ARTIGO
Pense como seus alunos; receba e dê feedback; sempre tenha um plano B; ansiedade para quê; reveja seus métodos avaliativos são algumas das orientações. Entenda cada uma delas neste artigo
Publicado em 25/05/2021
Por Regina Madureira*: De um dia para o outro, tivemos nossas vidas – pessoais e profissionais – modificadas, sem aviso prévio e nem tempo para nos preparar. Para a educação, com as aulas online, a ideia de não termos o contato físico e a troca que o presencial proporciona foi um verdadeiro repensar em práticas pedagógicas e uma revisita ao papel do professor e professora.
Como manter o engajamento, o processo de ensino e aprendizagem de valor e a proposta pedagógica online sendo que a escola – incluindo os professores, coordenadores, diretores, alunos e comunidade – não estava preparada para essa situação? Saber que a educação não é estanque, que precisamos sempre evoluir nossas práticas, com ou sem pandemia, é o ponto de partida para qualquer movimento atual e futuro que possamos enfrentar.
Para ajudar nesse processo de reflexão, deixo aqui 10 dicas para essa nova jornada que todos nós estamos trilhando – de uma apaixonada pela educação a distância para os professores.
Leia: Mais que preparo acadêmico e boa intenção, professor precisa ter equilíbrio emocional
1. Pense como seus alunos: você gosta de ficar naquela reunião ou videochamada com seus coordenadores sem fazer nada? Só ouvindo? Você olha seu celular ou se distrai com outra aba do navegador? Pois então, seu aluno fará o mesmo. A ideia é engajá-lo para ter que fazer algo durante a aula – aulas expositivas nesse contexto são as que mais sofrem, bem como os professores que as aplicam. Os alunos possuem todos os conteúdos disponíveis na aba ao lado. Qual seu diferencial? Fazer que eles consigam aplicar o conteúdo, aprendam a refletir sobre ele, sejam protagonistas. As atividades precisam ser pensadas para esse tipo de prática. A leitura sobre metodologias ativas nunca foi tão primordial como agora. Aproveite esse momento para rever as práticas e como elas são aceitas pelos seus alunos.
2.Receba e dê feedback. Sim, ouça os alunos. Tire um tempo para passar uma pesquisa de satisfação. Qual momento da aula vocês mais gostam? Qual dinâmica interessa menos a vocês? A construção em conjunto é muito significativa e promissora e é desta forma que o ensino customizado vai tomando forma. O que isso significa? Ter um tempo para cada um deles com orientações direcionadas. É sempre válido para o ser humano ouvir e ser ouvido, notar e ser notado. Durante as aulas presenciais isso ocorre quando você vai até a carteira/mesa dos alunos, quando você os encontra no corredor…hoje perdemos esses momentos presencialmente, mas podemos fomentá-los por meio digital.
3.Sempre tenha um plano B. Como assim plano B? Se você precisa passar um conteúdo de terceiros, tenha duas fontes diferentes com o mesmo conteúdo disponíveis (e já testados – internet é terra de ninguém, meus queridos…). Plano B é uma grande parte do sucesso da sua aula.
4.Envolva os alunos. As premissas básicas do processo ensino e aprendizagem continuam, como o ato de criar laços com os alunos (principalmente da educação infantil), por exemplo. Essas premissas precisam ser fomentadas, mesmo no contexto online, como citado previamente. Comece a sua aula trazendo temas atuais, conversando e envolvendo os alunos – para a educação infantil, não esqueça que eles estão em casa, com outros estímulos (os brinquedos deles estão ali, ao alcance das mãos), portanto, saber informações como cor favorita, personagem favorito, nome de animal de estimação parece que não é importante, mas fortalece laços. Faça parte da vida deles.
5.A tecnologia é sua aliada. Busque ferramentas e possibilidades que possam proporcionar agilidade e facilidade à sua vida, até mesmo ao preparar suas aulas. Consegue deixar algumas abas abertas? Existe alguma ferramenta para deixar a dinâmica mais interativa? Ao preparar suas aulas, pense em como você se sentiria engajado ao realizar a atividade proposta.
