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Gestão

Diretora e diretor escolar falam de seus desafios e conquistas

Por Laura Rachid e Leticia Scudeiro: Do olhar administrativo ao comunitário, ser gestor escolar não é tarefa fácil, sem contar que é uma profissão ainda pouca valorizada. Para o Dia do Diretor Escolar, comemorado nesta sexta, 12 de novembro, conversamos com dois profissionais que relatam […]

Publicado em 12/11/2021

por Redação revista Educação

Por Laura Rachid e Leticia Scudeiro: Do olhar administrativo ao comunitário, ser gestor escolar não é tarefa fácil, sem contar que é uma profissão ainda pouca valorizada. Para o Dia do Diretor Escolar, comemorado nesta sexta, 12 de novembro, conversamos com dois profissionais que relatam suas trajetórias na educação, destacam as competências de um gestor, desafios, dicas para quem busca ser um diretor, entre outros assuntos.

Assista: O exemplo de Sobral na relação diretor, coordenador e professor

Confira, a seguir, as entrevistas.

Marcia Pedr’Angelo

Diretora pedagógica da escola de educação infantil Toque de Mãe Bilíngue e do Colégio Unicus Global Education, focado apenas no ensino fundamental – ambos em Cuiabá, Mato Grosso. Ambas as instituições atuam como membro da coordenação regional Mato Grosso e Mato Grosso do Sul do Programa de Escolas Associadas à Unesco (Pea).

Qual a sua formação acadêmica e como se tornou diretora escolar?

A primeira foi em fisioterapia. No primeiro ano da faculdade trabalhei em um centro de reabilitação com crianças com dificuldade motora, síndrome de Down e depois atuei em uma clínica com crianças.

Na minha primeira gestação fui buscar uma escola – enquanto você não é mãe você não busca e não vive esse universo – e me surpreendi. Se na clínica eu conseguia ver resultado em uma criança com deficiência, com atendimento personalizado, eu imaginei que a escola regular pensasse e estimulasse da mesma forma, mas não foi o que encontrei.

Foi por motivação do primeiro filho que fui para a área escolar e montei a escola de educação infantil Toque de Mãe, já com psicólogo, psicopedagogo; equipe multidisciplinar para trabalhar com crianças e com estímulo.

Depois de montar a escolar realizei minhas especializações em pedagogia, alfabetização, letramento e outras.

Quais foram as maiores dificuldades que enfrentou ao se tornar diretora? 

Quando decidi trocar a chave profissional [fisioterapia para
educação], diversas pessoas ao redor me chamaram de louca: vai lidar com pai, família, reclamação e a responsabilidade de ter tanta criança. Então a minha primeira barreira foi por meio do meu brilho no olhar e paixão bloquear essas falas e acreditar no meu sonho.

Quando a escola se inicia e como você tem pouco braço, acaba sendo secretária, faz o financeiro, serve o café. Mas, de certo modo, você entende como funciona cada processo ao se colocar em cada papel. Eu percebi que tinha que gerir para o negócio crescer, foi assim que comecei a focar no
desenvolvimento humano e em formação continuada – caminhos para uma educação de qualidade.

Hoje todos os setores: portaria, manutenção, secretaria passam regularmente por treinamento semanal na instituição para eu ter equipe forte com entrega significativa. Entendi que o caminho para crescer e entregar o melhor na educação é realmente trabalhar na formação das pessoas que estão comigo.

Quais as maiores dificuldades que hoje enfrenta no gerenciamento escolar?  

Diretor de escolar precisa ter muito claro três vertentes: 1.precisa cuidar da parte administrativa, 2.precisa ter olhar pedagógico forte, vivo e inspirador que faça com que a sua equipe olhe e mire em você e encontre brilho ao repassar às crianças e 3.tem que ter olhar comunitário para todas as pessoas ao redor, família, colaboradores, crianças.

Se eu olhar só o administrativo, o outro braço enfraquece e vice-versa. Hoje meu maior desafio é o tempo todo olhar par esses três braços e enxergar se estou distribuindo bem, porque escola é dinâmica, tem semana que pedagógico te chama mais, período como matricula e rematrícula que administrativo te chama mais, período de evento social, grande feira, festa junina que a comunidade chama.

