NOTÍCIA
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), de 2017, estabelece como obrigatório desenvolver as habilidades socioemocionais dos estudantes. Porém, em algumas escolas essa prática está presente mesmo antes da nova lei, como é o caso da Emef. Vinícius de Moraes, da Diretoria Regional de Ensino de […]
Publicado em 10/08/2023
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), de 2017, estabelece como obrigatório desenvolver as habilidades socioemocionais dos estudantes. Porém, em algumas escolas essa prática está presente mesmo antes da nova lei, como é o caso da Emef. Vinícius de Moraes, da Diretoria Regional de Ensino de São Mateus, no Jardim Tietê, zona leste de São Paulo.
Moisés Basílio Leal, diretor da escola, conta que as habilidades socioemocionais como empatia, responsabilidade, criatividade e resolução de problemas, fazem parte do processo de construção da escola. “Vivemos processos conflitivos no passado e foi por meio da busca dialogada de soluções que conseguimos superar os conflitos. Não os eliminando, mas buscando transformá-los em aprendizados.”
A instituição que Moisés dirigi atende do ensino infantil ao ensino fundamental 2. Ele reforça que a BNCC impulsionou as discussões que já estavam sendo trabalhadas na escola e trouxe para o debate de forma mais ativa os estudantes, educadores e as famílias. Por lá, a aprendizagem socioemocional está presente de maneira transversal e os educadores levam em conta a realidade da comunidade escolar.
“Estamos situados num território de alta vulnerabilidade social e todas as mazelas desse território, de uma certa forma, aparecem no processo do fazer escola. Então o nosso planejamento tem que levar em conta esses aspectos socioemocionais no planejamento. Como a gente trabalha isso? Em primeiro lugar, com acolhimento. Acolher os alunos para que vejam a escola como um espaço deles e consigam perceber uma ligação com a sua vida. Não basta simplesmente ser uma escola conteudista, mas uma escola que dialogue com os seus problemas concretos, reais”, pontua.
São realizados planejamentos diários das aulas regulares e há a elaboração de projetos específicos para o contraturno que possibilitam a autonomia e criatividade dos estudantes. Moisés destaca o desenvolvimento de habilidades artísticas, culturais e esportivas, por meio do grêmio estudantil, do programa Imprensa Jovem (clique aqui e saiba mais) e do programa #TamoJunto — que discute a relação dos estudantes de maneira propositiva, levando temas como drogas para os adolescentes (ambos projetos da rede municipal de São Paulo, cujo objetivo é ajudar o estudante a se reconhecer como sujeito de seu próprio processo de aprendizagem).
Já na zona oeste da capital, no bairro Ferreira, que fica entre a Vila Sônia e o Butantã, a Escola Aberta de São Paulo não acredita no modelo tradicional de ensino, portanto, possui uma proposta pedagógica fundamentada na perspectiva de escola inovadora: não possui divisão por séries e idades e nem aplica avaliações pautadas em provas e notas.
Edilene Morikawa, diretora e fundadora, explica que a instituição entende o currículo em uma tripla dimensão: currículo interior ou subjetivo — percurso único de desenvolvimento pessoal, um trajeto que respeita cada estudante na sua individualidade, reconhecendo suas necessidades e potencialidades biopsicossociais e emocionais; currículo objetivo — diz respeito às aprendizagens essenciais das diversas áreas do conhecimento; e currículo comunitário — construído por meio do mapeamento das necessidades, dos desejos e desafios da comunidade escolar.
A Escola Aberta recebe crianças do fundamental 1 e 2, é sem fins lucrativos, mantida pelo Instituto de Empreendimentos Sociais em parceria com empresas e empresários, ofertando vagas principalmente para famílias em situação de vulnerabilidade social e moradores da região.
“A organização do trabalho na escola gira em torno das relações entre todos os envolvidos no processo de aprendizagem. Pois, acreditamos que só assim poderemos contribuir para que cada educando aprenda a estar, a ser, a conhecer e a agir”, conta Edilene Morikawa.
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Assim como a Emef. Vinícius de Moraes, a Escola Aberta já trabalhava com o socioemocional antes da BNCC. Tendo como valores: amor, autonomia, alteridade, responsabilidade e honestidade, a escola se norteia pelos princípios democráticos e promove instâncias de discussões por meio de assembleias que possibilitam o desenvolvimento da responsabilidade de tomada de decisões, sejam elas administrativas ou pedagógicas. Há a assembleia das crianças, das famílias e um conselho de projetos, tendo as habilidades socioemocionais presentes em todas as ações.
“Na assembleia [das crianças] tem a questão da escuta, de que outra pessoa pode pensar diferente de você. Há todo um trabalho pedagógico que ajuda a criança a ponderar, a não ser agressiva com o outro. A gente ajuda a criança a falar em tom ameno, escutando até o fim o outro e se posicionando de uma maneira que seja com argumentos viáveis”, detalha Edilene.
A assembleia é um espaço que oferece aos estudantes a oportunidade de levantar questões que possam melhorar o ambiente escolar, por exemplo, discutir a falta de materiais, propor oficinas que querem realizar, temas que querem aprender, entre outros. Segundo a diretora, todas as crianças podem apontar e levantar questões para debate, e caso um tema não agrade a todos os estudantes, ele é novamente avaliado até que todos entrem em acordo.
No currículo subjetivo em que se procura trabalhar com os estudantes respeitando sua individualidade, também é possível observar como as habilidades socioemocionais estão presentes de forma orgânica no processo de aprendizagem. Uma das propostas do colégio é a elaboração do plano do dia, roteiro de atividades com os compromissos que os estudantes devem cumprir.
“O aluno pode escolher no roteiro fazer uma atividade não importando a ordem, desde que cumpra o prazo. Então, ter a capacidade, condição e estabilidade de olhar para o roteiro, olhar o dia, verificar e cumprir com os compromissos assumidos é também desenvolver uma competência socioemocional”, enxerga Edilene.
Os fundamentos das competências e habilidades socioemocionais também estão presentes no processo administrativo. Na escola Emef. Vinícius de Moraes, o diretor Moisés reforça a presença do diálogo e da escuta na tomada de decisões. “Eu tenho claro a questão da gestão democrática. Minha relação com a equipe gestora [e os professores] é sempre uma relação que busca resolver os problemas que aparecem na escola por meio do debate, da discussão e da busca de um consenso, de forma que envolva todos os participantes, e que cada um, conforme suas responsabilidades, encaminhe aquilo que foi decidido”, aponta.
Edilene, diretora da Escola Aberta, também ressalta a importância do trabalho em equipe. “Nós temos um trabalho de horizontalidade nas tomadas de decisões. Eu não decido nada sozinha, tenho reuniões semanais com a equipe, me coloco como aprendiz e como especialista em algumas situações que eu possa colaborar. Tudo é dividido com todos, porque nos comprometemos com todas as esferas da escola”, conclui.
*Edilene Morikawa e Moisés Basílio Leal estarão juntos no painel Escolas que atuam por meio das relações com a comunidade, no evento Socioemocional na Escola, promovido por nós, da revista Educação. Será em 14 de setembro, na Fecap, bairro Liberdade, SP. Clique aqui para conferir a programação completa e garantir o seu ingresso.
Emoções e autoconhecimento dentro do currículo