NOTÍCIA
Célebre psicoterapeuta contemporâneo abordou saúde mental de professores e alunos em painel da Jornada Bett online 2021
Publicado em 13/05/2021
“Você se tornar um professor perguntador, te dá a oportunidade de fazer desta pandemia um momento para formar pensadores e não repetidores de informação.” Perguntar, questionar foi o centro de toda a fala de Augusto Cury, psiquiatra, psicoterapeuta, professor e autor de livros famosos de autoajuda, entre outros títulos. Ele fechou a programação do segundo dia da Jornada Bett Online que aconteceu ontem, 12, em painel sobre saúde mental e habilidades socioemocionais, dando foco à relação professor e aluno.
“Se você não aprender a conversar com as suas emoções, perguntando como, quando e porquê, questionando e duvidando de tudo aquilo que te controla, dando um choque de lucidez em pensamentos perturbadores e tendo autoridade de ser líder de si mesmo, o seu eu [self] tem capacidade para desenvolver saúde mental – tão falada, mas tão pouco alcançada. Você tem que sair dessa posição passiva e ir para o palco da sua vida”, afirmou Cury com o intuito de incentivar os educadores a começarem uma mudança de pensamento neles mesmos e assim, positivamente seus estudantes.
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O psicoterapeuta destacou ainda a importância do autoconhecimento enquanto uma jornada que todos devem empreender. Partindo do lado do professor, pode-se praticar o “silêncio proativo”, termo utilizado por ele para designar o ato de calar-se diante de uma afronta, contrariedade ou ofensa e questionar-se, por exemplo: “por que comprei essa ofensa?”, ou “por que me angustiei ou me hipersensibilizei diante de uma crítica?”, “o quanto vale minha saúde mental para isso?”
Augusto Cury continuou dizendo que o ato de se questionar faz com que as pessoas deixem de ter uma reação mais racionalista e passe a gerir suas emoções. A viagem para dentro de si aumenta a resiliência e a lógica de “bateu-levou” já não será mais a primeira reação em outros casos semelhantes. Principalmente quando a ofensa ou a contrariedade vem do aluno. Ter uma atitude diferente da elevação da voz, por exemplo, gera um outro impacto.
Quanto ao estudante, é preciso empatia e mudar a era do apontamento de falhas, para a era da celebração dos acertos, acredita o especialista. No caso, deixar de sentenciar alunos com afirmações do tipo “se continuar assim, você vai dar em nada”, constrói em sua mente “janelas light” que são capazes de neutralizar a inquietação e a tendência à frustração. “Você deve semear com paciência e colher com perseverança, senão não é educação”, provocou.
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“Seja um educador perguntador, exponha, mas instigue a curiosidade perguntando, usando exemplos na realidade deles ali mesmo da sala de aula, trazendo eles para a matéria e, principalmente, tocando a emoção. O fenômeno RAM deles vai registrar você de maneira privilegiada”, brincou Cury.
“Se você for um mero explicador ou expositor de conteúdo, ainda que seja o melhor especialista em sua disciplina, você não conseguirá cativar a atenção de seus alunos”, seguiu, alertando que a mente dos alunos hoje está hiperacelerada, com necessidade de muitos estímulos para viver migalhas de prazer por conta da “intoxicação digital” a que se submetem e que se o professor não souber competir com isso, ele vai frequentemente perder a atenção de seu aluno.
Augusto Cury ainda chamou a atenção dos educadores para não serem chatos, daqueles que insistem em algo, repetindo muitas vezes a mesma coisa ou o mesmo pedido centenas de vezes: “isso abre uma janela killer e o leva a repetir as mesmas coisas. Ao invés disso, celebre os acertos quando ele atender a uma ordem. Dessa maneira, você estimula o biógrafo do cérebro, o fenômeno RAM, a construir pequenos tijolos e arquivos. Não é você que muda o outro, ele mesmo se reinventa. Pouco a pouco, a realidade dos comportamentos mais inadequados tem possibilidades reais de mudança. Ele [estudante] se torna mais saudável e você também se torna mentalmente mais saudável”, concluiu.
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