Preciso ter todos os dias uma agenda muito bem estrutura para enxergar esses três braços.

Quais os maiores desafios que continua enfrentando nessa época de pandemia?

Gente gosta de gente, educador gosta de gente, lida com pessoas. Principal baque para nós foi o distanciamento social, emocional, físico. A escola já caminhava no desenvolvimento tecnológico com formação continuada semanal. Dois anos antes da pandemia a gente vinha em um intensivo semanal de formação de professores para uso das ferramentas Google, Classroom com as crianças, tudo para usar tecnologia a nosso favor. Para muitos professores, do dia para a noite, ter que fazer aula por videoconferência deve ter sido um baque, mas aqui já estávamos nos familiarizando, então a parte tecnológica não foi o nosso grande desafio.

Leia: O que muda com a Base Nacional de Formação dos Professores

Fale um pouco sobre as principais competências de um diretor(a) escolar.

Tem que ter visão pedagógica: ser instrumento de inspiração para coordenadores, professores, pais, crianças; precisa saber gerir os recursos da instituição, focar em quais são as prioridades; cuidar do espaço escolar, saber os equipamentos e estrutura que podem ser melhorados para a criança ter mais experiências dentro do ambiente escolar; ter sempre visão de inovação, buscar novas ferramentas tecnologias, projetos, tem que ter escuta sensível para novos projetos e entender o que de novo tem e o que se enquadra no seu projeto político-pedagógico; trabalhar com muito zelo a parte emocional, ter olhar atento ao desenvolvimento emocional das crianças. Para ter a atenção emocional das crianças, primeiro precisamos cuidar dos professores, se eles estão bem conseguem ter olhar de águia, aberto, e perceber a criança que muda de ritmo, a que está mais sonolenta ou que traz fala diferente, ter escuta mais sensível para acolher e dar orientação, mas para isso é preciso cuidar do professor; tudo isso sem esquecer do administrativo.

A pandemia afetou a parte financeira de todos, sendo assim, quais são as suas estratégias para aumentar a quantidade de alunos para o próximo ano letivo?

Pandemia teve impacto muito maior na educação infantil, teve queda brusca. Fundamental não foi tão significativo em relação a úmero de alunos, mas houve politica de facilitação de pagamento para pais e isso impacta na gestão financeira. Educação infantil apareceu de forma mais expressiva, fundamental não tanto, mas remodelamos o negócio para manter o atendimento.

Quais foram as suas maiores realizações e conquistas como diretora de escola?

Procuro mostrar ao time que estou em constante formação para se inspirarem e levarem para as crianças. Em 2007, comecei sem apoio emocional e financeiro [na criação da escola Toque de Mãe], com muitos desafios, empréstimo em banco, fazendo dívida e apenas acreditando no meu sonho. Aos poucos foi tomando uma proporção maior. Hoje o tamanho das escolas, onde estamos, a saúde financeira, impactam em um público que pensa no futuro da criança – não tenho dúvida que nossa instituição terá grandes líderes. Acho que a minha grande realização é ver realizado aquilo que sonhei praticamente sozinha e hoje sermos reconhecidos, minha sogra foi minha primeira incentivadora. Hoje somos coordenadores do PEA Unesco (rede de escolas associadas) da região, o que nos fez crescer em entendimento social e visão de impacto global. Estabelecer tudo isso já é um legado, a história não vai embora quando você não estiver aqui, vai replicando de maneira coletiva e positiva para o mundo. Maior
agradecimento que um educador tem é plantar uma semente em cada criança.

O que você sugere para quem quer se tornar diretor(a) escolar?

Precisa se preparar muito para a gestão, saber formar equipe, ter braços. Diretor não trabalha sozinho. Quando abri a escola e tinha que fazer tudo a entrega não conseguia ser efetiva. Só é efetiva porque tem pessoas que levam adiante meu sonho. Principal conselho é focar na gestão de pessoas.

