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Dois de cada três estudantes do 5º e 9º ano do ensino fundamental e 3ª série do ensino médio da rede estadual de São Paulo relatam sintomas de depressão e ansiedade. Foi o que apontou um mapeamento desenvolvido pela Secretaria da Educação do Estado de […]
Publicado em 19/04/2022
Dois de cada três estudantes do 5º e 9º ano do ensino fundamental e 3ª série do ensino médio da rede estadual de São Paulo relatam sintomas de depressão e ansiedade. Foi o que apontou um mapeamento desenvolvido pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo e o Instituto Ayrton Senna, que contou com a participação de 642 mil alunos no âmbito do Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo). O estudo permitiu analisar a evolução do desenvolvimento de competências socioemocionais no contexto da pandemia.
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Do grupo avaliado, um em cada três afirmou ter dificuldades para conseguir se concentrar no que é proposto em sala de aula, outros 18,8% relataram se sentir totalmente esgotados e sob pressão, enquanto 18,1% disseram perder totalmente o sono por conta das preocupações e 13,6% afirmaram a perda de confiança em si.
As competências socioemocionais são características pessoais que se manifestam nas formas de sentir, pensar e agir ao se relacionar consigo mesmo, com os outros e com as situações para estabelecer e atingir objetivos. Elas podem ser desenvolvidas por meio de experiências de aprendizagem e podem impactar diversos resultados de vida dos estudantes. São organizadas em cinco macrocompetências: abertura ao novo, autogestão, engajamento com os outros, amabilidade e resiliência emocional.
O estudo revelou um cenário preocupante de dois grupos ligados mais diretamente ao aprendizado: autogestão, que envolve foco, determinação, organização, persistência e responsabilidade; e amabilidade, que contempla empatia, respeito e confiança. “São duas competências fundamentais à aprendizagem e ao clima escolar, pois estão relacionadas à capacidade do estudante em ser persistente, determinado e também mais propenso a um convívio social harmonioso”, comenta Rossieli Soares, Secretário da Educação do Estado. De acordo com a análise de 2019, quando desenvolvidas de forma intencional na escola, a autogestão pode significar 3,5 meses letivos a mais de aprendizado em matemática e a amabilidade pode significar 5,8 meses letivos a mais de aprendizado em língua portuguesa.
A dificuldade de concentração, um dos sintomas analisados, demonstra um nível baixo de foco, competência de autogestão que é essencial para que o estudante consiga aprender, como explica Tatiana Filgueiras, vice-presidente de educação, inovação e estratégia do Instituto Ayrton Senna.
“Aproximadamente 1 milhão dos estudantes da rede se consideraram ‘pouquíssimos focados’, o que equivale a um terço dos alunos. A avaliação ainda demonstrou que, quanto menores os índices de saúde mental do estudante, mais ele pode ter desafios de aprendizagem. Em contrapartida, avanços no fortalecimento da sua saúde mental podem significar até 8 meses letivos a mais no aprendizado em matemática prejudicado nesses últimos 2 anos, por exemplo”, analisa.
Para o secretário, a pesquisa traz um olhar inédito para os estudantes de forma integral. “Os dados dão luz às competências que serão a base para promover o aprendizado e quantificam o impacto destes últimos anos na saúde mental. As questões socioemocionais impactam no aprendizado e também passam por pontos importantes, ligados à saúde mental, estratégias de aprendizagem e violência”, resume Rossieli.
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Também foram abordadas as quatro formas mais utilizadas pelos estudantes para estudar – monitoramento, elaboração, esforço e memorização. Quando aplicadas de modo eficaz, essas estratégias contribuem para que os estudantes regulem a própria aprendizagem e, deste modo, consigam atingir melhores resultados. A avaliação mostrou que as estratégias de monitoramento, quando há a verificação da própria compreensão sobre os conteúdos estudados e a autorregulação dos comportamentos para aprimorá-los, são as que mais influenciaram positivamente os resultados em língua portuguesa e matemática no Saresp.
Em contrapartida, a memorização, ou repetir a matéria para decorar o conteúdo e poder repeti-lo, apresentou uma relação negativa com desempenho quando utilizada isoladamente. “Isso não quer dizer que ela não é importante, pois em conjunto com as outras estratégias ela pode ser eficaz. No entanto, o estudante que só memoriza o conteúdo, sem ter um pensamento crítico e acompanha seu aprendizado, pode apresentar menor desempenho escolar”, afirma Tatiana Filgueiras, do Instituto Ayrton Senna.
A pesquisa também indicou que 5,7% dos estudantes relataram presenciar violência psicológica com muita frequência. Outros 3,8% afirmaram presenciar violência física em casa com muita frequência. Neste cenário, os estudantes mais acometidos são os do 5º ano do ensino fundamental.
Neste contexto, aproximadamente 67% dos estudantes se declararam nada ou pouco capazes de exercitar a competência tolerância à frustração. Ou seja, relatam dificuldades para controlar e lidar com a raiva e a irritação diante de situações adversas. Autoconfiança foi a segunda competência mais citada entre os participantes entre aquelas nas quais há maior dificuldade no exercício.
Diante deste cenário, a Secretaria da Educação desenvolve e mantém ações em toda a rede. Duas novidades já estão em curso. Uma delas é o Projeto de Convivência. Este componente curricular dos anos iniciais do ensino fundamental, que compõe o Programa Inova Educação, objetiva promover o desenvolvimento integral de competências socioemocionais dentro do ambiente escolar. São aulas semanais de 45 minutos para trabalhar diversos valores, como respeito, solidariedade, tolerância e perseverança, com foco na formação humanística e cultural para mobilizar ou regular as emoções.
Também para promover o desenvolvimento socioemocional de estudantes e profissionais da educação, a Seduc-SP desenvolve o Conviva SP. O Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar promove ações voltadas, especialmente, à promoção da saúde mental na escola, com toda a comunidade escolar, sobretudo docentes e estudantes. Em 2021, por exemplo, foram mais de 22 mil inscritos na plataforma da Efape (Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação do Estado de São Paulo) para as ações online voltadas à promoção da saúde mental.