NOTÍCIA
Nos últimos meses, o número de ameaças, ataques e outros tipos de violência voltadas às escolas aumentou no Brasil. Entre setembro de 2022 e abril de 2023 foram registrados cinco ataques fatais dentro do ambiente escolar, revela levantamento do Poder360. Diante desse cenário, escolas públicas […]
Publicado em 13/04/2023
Nos últimos meses, o número de ameaças, ataques e outros tipos de violência voltadas às escolas aumentou no Brasil. Entre setembro de 2022 e abril de 2023 foram registrados cinco ataques fatais dentro do ambiente escolar, revela levantamento do Poder360. Diante desse cenário, escolas públicas e particulares, Secretarias de Educação e governo federal têm buscando soluções rápidas que visem a proteção efetiva de todo o corpo escolar.
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“Com certeza os ataques reverberaram na escola no sentido do temor de alguns alunos (sobretudo nos menores) e de algumas famílias. O que temos feito é conversar com todos eles”, conta Andrea Andreucci, diretora do Colégio Oswald de Andrade, na capital paulista.
Para Andrea, uma das saídas é a convivência pacífica dentro da escola. “A saída é conversar com as pessoas, com os pares, com as famílias, alunos e professores, que é o que estamos fazendo. Além de reforçar o valor da ética, da moral, do que é certo, do valor da vida. Eu vejo que a escola é um alvo porque ela desestabiliza aquilo que está errado, é pela escola e pela educação que as coisas vão melhorar.”
O Oswald de Andrade, além de fazer um trabalho ativo de comunicação com os alunos e familiares, também tem feito outras ações. Segundo a diretora Andrea, o colégio está realizando um treinamento mais rigoroso nos acessos da escola, seguindo protocolos preventivos. “Se você falar: ‘garantimos a segurança’, a gente não garante, não podemos garantir. O que podemos fazer é garantir que pelos valores do Oswald a escola é segura. Uma escola que planta valores de convivência, de bem-querer, de respeito às pessoas, à diversidade.”
“É uma situação complicada, mas acredito que não só a escola, mas a sociedade como um todo precisa reagir. E reagir eu não digo com muros mais altos ou com portas blindadas, mas reagir do ponto de vista da formação humana, da formação de valores, resgatando a tranquilidade, a paz”, conclui Andrea.
O Colégio Inovar Veiga de Almeida, no Rio de Janeiro, já implantou medidas que considera fortes em relação à vigilância e à capacitação da equipe, tendo como base os protocolos de segurança. Dentre as ações citadas pela diretora pedagógica Luinha Magaldi, se destacam: restrição maior do acesso de pessoas à escola; equipe pedagógica e agentes escolares mais espalhados pelos corredores e pátios e atentos a qualquer comportamento diferenciado; aumento do monitoramento de câmeras internas e externas; escalonamento de horários de entrada de fornecedores, redobrando o procedimento de agendamento e identificação; novas orientações com a empresa de segurança terceirizada do complexo, que fica posicionada na entrada da escola; acesso à secretaria priorizado pelo aplicativo ou pelo WhatsApp; e restrição de veículos que podem estacionar na área de embarque e desembarque de alunos.
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“Como medidas internas acreditamos em condutas saudáveis e afetivas na relação com os outros e consigo, construindo diálogos e possibilidades de conversas, cujos alunos conseguem externar seus descontentamentos de modo não violento ou explosivo. E entender que a estrutura social está ancorada em diálogo, respeito, limite e afeto”, ressalta Luinha Magaldi.
“Evidentemente, não se deve, de maneira alguma, aceitar esse estado das coisas, como se fosse ‘natural’. Não é. Não pode ser. É preciso acolher e cuidar dos nossos medos. São legítimos. Respostas fáceis e imediatistas, no entanto, tendem a apenas alimentar e fazer reproduzir – e recrudescer – esse circuito das violências. São muitos os desafios – e é fundamental que se ouça especialistas e estudiosas e estudiosos do assunto”, declara a diretoria do Sindicato dos Professores de São Paulo (SinproSP) em nota oficial.