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Nazareno Oliveira

Diretor-geral do Colégio Master, Fortaleza e Natal, Ceará. É diretor de escola desde 1984 e está no Master há 21 anos.

Qual a sua formação acadêmica?

Para ser diretor, assinar os papéis como diretor, tem que fazer pedagogia e uma pós-graduação. Se fizer só química, você não pode dirigir uma escola, antigamente podia, porque tinha uma carência enorme, mas hoje não. Eu não sou o diretor oficial da escola, eu sou o diretor que coloca a mão na massa. A minha esposa se formou em pedagogia e fez a pós-graduação em gestão escolar e ela é a diretora oficial da escola.

Por que escolheu ser diretor de escola/como se tornou diretor?

Eu fazia medicina de manhã e à tarde e comecei a dar aulas à noite.

Sempre digo “se pedires para caminhar 1 km, caminhe dois” (passagem da Bíblia), ou seja, há sempre grandes oportunidades para aqueles que fazem mais do que lhes é pedido. Então eu gostava muito de dar aulas, saía da sala de aula na hora de um intervalo e ficava tirando dúvida dos alunos, orientando no horário de estudo. Um colega que tinha um cursinho de química e física viu aquilo e me chamou para ser sócio dele. Entrei na sociedade a partir de 1983 e 1984 e comecei a dirigir cursinhos. Sempre digo para os nossos alunos que busquem fazer mais, porque fazendo mais você se destaca no meio da multidão.

Quais as maiores dificuldades que enfrentou ao se tornar diretor? E as principais dificuldades que hoje enfrenta no gerenciamento de uma escola?

A escola é gente, então você precisa ser um bom gerente de pessoas. Sempre quando eu encontro um aluno que não é da minha escola, eu pergunto: quais são os três melhores professores da sua escola? E vou anotando em um caderninho para depois ir atrás desses talentos.

Antigamente, a maior dificuldade do professor era conseguir um engajamento dos alunos na sala de aula, e para isso você precisava ter empatia, precisava falar a linguagem dos alunos, e eu buscava muito fazer isso como professor. Já como diretor, você lida com professores, com alunos e com as famílias.

Hoje o diálogo mais difícil é com as famílias, porque vivenciamos alunos mais autônomos, que questionam mais, havendo a necessidade de utilizar o velho diálogo. Eu sempre busco essa questão da empatia, calçar o sapato do outro.

Os alunos às vezes não se adaptam ao tipo de escola que a gente está oferecendo, esse tipo de escola padronizada. As pessoas precisam cada vez mais de escola personalizada, e sentir as dores de cada um deles.

Hoje, em que fase da pandemia a sua escola está? Aulas 100% presenciais e sem distanciamento?

A escola está 100% presencial. Eu sempre falo: “mares tranquilos não fazem bons marinheiros”. Nós não passamos por mares tranquilos, nós passamos por borrascas, o mar estava revolto durante a pandemia, mas eu acho que nós aprendemos muito. Aprendemos que as aulas presenciais são muito importantes e que o digital que já era necessário veio para ficar.

Hoje a escola que não busca trabalhar bem dados e o digital vai ficar para trás, porque os dados são o petróleo do século 21. Por exemplo, nós temos em Fortaleza duas unidades, uma na região Norte e outra na região Sul e temos uma em Natal, os nossos alunos assistiram algumas seletivas, como olimpíadas de física todos juntos. Esse foi um grande ganho do digital que a pandemia nos deu.

Sempre digo também que “a boa madeira não cresce com o sossego – quanto mais forte os ventos, mais forte as árvores”. Então nós somos boas maneiras. Os diretores de escola passaram por desafios tremendos, mas como possuem boas raízes, raízes profundas, veio a tempestade, mas se mantiveram.

Leia: Novo ensino médio: currículo nunca foi tão discutido

Como foi a troca/interação com os professores para a realização do ensino a distância?