6.Conheça o que eles gostam. Como os alunos conseguem decorar o nome de todos os Pokémon existentes, mas não sabem conceitos básicos de diversas áreas? Engajamento. Aprendemos o que faz sentido para nós – até mesmo nós, professores e professoras. Com os alunos não é diferente. Contextualizar, deixá-los fazer parte do processo, colocá-los como pilar principal faz uma imensa diferença, que tal tentar?
7.Ansiedade para quê? – Estamos vivendo um momento atípico que nos traz oportunidades de desenvolvimentos diferentes das que vivemos no contexto presencial. Significa que vamos ter retrocessos? Não necessariamente. Estudos recentes, como o último lançado pelo World Economic Forum em janeiro de 2020, mostram cada vez mais que as competências e habilidades que precisamos desenvolver em nossos alunos são relacionadas com soft skills – criatividade, empatia, resiliência, dentre outras. Por que não aproveitar o momento para focar nesses desenvolvimentos? Os alunos estão tendo uma oportunidade ímpar de desenvolver responsabilidade, foco, disciplina, interação familiar… Isso é tão importante quanto entender conceitos de ecologia e sustentabilidade ou qualquer outro conceito e que podem ser aplicados durante essa interação e desenvolvimento pessoal.
8.Reveja seus métodos avaliativos. Vamos tomar a educação infantil como exemplo para esse tópico, já que fazemos, normalmente, um processo de avaliação formativa para essa faixa etária. O que você, presencialmente, avaliaria naquela atividade proposta? O que você consegue avaliar no contexto online? Será que avaliar o foco da criança ou mesmo os interesses dela não seria tão valioso quanto os processos e registros? Observar o raciocínio, a escuta ativa, a empatia, o posicionamento perante conflitos e outras posturas também fazem parte do desenvolvimento da criança e podem ser avaliados no contexto online. Tenha um roteiro adaptado para esse contexto e para essa avaliação.
9.Adaptação, adaptação, adaptação. Sim, vamos precisar nos adaptar. A educação 5.0 está batendo à nossa porta e quanto antes aceitarmos que essa é a nova estrutura para o contexto educacional, melhor. Ter jogo de cintura nunca foi tão relevante. As pessoas falam muito do conceito de mundo VUCA (volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade), mas nunca imaginaram que viveríamos esse conceito de maneira tão intensa. E, levando em consideração esse conceito, vamos precisar entender o volátil, o incerto, o ambíguo e a complexidade da situação atual. Você terá que planejar uma aula e, na hora, mudar para outra abordagem, ou mesmo estar preparado/a para modificar o contexto totalmente e falar sobre algo que está sendo noticiado, por exemplo. Trazer conforto e estabilidade para o processo também faz parte do planejamento da aula e essas situações não podem e não devem ser consideradas como “perdi tempo” ou “não vou cumprir o cronograma”. Manter laços trará mais valor agregado do que qualquer outra coisa na atual situação.
10.Divida responsabilidades. Sabemos o quanto os educadores são dedicados e querem sempre o melhor para o processo de ensino e aprendizagem, mas essa prática deve ser compartilhada pela tríade: família, escola e comunidade. Criar um canal de comunicação entre a escola e os responsáveis para que cada representante possa expor suas dificuldades e apresentar melhorias é de suma importância. Nada se faz sozinho nesse mundo, muito menos na educação. Converse, ouça, aprenda e divida experiências. Para finalizar, saiba que você não está sozinho. Os alunos, os responsáveis por eles e as pessoas que os acompanham durante as aulas remotas estão todos dando o melhor – cada um com suas peculiaridades e dificuldades. Quando você estiver desanimado, saiba que um dos seus alunos também está, um dos responsáveis também. Ou seja, vamos ganhar essa luta se unirmos forças. A união por meio da comunicação fará a diferença. Esteja aberto para o novo e para o desenvolvimento, todos só têm a ganhar com isso. Força!
*Regina Madureira tem pós-graduação em gestão e docência em EAD e é gerente de editorial e qualidade da International School.
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