NOTÍCIA
No périplo português de junho, tive oportunidade de visitar esboços de comunidade de aprendizagem. Na “Terra” da Paula, na herdade da Rita, nas jovens famílias do Alfredo de Montemor, em tantos lugares que já nem sei contar despontava a escola dos filhos dos filhos dos […]
Publicado em 17/11/2021
No périplo português de junho, tive oportunidade de visitar esboços de comunidade de aprendizagem. Na “Terra” da Paula, na herdade da Rita, nas jovens famílias do Alfredo de Montemor, em tantos lugares que já nem sei contar despontava a escola dos filhos dos filhos dos nossos filhos.
Na véspera de São João, visitei a Ekoa. O Rafael me levou a conhecer espaços de delicada aprendizagem e educadores animados de esperança e prudência. Conversei com pais preocupados com o incerto futuro do seu projeto. Prometi voltar. Voltaria, no ano seguinte, para os ajudar.
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Nessa noite de São João, um vírus não permitiu que o povo fosse para a rua, celebrar o orago. Os vasos de manjerico, os alhos-porros e os fogos de artifício ficaram guardados para a ansiada pós-pandemia. Restou ao generoso David convidar amigos para uma noite de fado. Até a lua cheia de junho se fez convidada dessa epifania. E a festa só terminou já em plena madrugada do dia de aniversário da minha amiga Janaína.
Voltaria ao Brasil, no mês de julho, para acompanhar focos de uma nova educação, práticas ainda escassas e embrionárias, mas efetivas. A reelaboração da cultura profissional dos professores já acontecia, acompanhava e requeria alteração de padrões atitudinais de gradual e complexa modificação da vida em comunidades, onde eu aprendia.
A viagem a Portugal findava. Após intensos e solidários dias, a Aline partia para Amsterdã; a Janaína, a Luciane e a Fabi regressavam ao Brasil. A Cristiana cuidava do meu descuidado corpo, para que o vosso avô pudesse andarilhar mais um pouco.
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Reparo, agora, que esta narrativa começa a se assemelhar a um diário, algo pseudopoético, pelo que urge incluir nela algo mais prosaico. Talvez referindo que, como enfatizavam os psicólogos, o desenvolvimento humano ocorria em meio a uma rede de relações sociais marcadas por um contexto sociocultural específico, era sempre ato de relação. O sujeito aprendente se definia num projeto de vida e se realizava… com os outros. Era chegado o tempo dos círculos de aprendizagem. Surgiam como embriões de comunidade federadas em redes. Chegara, enfim, o tempo de celebrar o mestre Lauro de Oliveira Lima.
Já por várias vezes dele vos falei, mas nunca será demais invocá-lo. Nos idos de vinte, a baixa autoestima dos educadores não lhes permitia honrar a herança que esse mestre nos deixou. Educadores iam visitar escolas da Finlândia, sem que soubessem que havia muitas (e melhores) “finlândias” dentro do Brasil. Viajavam para Portugal em busca de uma Ponte, desconhecendo já terem ido além da Ponte. Perdiam precioso tempo, em demanda da Catalunha das ditas “comunidades de aprendizagem”, num tempo em que as verdadeiras comunidades se formavam e transformavam na terra do Lauro.
Muito antes do Ramon, o mestre brasileiro nos falava de agentes educativos locais, de ócio criativo e de uma escola para a comunidade:
”A expressão “escola de comunidade” procura significar o desenquistamento isolacionista da escola tradicional. Escola, no futuro, será um centro comunitário propulsor das equilibrações sincrônicas e diacrônicas do grupo social a que serve. Não só a escola utilizará como instrumento “escolar” o equipamento coletivo, como a comunidade utilizará o local da escola como centro de atividade. A escola não se reduzirá a um lugar fixo murado, tornando-se, verdadeiramente, uma atividade pública. E o qualificativo público, em vez de referir-se ao processo de manutenção, designará a abertura da escola para a comunidade e a generalização comunitária de propósitos educativos”.
*José Pacheco é educador e escritor, ex-diretor da Escola da Ponte, em Vila das Aves (Portugal) e membro da EcoHabitare.
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