O Amyr Klink deu uma palestra para os pais e para os alunos uma vez e disse que quando foi fazer o barco dele se inspirou muito nos jangadeiros de Camocim, porque ele percebia quando iam fazer a travessia do Atlântico. Da África para o Brasil, o grande problema das pessoas que não conseguiam a travessia era porque o barco capotava. Então ele foi estudar com os jangadeiros cearenses de Camocim e chamou um engenheiro naval também para colocar tecnologia. Conversando com o engenheiro, esse o disse ele: se você não for dormir e acordar com problema você não vai conseguir a solução.  

Assim fomos nós na pandemia, fomos dormir e acordamos com um problema. Eu tive que reunir o time, nós tínhamos reunião semanal, e disse que agora nós vamos fazer reuniões diárias, e vamos montar um comitê de crise para resolvermos esse problema de como dar aulas com todos os alunos em casa. E a solução que encontramos foi a de gravar as aulas.

Assim como Amyr Klink, nós fomos aprendendo aos poucos, primeiro aulas gravadas, depois aulas transmitidas. Tivemos tipos de alunos diferentes que preferiam formatos diferentes, mas dizer para você que a gente conseguiu manter qualidade com aulas síncronas e aulas transmitidas, nós não conseguimos, por conta de problema de conexão e microfonia, por exemplo. 

Sobre a pandemia, quais os maiores desafios que continua enfrentando?

Os desafios são alguns alunos que estão ainda em casa, porque ficaram deprimidos pela falta de convívio, socialização com os colegas e do abraço, por exemplo. Então esse é o grande desafio, fazer com que eles se sintam acolhidos. Não vamos nos preocupar nesse primeiro momento com os conteúdos, vamos nos preocupar com a saúde mental desses alunos que estavam confinados e os que ainda continuam em casa com dificuldade para vir para as aulas, ou seja, a gente está trabalhando com duas escolas: uma escola presencial e uma escola online.

E quais s

E quais são suas estratégias para aumentar ou pelo menos manter a quantidade de alunos para o próximo ano letivo?

Aqueles alunos que têm mais dificuldades estamos monitorando e dando aulas no contraturno, fazendo reensino.

Uma coisa muito importante em Fortaleza e Natal é que procuramos os melhores hospitais das cidades e fechamos uma parceria com eles para dar uma segurança para as famílias e alunos e dizer que eles poderiam vir tranquilos porque estávamos obedecendo a todos os processos. Outra coisa que a maioria das escolas não está pensando é: o que eu posso levar do digital, da aula online para o próximo ano? E estamos realizando essa discussão.

Nós temos um projeto chamado Live que é um laboratório que trabalha as emoções, trabalhamos desde o fundamental 1 até o ensino médio, então agora a gente já está vendo esse engajamento e trabalhando o emocional através da interação com outro resultado.

Fale um pouco sobre as suas maiores realizações e conquistas como diretor.

Estive muitas vezes em eventos que chegava um aluno e dizia assim: “esse foi o melhor professor que eu já tive na minha vida”. Ver alunos que eu consegui transformar a vida não tem preço.

Muitas vezes eu vou à sala de aula conversar com eles, dar um incentivo, entregar um certificado e digo assim: “olha, queria lhe pedir uma coisa. No dia da sua formatura eu quero estar lá”.  Eles mandam mesmo o convite da formatura, eu os vejo encherem os olhos de lágrima quando falo isso.

Já vi gente muito humilde, que às vezes juntava dinheiro em uma garrafa e vinha pagar a escola. Então eu chegava para os nossos coordenadores: “nós temos que fazer por merecer a confiança dessa mãe que junta moedas para pagar a escola do filho, dar o melhor de nós, nos colocarmos inteiro nisso”. Foram muitas conquistas, e o que é educação? Educação é mudar vidas, transformar vidas, e eu acho que eu consegui transformar muitas vidas.

Que dicas você dá para quem pretende ser um diretor(a) escolar?

Converse com os alunos, vá a sala dos professores, converse com as famílias, dialogue. Veja como você pode melhorar a escola, pois eles estão toda hora te dizendo como você pode fazer melhor.

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Redação revista Educação


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