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Cresce importância da questão emocional 

As escolas, nos últimos anos, passam por processos profundos de reavaliação dos projetos educacionais. As questões relacionais e emocionais vêm dividindo espaços significativos com as pedagógicas, especialmente porque a escola não está dissociada da sociedade e de suas urgências e mazelas. Para além dos muros […]

Publicado em 04/10/2023

por João Jonas Veiga Sobral

As escolas, nos últimos anos, passam por processos profundos de reavaliação dos projetos educacionais. As questões relacionais e emocionais vêm dividindo espaços significativos com as pedagógicas, especialmente porque a escola não está dissociada da sociedade e de suas urgências e mazelas.

Para além dos muros das escolas, as dores humanas ganham espaços e lotam consultórios. Gritos de socorros não são silenciados e há muito o pudor por ajuda terapêutica e psiquiátrica ficou para trás.


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As crises existenciais e emocionais dos estudantes pedem passagem para ocupar uma lacuna que foi negligenciada e solicitam demandas próprias que exigem reflexão e instrumentalização adequadas dos agentes envolvidos, fundamentalmente porque nessas instituições as interlocuções são extremamente complexas do ponto de vista das interações pessoais e do ensino e aprendizagem.

Levando em consideração a complexidade escolar, o enredamento relacional e os sinais de nossos tempos, não há dúvida alguma de que acolher e acompanhar os estudantes em seus processos emocionais é tão importante quanto desenvolver habilidades e ampliar repertório cultural e conteúdo acadêmico.

Obviamente que, para isso, os professores também precisam ser bem acolhidos e acompanhados pela escola para que possam, em boas condições, oferecer esses amparos. Rodas de conversas, trocas de experiências e de estratégias, encontros com coordenadores e psicopedagogos são sempre bem-vindos.

No entanto, os entendimentos sobre acolher e acompanhar são um pouco difusos e, muitas vezes, contrastantes. Famílias, alunos e atores escolares sentem algumas dificuldades para compreender as medidas exatas e justas do bom acolhimento e do necessário acompanhamento.

Não é incomum que famílias esperem da escola tratamento diferenciado mesmo que contrarie a regra ou os acordos coletivos: “moramos longe do colégio, chegamos atrasados e não faz sentido não ter uma tolerância especial para situações como a nossa, a escola precisa ser mais acolhedora”, “meu filho nunca chega atrasado, quando chega uma vez vocês barram a entrada, deveriam analisar caso a caso, e na situação como a dele, deixar entrar. A escola precisa ser mais acolhedora”. “Minha filha tem crise de ansiedade, vocês não podem exigir muito dela. Ela precisa de acolhimento”, “meu filho necessita de aulas avançadas e ser mais desafiado, a escola precisa acolher mais as necessidades dele”, “a escola tem que ajudar a resolver desentendimentos em festinha ou no WhatsApp”. 

acolhimento
Imagem: shutterstock

Nas situações arroladas, há uma discrepância sobre a noção de acolhimento, sobretudo porque as famílias veem os filhos individualmente, e a escola precisa pensar no processo coletivo. Nesse momento, as noções de acolher se distorcem. Um lado deseja uma regra específica e outro, a equidade. Uma parte solicita participação integral da escola em todas as instâncias da vida do jovem e da criança; a outra, impõe à ação os limites escolares, ainda que os estudantes vivam em uma bolha restrita, em comum, na vida pessoal, que se mistura à da escola.

Sim, é verdade que acolher e acompanhar é propiciar e fomentar situações de respeito a algumas especificidades e excepcionalidades. É também ponderar os fatos e os dados para que os questionamentos e as ocorrências sejam analisados com carinho e atenção, uma vez que acolher não é “sempre passar a mão na cabeça” ou “agradar o tempo todo”; tampouco é fechar os olhos para possíveis particularidades das pessoas e dos acontecimentos.

Há também entre alguns orientadores medidas mais maternais e paternais que beiram o desarrazoado. Há orientadores que mantêm contatos com famílias com seu próprio aparelho celular, fazendo uso do WhatsApp para comunicações que muitas vezes flertam com o clientelismo e com a amizade inapropriada. Criam uma relação viciada com alunos e famílias, tornam-se mais madrinhas, padrinhos e babás do que orientadores educacionais. Há situações em que o acolhimento e o acompanhamento de estudantes de inclusão se fazem de forma amadora e pouco responsável. Sem um PEI (plano educacional individualizado) consistente, os alunos viram ‘café com leite’ — tira-se da cartola uma facilitação qualquer e notas para satisfazer a família, trocando a avaliação progressiva por um afago incongruente.  

Determinados professores também entornam o caldo da confusão. Muitos acolhem respostas que não atendem aos comandos e às solicitações das questões, inferindo pelos alunos a resposta que não foi dada. O estudante responde tudo o que estudou e não o que lhe foi solicitado, o professor aceita como certo o duvidoso. Acolhe na nota e desacolhe na aprendizagem.

Há casos em que a direção escolar promove acolhimentos perigosos com mimos aos pais/clientes que desautorizam o projeto pedagógico ou coordenadores e professores.

Como acolher e acompanhar merecem tempero e temperança, talvez a melhor forma de atendimento criterioso dos estudantes é o cuidado com sua aprendizagem integral. Ofertar e negar na medida responsável é o bom caminho. Para isso, há necessidade de propor como cultura escolar aulas e atividades com comandos claros, com sinalização dos objetos de conhecimento e das habilidades esperadas, com rubricas precisas e coerentes com o que foi planejado e proposto e, fundamentalmente, com devolutivas periódicas acompanhadas de reavaliações constantes.

A criação de espaços de escuta ativa que propiciem conversas com estudantes, assembleias de classe e representação de classe contribui para que ocorram acolhimentos razoáveis que, se somados a atendimentos a famílias e a profissionais de saúde, podem assegurar acolhimentos auspiciosos.

Escute nosso episódio de podcast:

Autor

João Jonas Veiga Sobral


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