geralmente com outro foco.
A Covid-19, que empilhou escola, casa e escritório em um mesmo espaço físico, tumultuou ainda mais essas relações. Um documento recém-publicado pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e CIMA (Centro de informacíon para la Mejora de los Aprendizajes), com foco na América Latina e Caribe, ilumina a questão no momento em que o ensino remoto se impôs sem aviso prévio.
No caso das famílias, o relatório indica que pais que vivem em regiões com maior nível socioeconômico se envolvem mais na aprendizagem dos filhos. Para Brasil, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana e Peru, o envolvimento dos pais na educação abre até 10 pontos percentuais de diferença dependendo da microrregião em questão. No Brasil, por exemplo, 25% das famílias em regiões vulneráveis acompanham a educação dos filhos, contra 38% das regiões mais ricas.
No lado da escola, em termos de condições digitais, somente o Uruguai conseguiu atingir o nível aceitável dentre os quesitos estruturais e de formação docente em ambientes analisados. O Brasil aparece em sétimo lugar, apontando a “tutoria digital” como seu fator mais crítico; em outras palavras, a formação docente para acompanhar os alunos em plataformas digitais. Na região toda, 60% dos professores não estão preparados para isso. Nas regiões mais vulneráveis de cada país, os números despencam muito mais.
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A conclusão é que em tempos de pandemia, os pais deixam de ser importantes e se tornam fundamentais na aprendizagem dos filhos. Há uma oportunidade: que no oceano de start-ups voltadas à educação, se desenvolva algum modelo barato de aproximação e acompanhamento dessa relação. Esse protótipo deve incluir a gestão da informação, mas também a palavra-chave “acolhimento”, difícil de ser traduzida em linguagem de máquina.
* Alexandre Le Voci Sayad é jornalista e educador, diretor da ZeitGeist. É colunista de A Gazeta do Povo e autor do livro Idade Mídia – A Comunicação Reinventada na Escola, entre outros. Atualmente serve como chairman da aliança mundial da Unesco para educação midiática (GAPMIL). É membro do conselho consultivo do programa Educamídia e do conselho científico da revista acadêmica Comunicar (Universidad de Huelva, Espanha).
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