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Simone Kubric, gestora do Instituto Catalisador, abordará tecnologia feita com as mãos como engrenagem no processo de escolarização em oficina da Jornada Bett Online, em 12 de maio. Entenda o conceito e projetos os quais a especialista atua
Publicado em 06/05/2021
Não é nenhuma novidade que a metodologia de ensino escolar predominante é a focada na aprendizagem formal, voltada basicamente para a leitura, a escrita e os cálculos matemáticos pouco práticos na vida cotidiana, e isso não significa que esse processo não seja importante, pelo contrário: ele é necessário para a formação escolar. Mas este não é o único caminho.
Quem diz isso é Simone Kubric, pedagoga, cocriadora e gestora do Instituto Catalisador. Ela falará sobre Rodas de invenções: uma ponte entre o high tech e o low tech, na 2ª Jornada Bett Online, em 12 de maio, às 16h, juntamente com sua parceira no projeto, a engenheira de alimentos Rita Junqueira. Esse tema faz parte de uma oficina o qual ela apresentará para os educadores o conceito de “aprendizagem criativa”, método praticado por meio do uso da tecnologia, que por sua vez, não se limita ao digital, aos computadores e softwares, mas utiliza o que está disponível na escola: a própria sala de aula, a quadra ou mesmo a sala de informática que tem computadores com programas desatualizados.
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“A ideia de aprendizagem criativa é que é possível criar algo e entender a tecnologia desde o papelão e a massinha até os circuitos elétricos, a eletrônica e o digital. É colocar a mão na massa não só para produzir artefatos e engenhocas, mas produzir conhecimento e significado para aprender fazendo; na prática”, explica Kubric.
Mão na massa, inclusive, é o nome de uma das atividades do projeto Rodas de invenções que o Instituto Catalisador realiza nas escolas das redes pública e privada e que a pedagoga quer passar para os educadores nessa oficina online. “Vamos falar de tecnologia de uma forma mais ampla, já que ela é muito mais abrangente do que computadores, impressoras 3D e cortadores a laser. Gostamos de falar que o termo abrange desde a tecnologia das pontas dos dedos até a tecnologia de ponta mesmo”, brinca. “O objetivo é mostrar para os educadores que é possível incluir essas tecnologias como meio de expressão e linguagem e não como um objetivo final”, diz.
E no projeto, o que Simone Kubric e Rita Junqueira propõem por meio da tecnologia é a brincadeira, mas com propósito. Tudo começa com uma roda de leitura para instigar a imaginação dos alunos sobre o que gostariam que existisse na cidade, por exemplo, e a partir daí, botar a mão na massa para construir a engenhoca. Nem tudo o que elas constroem é proposto na atividade, geralmente parte da criatividade delas mesmas. Kubric acrescenta que a engenhoca em si é menos importante do que o processo de conhecimento que ela possibilita ao ser construída, pois a intenção, de fato, está no processo.
“O foco não é se a tecnologia é low ou high tech, mas sim o propósito de produzir conhecimento. E o intuito do Rodas de Invenção é isso, não importa o recurso disponível, ele será utilizado para gerar conhecimento na prática.”
Esse projeto encontra espaço e faz sentido nas escolas, principalmente ao possibilitar maior engajamento na aprendizagem como um todo e reconstrói a confiança do aluno em aprender. “A gente vivencia experiências de crianças que perderam o bonde da escolarização porque estão desgastadas pela crença que elas mesmas ou muitas vezes os próprios professores e pais colocaram nela sobre fracasso, por não ter aprendido a ler e escrever convencionalmente, de não se dar bem na matemática e em tudo o que envolve a linguagem formal da escola. Então, quando elas estão construindo algo com as próprias mãos e se dão conta de que aquilo que elas imaginaram funciona, elas se surpreendem com a própria capacidade, o que potencializa a aprendizagem em todas as competências escolares”, comenta Kubric.
A pedagoga fomenta a importância da educação formal e do padrão de ensino já existente, mas entende e defende o uso da tecnologia e o aprender brincando como uma ponte para uma melhor absorção do conteúdo dado pelas vias convencionais. Aqui ela cita o exemplo de quando um professor de educação física, juntamente com seus alunos queriam fazer um troféu para um determinado campeonato. O docente buscou parceria com um guru do Fab Lab Livre SP (espaços públicos de criatividade, aprendizado e inovação), e reuniu sua turma para aprender e confeccionar o troféu numa impressora 3D. “Aqui já poderia reunir o professor de física ou matemática, já que impressora 3D tem tudo a ver, e já viraria um processo de aprendizagem interdisciplinar”, explica.
Outra ocasião citada pela pedagoga foi quando os alunos de uma EMEF tiveram a ideia de criar um brinquedão na escola, um gira-gira: primeiro conseguiram doação de madeiras lineares para a construção do piso circular e depois enfrentaram outro desafio: erguer a engenhoca. “Eles estavam tão engajados em fazer isso acontecer, não porque precisariam de nota, como uma prova – até porque o propósito em nenhum momento é esse -, mas porque eles queriam fazer. Eles não conheciam a fórmula para calcular a área de construção de um piso circular com madeiras lineares, mas eles deram um jeito e fizeram.” Esses são alguns dos exemplos que segundo Kubric provam para os próprios alunos que eles são capazes e inteligentes e que recuperam a confiança neles mesmos em relação à capacidade de aprender.
“O legal das atividades Mão na massa é que elas não exigem nenhum conhecimento prévio e não tem essa barreira da exigência da leitura, escrita e cálculo. Eles realmente se veem motivados e se engajam na aprendizagem de forma mais confiante e passam a pensar: ‘Então eu também consigo aprender a ler e escrever, também consigo fazer aquela conta de matemática. Eu sou capaz”, explica a pedagoga.
O processo de aprendizagem por meio do low ou do high tech também tem o intuito de mostrar que tem lugar para todo mundo na escola, que qualquer pessoa, de qualquer idade pode participar. Kubric diz que o Instituto Catalisador já atuou em escolas desde a educação infantil ao ensino médio e até em programas de pós-graduação. Atualmente, enxerga uma necessidade maior para os alunos do ensino fundamental 2, principalmente porque para ela eles estão num limbo no qual a prioridade não é mais a alfabetização e educação básica como no fundamental 1, nem chegaram ainda nas preocupações do ensino médio: vestibular e mercado de trabalho. Então, “este é o lugar onde se mostra mais necessário o resgate da confiança no processo de aprendizagem”, observa.
Durante os seis anos de trabalho com o Instituto Catalisador nas escolas, Kubric percebeu que é possível envolver socialmente e prender a atenção de um aluno autista, por exemplo, por muito mais tempo. Isso, além de incluí-lo nas atividades escolares, gera encantamento dos colegas por esse aluno e não mais o estranhamento. “O bonito é que isso ocorre de forma natural e genuína, sem que o professor precise chamar a atenção dos demais para compreender suas particularidades”, conclui.
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