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Diretora escolar atua pelo respeito à diversidade

Paula Beatriz de Souza Cruz é diretora há 25 anos, sendo 19 deles na Escola Estadual Santa Rosa de Lima, no Capão Redondo, bairro periférico da zona sul de São Paulo. Na escola, estudam 1.032 alunos do ensino fundamental – anos iniciais. Sob a sua […]

Publicado em 11/08/2022

por Sandra Seabra Moreira

Paula Beatriz de Souza Cruz é diretora há 25 anos, sendo 19 deles na Escola Estadual Santa Rosa de Lima, no Capão Redondo, bairro periférico da zona sul de São Paulo. Na escola, estudam 1.032 alunos do ensino fundamental – anos iniciais. Sob a sua direção estão 65 professores, além de dois coordenadores de organização escolar, dois coordenadores pedagógicos, secretária e quatro funcionários terceirizados para preparo da merenda e limpeza. 

Paula Beatriz é a primeira diretora trans a atuar na rede pública de ensino de São Paulo e é a homenageada do dia 16 de agosto do Grande Encontro da Educação, um dos principais eventos para profissionais da educação – o evento é gratuito e com certificado. Acontece de 16 a 19 de agosto em modelo híbrido (clique aqui para saber mais e se inscrever).


Leia: Orientação sexual e identidade de gênero: escola precisa saber incluir


Confira, a seguir, entrevista com a diretora em que ela compartilha sua visão de gestão e iniciativas que implementa na escola.

Quais os principais desafios da direção escolar? 

O maior desafio hoje é que estamos vivenciando as questões socioemocionais. O gestor precisa do entendimento de que temos na escola pessoas humanas, e que se a mente não está sã, não haverá aprendizagem. 

Quando a criança tem suas mil preocupações, como não ter leite em casa, ou vivenciar agressões constantes entre os pais, e outras inúmeras situações, como aprender? O maior desafio da gestão escolar e dos profissionais da educação é, primeiramente, respirar – para então conseguir fazer o acolhimento e o processo de escuta.

Logicamente, não vamos resolver todos os problemas, muitos fogem da nossa governabilidade, mas podemos minimizar as dores e os sofrimentos. Promover atividades, aulas bem diversificadas, outros momentos para garantir que as crianças possam ter um ambiente escolar acolhedor, e não mais um espaço de opressão, hostilização, violência. Esse é o maior desafio para nós, que estamos inseridos numa sociedade em que a violência está nos rondando a todo momento. Instigo a Secretaria de Educação para que haja formação para os professores e para todos os profissionais que atuam no espaço escolar. Não temos isso na formação. É preciso o espaço de escuta para os profissionais também, para que possam compreender o processo do que é o escutar, para então realizá-lo com as crianças e jovens.  

Em qual tipo de gestão você acredita?

Acredito na gestão humanizadora. Eu sou freiriana. Tenho um olhar para combater a educação bancária e as opressões. 

Quando as pessoas vão me apresentar e detalhar minha biografia, eu costumo dizer “resume tudo isso, quem está aqui é uma pessoa humana e eu estou falando com outras pessoas humanas”. Quando o mundo começar a entender isso, acredito que serão reduzidos muitos dos preconceitos e discriminações em relação à raça, sexualidade, identidade de gênero, idade. Penso numa educação que vem para revolucionar. Já aconteceram muitas revoluções, e estamos no momento de ter uma revolução educacional, em que as armas sejam os livros, o conhecimento, para que possamos, de verdade, ter um Brasil desenvolvido. É com a educação que muitas questões podem ser resolvidas. Somos diferentes, essa diferença é valorosa, mas para nos entendermos, é preciso igualdade: somos todas pessoas humanas. Por exemplo, nas reflexões sobre a diversidade no ambiente escolar, é preciso garantir o respeito por meio do diálogo. Eu acredito no diálogo constante.  


Leia: Os futuros da educação segundo a Unesco


Quais projetos vêm implantando na escola? 

Estou há 19 anos na escola, e nunca tinha acontecido um dia de culminância para falar sobre diversidade. As questões vinham, as pessoas conseguiam dialogar, resolver, mas não um movimento direcionado. Esse ano eu provoquei: ‘primeira professora trans nessa escola e nunca vi um movimento sobre diversidade!’ Sei que é um tema provocativo, que gera insegurança, mas é preciso discutir, pois está lá na BNCC [Base Nacional Comum Curricular], está no currículo paulista, temos documentos norteadores que garantem a discussão e a reflexão no espaço escolar. Quando se pensa em diversidade, se pensa em gênero e sexo, mas há uma pluralidade; há questões das pessoas negras, indígenas, com deficiência, pessoas idosas, da periferia, pessoas gordas, magras. É uma imensidão. E foi um sucesso. Ver e ouvir crianças com nove, 10 anos posicionando-se pela garantia ao respeito foi encantador. Outro projeto se relaciona ao uso da tecnologia, a questão do ensino híbrido. Todos reclamam muito que as crianças usam demais o celular. Como utilizá-lo para a aprendizagem? Isso vai caminhando. Temos também o grêmio muito ativo. Eu fomento a participação das crianças. Elas já criaram o projeto de reciclagem e agora vão realizar a campanha do agasalho. 

Reconhecida como a primeira pessoa trans na direção de uma escola na rede pública de São Paulo, como você vivencia esse pioneirismo? 

O reconhecimento surge em 2013, quando a Secretaria de Educação divulgou. Mas eu percebi que naquele momento era para dizer “se temos uma diretora trans, essa questão está clara para a Secretaria da Educação”. E não estava. Fui até a Secretaria de Educação e provoquei: não é só divulgar que eu existo, porque as coisas não estão assim nas escolas; os professores não sabem lidar com o tema. Também existia o decreto do governador, de 2010 (nº 55.588), assegurando o direito ao uso do nome social, e a própria Secretaria não havia normatizado. Daí vieram a deliberação e a resolução, garantindo os direitos de estudantes travestis e transexuais usarem o nome social na escola. Àquela época, a equipe pedagógica da Secretaria de Educação queria fazer um movimento de conscientização, então iniciamos lives, cursos de 90 horas, eu contribuí. Há governos que silenciam, outros retomam. Mas às vezes de maneira eleitoral. No ano passado, o secretário da Educação visitou a escola. Acompanhei a visita e fui apontando problemas da escola, inclusive físicos; eu aguardava uma reforma no piso há 18 anos. No dia seguinte, os engenheiros estavam aqui e agora a reforma está acontecendo. O eventual uso propagandístico ou eleitoral se transforma em benefício para a comunidade.



Grande Encontro da Educação

Promovido pela Plataforma Educação e Plataforma Ensino Superior, o evento ocorrerá de 16 a 19 de agosto, de forma híbrida e com inscrições gratuitas. O encontro será híbrido nos dias 16 e 17 de agosto e somente online nos dias 18 e 19. Mais de 50 palestrantes estão confirmados.

Onde: Inteli (Instituto de Tecnologia e Liderança), localizado no campus Cidade Universitária da USP. 

Inscrições gratuitas: www.grandeencontrodaeducacao.com.br

diretora trans


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Autor

Sandra Seabra Moreira


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