NOTÍCIA
Por Raquel Carlos*: A educação no Brasil vive um acelerado processo de evolução, alavancado, em grande parte, pela pandemia. Ao falarmos de inovação acadêmica, porém, devemos ter em mente que há um longo caminho a percorrer, que vai muito além do uso de recursos tecnológicos […]
Por Raquel Carlos*: A educação no Brasil vive um acelerado processo de evolução, alavancado, em grande parte, pela pandemia. Ao falarmos de inovação acadêmica, porém, devemos ter em mente que há um longo caminho a percorrer, que vai muito além do uso de recursos tecnológicos nas práticas pedagógicas. A tecnologia precisa ser encarada não como uma ferramenta, mas como uma inteligência que permite aos estudantes se relacionarem com o mundo. Estar no mundo passa pelo digital, logo, negar o acesso e a importância da tecnologia é negar uma série de direitos aos estudantes e afastar-se da visão da formação por competências. Quando passamos a enxergar a tecnologia digital como cultura, estabelecemos uma nova relação com ela e conseguimos pensar em como criar oportunidades de aprendizado mais significativas e engajadoras para os alunos.
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O primeiro ponto é saber que a inovação acadêmica tem que ser entendida de forma sistêmica, ou seja, é preciso um olhar amplo sobre a área acadêmica e seu papel no planejamento e implantação de práticas pedagógicas que pretendam ser efetivamente transformadoras. É preciso planejamento.
A pergunta que um gestor precisa saber responder é: qual é o seu plano de inovação acadêmica e onde se quer chegar? A perspectiva da inovação acadêmica como processo sistêmico é multifacetada e, portanto, constituída de múltiplas dimensões.
Entre os principais pontos está o perfil do professor. Pensar o perfil dos professores é estratégico para o sucesso do processo de inovação acadêmica. Precisamos entender e incorporar conceitos de formação continuada e estimular a paixão por aprender nos docentes, além de auxiliá-los a repensar sua prática diária.
Outro quesito fundamental é a elaboração de um currículo que expresse cada vez mais o perfil dos alunos e as demandas da sociedade. Um currículo flexível e interdisciplinar que permita a construção de soluções educacionais capazes de promover uma experiência de aprendizagem instigante, inovadora e integrativa.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) tem trazido outra prática importante: a formação por competências. Assim, a formação deixa de ser conteudista para ser orientada pelas competências e habilidades que os estudantes necessitam e desejam desenvolver para atuar no mundo, como verdadeiros cidadãos.
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A inovação acadêmica também se relaciona com a mensuração de resultados. Como um processo contínuo e absolutamente alinhado ao currículo, aos objetivos de aprendizagem, aos materiais e práticas pedagógicas, a mensuração educacional precisa ser considerada como um importante aliado na captura de dados preciosos para reavaliação permanente de estratégias de aprendizado e métodos de ensino. São os dados que apontam a direção para melhoria permanente de ações coletivas e individualizadas.
Além disso, podemos olhar para a inovação sob a ótica da concepção de ensino e aprendizagem; concepção esta que coloque o estudante no centro de todo processo, através de uma visão de metodologias ativas que promovem maior engajamento, despertem interesse, gerem aprendizagem profunda e encorajem a colaboração e o pensamento crítico.
Cabe ressaltar que as fronteiras da escola e da sala de aula foram ressignificadas. É importante considerarmos as possibilidades do modelo presencial, do modelo a distância e todo o contínuo entre eles.
As concepções de interação entre alunos, professores, recursos e ambientes também se expandiu, e precisamos pensar formas de aprender e ensinar que passeiem do modelo síncrono para o assíncrono, da sala de aula para os jardins, com estimulantes paradas nos laboratórios e no metaverso. Essa diversidade de experiências e oportunidades tem o poder de estimular a participação ativa dos estudantes.
Todas as dimensões apresentadas representam iniciativas de inovação acadêmica. Em seu conjunto constituem um “ecossistema de inovação”. As instituições podem iniciar um processo de inovação por qualquer uma das dimensões e pouco a pouco irem incorporando as demais. O importante é que a escola tenha pessoas comprometidas com a cultura da inovação e um plano de longo prazo para viabilizar esse processo.
*Raquel Carlos é diretora acadêmica no Edify Education