NOTÍCIA
“Macaco imundo, feio, urubu, neguinho perigoso…” Esse é um resumo das agressões sofridas* em outubro de 2022 pelo humorista Eddy Jr., morador de um condomínio na zona oeste de São Paulo. As ofensas racistas foram proferidas por sua vizinha, Elisabeth Morrone, no momento em que […]
Publicado em 14/11/2022
“Macaco imundo, feio, urubu, neguinho perigoso…” Esse é um resumo das agressões sofridas* em outubro de 2022 pelo humorista Eddy Jr., morador de um condomínio na zona oeste de São Paulo. As ofensas racistas foram proferidas por sua vizinha, Elisabeth Morrone, no momento em que ela se negou a entrar no mesmo elevador que Eddy Jr. A ação foi filmada e ganhou repercussão nacional; com isso, dias após o incidente, um grupo de manifestantes fez um protesto em frente do prédio. Dos diversos cartazes contra o racismo estampados ali, um deles deixava claro que “Agora é assim!”, explicitando que esse tipo de violência não passará despercebido.
O debate sobre as questões étnicas em nosso país é antigo, por vezes considerado enfadonho e excessivo por aqueles que são alheios aos impactos que elas causam. Entretanto, o racismo se mostra violento e invasivo e bate à nossa porta todos os dias. A cena descrita acima aconteceu no condomínio onde moro, Eddy Jr. é meu vizinho, Elizabeth também. Por isso ressaltamos aqui o esforço de tornar a escola um espaço acolhedor e adequado à convivência equitativa.
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Leia: Entenda o que é uma educação antirracista e como construí-la
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Eliane Cavalleiro, autora do livro Do silêncio do lar ao silêncio escolar (ed. Contexto) a partir de sua experiência na educação infantil, destaca que as crianças negras, desde a mais tenra idade, atribuem uma identidade negativa à sua etnia. Em paralelo, as crianças brancas revelam um sentimento de superioridade, que muitas vezes se revela por meio de xingamentos e ofensas às crianças negras, todas com caráter pejorativo da cor da pele. A autora chama a atenção para um dos fatores que fazem com que esse conflito se perpetue na escola: o silêncio dos professores diante das incidências. Eliane afirma que os educadores não percebem o conflito que se delineia, corroborando, desse modo, a legitimidade de procedimentos preconceituosos e discriminatórios no espaço escolar.
Há uma dificuldade imensa entre sofrer as violências constantes do racismo e seguir ileso aos ocorridos. Às pessoas negras a dor dessa convivência com o racismo é inevitável. O que Eliane nos mostra, bem como o caso de Eddy Jr., é que há uma falha no processo de socialização de nossa sociedade, que interioriza um embate entre negros e brancos. Na escola, mostra-se indispensável atuarmos cotidianamente em programas educacionais antirracistas que a todo momento digam à comunidade escolar que as relações multiétnicas harmônicas são um caminho para a transformação de nossa sociedade.
Até o momento, seguimos aguardando o retorno da justiça e a responsabilização dos culpados no incidente ocorrido com Eddy Jr., na esperança de que nossa luta nunca mais será silenciada.*“Não seremos mais derrotados”: homens negros lançam manifesto contra ataques racistas. Clique aqui para ler.
Quando a minoria percebe que é maioria