Alunos do 5º ano do ensino fundamental de duas escolas municipais de Cotia, SP, mergulharam no universo de uma matemática aberta, criativa e visual. O resultado dessa experiência foi um ganho de um ano e três meses de escolaridade em conceitos matemáticos – em apenas […]
Publicado em 10/08/2020
Alunos do 5º ano do ensino fundamental de duas escolas municipais de Cotia, SP, mergulharam no universo de uma matemática aberta, criativa e visual. O resultado dessa experiência foi um ganho de um ano e três meses de escolaridade em conceitos matemáticos – em apenas 10 dias. A informação é do Instituto Sidarta, que em parceria com o Itaú Social promoveram, em janeiro deste ano, o Curso de Férias do Programa Mentalidades Matemáticas. A iniciativa teve apoio da Secretaria Municipal de Educação de Cotia.
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O trabalho foi liderado por Jack Dieckmann, diretor do Centro de Pesquisas Youcubed da Universidade Stanford (EUA). Ao todo, 70 estudantes foram testados antes e depois do Curso de Férias. A evolução de um ano e três meses alcançada pelos alunos é correspondente ao padrão estadunidense, calculado a partir do desempenho na avaliação MARS (Mathematics Assessment Resource Service). É o mesmo teste usado por Stanford em Cursos de Férias realizados nos EUA.
“Como um estudo de validação, estamos construindo evidências para o Mentalidades Matemáticas fora do contexto original nos EUA. A equipe do Sidarta implementou o programa em uma escola pública brasileira, mostrando que, com a escolha certa das práticas de ensino e currículo, estudantes de todas as origens podem desfrutar e se sentirem capazes em matemática”, disse Jack Dieckmann.
Ainda segundo o Instituto Sidarta, os alunos também aumentaram o gosto pela matemática e reduziram o nível de ansiedade com a disciplina. Quase todos os participantes (96%) compreenderam que errar faz parte do processo de aprendizagem (um dos principais focos do programa). Esses dados foram obtidos de um questionário com os alunos, em escala likert, para avaliar a relação com a matemática e os conceitos do Mentalidades Matemáticas. Outro ponto que chamou a atenção foi que, em média, as meninas tiveram avanço 3.5 vezes maior do que o dos meninos.
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A metodologia do Curso de Férias foi posta em prática pela primeira vez em 2015, na Califórnia, durante 18 dias, com alunos dos 6º e 7º anos. Lá, nesse período mais longo, ocorreu uma evolução equivalente a dois anos e sete meses de ensino regular de matemática. Em 2019, o modelo foi expandido para 14 locais nos EUA e Escócia, e a avaliação brasileira seguiu o mesmo método, o que torna possível a comparação.
Diante dos resultados promissores, o Itaú Social estuda levar a experiência para outros lugares no Brasil, transformando-a em uma tecnologia social para redes públicas. “Historicamente, a aprendizagem da matemática é um desafio no contexto brasileiro, principalmente se considerarmos alunos mais atingidos pelas consequências das desigualdades sociais, com ênfase na questão de gênero. Estes resultados significam que mais estudantes podem se beneficiar, não só o grupo que já apresenta um bom desempenho, aspecto fundamental para colocarmos a metodologia à disposição de municípios e estados parceiros”, diz Juliana Yade, especialista em educação do Itaú Social.
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Mentalidades Matemáticas é uma abordagem de ensino que envolve matemática e neurociência criada pela professora Jo Boaler, da Universidade Stanford. Em 2016, o Instituto Sidarta passou a aplicá-la no Brasil, no Colégio Sidarta e na Escola Estadual Henrique Dumont Villares. O instituto também forma professores na abordagem. Para esta edição do Curso de Férias, 25 docentes foram formados ao longo de três meses.
“A pesquisa nos trouxe evidências consistentes de que crianças brasileiras são capazes de aprender matemática em altos níveis quando desafiadas por um ensino aberto, criativo e visual. Ao desenvolver uma relação positiva com a matemática, elas se permitiram arriscar mais e aprenderam mais. Este Curso de Férias foi uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Cotia, e estamos conversando com outros municípios interessados em oferecer o programa a seus alunos”, disse Ya Jen Chang, presidente do Instituto Sidarta.
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