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Crise climática não poupa secretarias de Educação

Por Cláudia Passos*: Terça à tarde, 15, a Cecília postou no seu Instagram imagens do início das inundações em Petrópolis, RJ. Fiquei preocupada e busquei saber mais, quando ela disse: “Estou presa na secretaria, o primeiro andar está alagado com água até a cintura, a […]

Publicado em 17/02/2022

por Redação revista Educação

Por Cláudia Passos*: Terça à tarde, 15, a Cecília postou no seu Instagram imagens do início das inundações em Petrópolis, RJ. Fiquei preocupada e busquei saber mais, quando ela disse: “Estou presa na secretaria, o primeiro andar está alagado com água até a cintura, a gente tá no segundo andar. Meus filhos estão na escola, não consegui chegar lá para pegá-los. A gente está aqui na secretaria pegando um monte de mensagem das outras escolas. Teve escola que caiu, acho que tem até criança soterrada. Estou tremendo dos pés à cabeça”.

Segundo o G1, o volume de chuvas foi inédito na região. Em menos de seis horas o acúmulo de chuvas superou a média de fevereiro, com estações meteorológicas do município marcando 260 mm, sendo que a média mensal é de 240 mm.

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Leia: Cultura oceânica precisa entrar nas escolas

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A gravidade da crise climática entrou pela porta da frente da secretaria de Educação de Petrópolis.

Dias atrás, o planejamento da secretaria era para a volta às aulas, ainda sobre a sobra da pandemia. Com as chuvas intensas atípicas, a terra deslizou e as crianças não puderam ir à escola. A cidade está um caos. Voltar à escola ficará para depois, porque enquanto isso, ela assume o papel de equipamento público que presta socorro às famílias desabrigadas.

Pesquisas validam que eventos climáticos extremos dificultam o acesso de crianças à escola, deixam famílias ainda mais vulnerabilizadas e podem impulsionar o trabalho infantil.

Segundo o estudo Climate Change and Educational Attainment in the Global Tropics (Mudanças Climáticas e Desempenho Educacional nos Trópicos Globais) de 2019, quando uma criança vive em situação de insegurança alimentar, por consequências das mudanças climáticas (como a estiagem e, consequentemente, a escassez de alimentos), seu desenvolvimento físico e cognitivo fica limitado, o que prejudica diretamente seu rendimento escolar.

Este mesmo relatório informa que o número de anos que uma criança frequenta a educação formal está relacionado à sua exposição a altas temperaturas ou a chuvas em excesso. É fato: todas as crianças são impactadas pelos efeitos da crise climática, mas nem sempre da mesma forma. Isso porque meninas tendem a sofrer mais, já que elas são as primeiras a sair da escola para cuidar da casa e da família.

Além disso, ficam mais passíveis à exploração e abuso sexual, ao casamento infantil e ao tráfico de menores. Pensando na mitigação dos efeitos negativos às múltiplas infâncias, é importante identificar quem são os públicos mais afetados e o motivo.

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Leia: Brasil ganha Olimpíada de Restauração de ecossistemas voltada a alunos do fundamental

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A crise climática afeta, majoritariamente, crianças negras, pobres, periféricas – justamente aquelas que moram em áreas de maior risco ambiental. 

Marina Marçal, advogada e ecofeminista disse que são crianças que lutam para que os indicadores sociais de onde moram não determinem o seu destino.

O artigo 225 da Constituição Federal aponta que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Mas é notório que a lei não funciona de maneira igual para todas as crianças.

Já passou do tempo de colocar os temas ambientais no centro da educação formal. Esta “bandeira” não é ‘coisa de ambientalista’, mas de toda a sociedade. Com a crise climática não é diferente. Para compreender a relação entre efeitos diretos e indiretos da emergência climática na sociedade é preciso exercitar uma visão sistêmica.

Paulo Freire pregava a ‘’educação ‘problematizadora e libertadora’, na qual o (a) educador (a) é, antes de tudo, um ‘humanista, revolucionário’, crente não em seu saber absoluto e onipotente, mas, ao contrário, crente nos homens e ‘no seu poder criador’, sendo um verdadeiro ‘companheiro dos educandos, em suas relações com estes.’’‘

Estamos vivendo um mundo em crise sistêmica. A escola guetizada está apartada da vida. A mitigação da crise climática precisa ser encarada como um projeto coletivo.

A escola precisa assumir o seu papel social de encaminhar ações por meio de processos educativos. Precisa despertar o compromisso social dos indivíduos, das entidades e dos grupos sociais, com objetivo de fazer uma só aliança, capaz de promover mudanças e transformações de impacto global.

A hora é de mudar a educação, colocando no centro do projeto pedagógico a problemática ambiental.

*Cláudia Passos é educadora, ambientalista, arquiteta urbanista e empreendedora socioambiental

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Autor

Redação revista Educação


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