Do Brasil aos Estados Unidos, ainda não existe uma solução definitiva para barrar a violência dentro das escolas. Contudo, nota-se que as escolas brasileiras têm se mobilizado e trabalhado em equipe para tentar fazer com que o ambiente escolar seja mais seguro, como no caso do Colégio Santo Américo, em São Paulo. “Todos são responsáveis pela segurança, sendo que ela deve ser adotada e direcionada com inteligência. Desta forma, formamos uma comissão interna com membros de todos os segmentos e setores para que pudéssemos discutir com as empresas de segurança que já trabalhavam conosco quais medidas poderiam ser implantadas para promover um espaço educacional ainda mais seguro”, apresenta Rodrigo Teixeira Conceição, diretor pedagógico do colégio.
Segundo ele, as discussões realizadas com os especialistas em segurança e com a corporação da Polícia Militar resultou em diversas ações internas, como a implementação de mais canais de comunicação, o aumento efetivo de segurança interna e externa, o desenvolvimento de um programa pedagógico que visa acolher os alunos no âmbito espiritual — em virtude da identidade Católica Beneditina do colégio. Além da promoção de discussões em sala de aula com os alunos para fortalecer o suporte para eles e famílias em relação às informações de fontes seguras. O intuito é tranquilizar e informar de forma correta, para que as famílias sejam protagonistas no processo de ponderação e tranquilidade das crianças.
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“O nosso processo educacional segue a premissa de que todos são importantes. Família, aluno e escola caminham juntos e em profunda conexão, visando colaborar para a construção de uma sociedade justa, ética e baseada em valores. Todos os nossos funcionários, alunos e famílias estão imbuídos do sentimento de solidariedade às vítimas dos ataques que nos causaram grande tristeza e indignação. O caminho agora é manter a nossa agenda de reuniões com os membros de nossa comunidade, seguir atentos às notícias, em contato com os órgãos responsáveis pela segurança para que possamos seguir avançando em estrutura e protocolos para manter nossa escola segura, como sempre foi e continuará sendo”, ressalta Rodrigo Teixeira.
Márcia Pedr’Angelo, diretora-geral da escola de educação infantil Toque de Mãe Bilíngue e do Colégio Unicus Global Education, em Cuiabá, explica que uma ação que surgiu a partir desse recente cenário na educação foi um comitê emergencial de segurança, com a participação de representantes dos setores ligados ao atendimento aos pais: secretaria, portaria e vigilância. Diariamente o comitê se reúne para discutir todas as ações de segurança dentro da escola.
As ações são feitas em três etapas. A primeira é a revisão das ações já existentes, como câmera de segurança, cerca elétrica, muros altos que cercam toda a escola, número de vigilantes em todos os portões e avaliações do corpo de Bombeiro Civil do colégio que analisa os pontos frágeis em todas essas ações.
A segunda etapa são as melhorias. De acordo com as avaliações, o colégio aumentou o número de vigilantes na parte externa, reafirmou o contato com a ronda escolar, contratou um serviço especializado em treinamento com relação à segurança pessoal e defesa de possíveis ataques — como os recentes —, para todo o seu time. O treinamento, segundo Márcia, é baseado nas tendências internacionais, com referência nas orientações de conduta do FBI. Além disso, as visitas externas passaram a ser mais rigorosas.
Por último, a comunicação e transparência com as famílias passou a ser mais direta. “Todas as coordenações são muito próximas das famílias, conversando e trazendo essa paz, tranquilidade e intencionalidade para oportunizar essa cultura de paz para dentro do nosso ambiente. Comunicamos, sempre, 100% de tudo aquilo que a gente está fazendo dentro da escola. De quais ações já temos e das que estão sendo implementadas, para que realmente eles [os pais] tenham essa tranquilidade e segurança em trazer os filhos para o espaço escolar”, conclui Márcia.