NOTÍCIA
Publicado em 14/10/2021
Educar é formar o ser humano em todas as suas potencialidades para a singularidade da vida. A multiplicidade de ideias, teorias, métodos e promessas de mudança não é privilégio do século 21, mas uma particularidade que acompanha a humanidade desde o princípio de sua existência. A educação formal, cujo símbolo maior é o professor, foi um dos setores mais impactados pela pandemia da covid-19, que nos atinge há mais de 18 meses, grande parte deles com as escolas fechadas, especialmente as públicas. E, nesse mês dos professores, faço questão de homenagear os profissionais gigantes desse ofício no qual me forjei, lecionando matemática, antes de me tornar executivo da área de educação, há mais de duas décadas.
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Mais de 2,5 milhões de professores brasileiros tiveram suas realidades transformadas nessa pandemia, trocando o quadro e as carteiras da sala de aula pelas telas do mundo digital. O objetivo principal foi um só: não deixar nenhum aluno desassistido na batalha diária pela educação. Reportagens da imprensa ao longo dos últimos meses e, no meu dia a dia, o contato com nossa imensa rede de parceiros espalhados por todos os cantos do Brasil mostram histórias inspiradoras desses verdadeiros heróis do conhecimento do nosso país.
Histórias como a da professora Aurenice Costa Fernandez, na comunidade Solimões, a 8 horas de barco de Santarém, no Pará. A diretora da Escola Indígena Nossa Senhora das Graças se preocupou em incentivar o hábito da leitura, entre os mais de 60 alunos.
Aurenice criou o projeto “Maleta Viajante”, que vem funcionando durante a pandemia numa área onde não chega TV nem internet. Numa caixa cor de rosa, ela leva de oito a 10 livros, pessoalmente, até a casa dos alunos. Sempre de barco. Leva opções de literatura, história, conhecimentos gerais para os alunos e, também, oferece leitura aos pais. Os livros ficam emprestados por uma semana.
Ao final do período, ela volta à casa e verifica como está a leitura, pronúncia e pontuação junto às crianças e, principalmente, a interpretação dos textos. Depois, se senta com os pais para discutir o que eles entenderam dos livros que leram.
Já em Juazeiro do Piauí, os professores Maria do Desterro Melo e João Leno Soares criaram um guia chamado “Plano de Comunicação para auxiliar as famílias e os estudantes durante a pandemia”. Além de orientações relacionadas ao coronavírus, o plano sugere brincadeiras que pais e filhos podem fazer durante o período de isolamento. As ações são direcionadas às crianças de educação e dos anos iniciais do ensino fundamental.
Felizmente, histórias como essas não são exceções. Transbordam Brasil à dentro mostrando que mesmo não estando preparados para uma mudança tão grande no processo de ensino e aprendizagem – como toda a sociedade não estava diante da pandemia -, os professores tiveram que repensar o seu fazer e estabelecer mecanismos para garantir que todas as crianças ou jovens continuem aprendendo, especialmente aqueles que estão em situação de vulnerabilidade. O acolhimento aqui é mútuo e virtuoso, como o é o ato de educar.
*Ricardo Tavares é diretor-geral da FTD Educação
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