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O futuro do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) — porta de entrada para o ensino superior — provoca divergência entre especialistas, conta à revista Educação Maria Helena Guimarães de Castro, socióloga e uma das criadoras do exame (presidiu o Inep entre 1995 e 2002). […]
Publicado em 17/11/2023
O futuro do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) — porta de entrada para o ensino superior — provoca divergência entre especialistas, conta à revista Educação Maria Helena Guimarães de Castro, socióloga e uma das criadoras do exame (presidiu o Inep entre 1995 e 2002). “Mas o Enem precisa ser renovado. Está parado no tempo. Além disso, precisamos estimular os estudantes da rede pública: ano passado, só 40% dos que prestaram eram egressos da rede pública.”
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Maria Helena é presidente da Associação Brasileira de Avaliação Educacional (Abave), e liderou o XII encontro da entidade, realizado no segundo semestre deste ano na Unicamp com grandes referências em avaliação para debaterem o presente e o futuro das avaliações brasileiras. Ministério da Educação (MEC), Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) — representado por pelo menos 120 pessoas de secretarias estaduais —, União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e terceiro setor, como Todos pela Educação, Instituto Unibanco e Fundação Lemann, estiveram presentes.
Segundo Maria Helena, a divergência sobre o Enem ocorre principalmente por conta do novo ensino médio, mas também há outros pontos, como um grupo que defende a permanência dos testes de múltipla escolha.
“O teste de múltipla escolha é limitado para avaliar o desempenho do aluno. O vestibular da Unicamp, vestibular da USP e exames mundo afora são cada vez mais integrados entre perguntas de múltipla escolha e questões abertas. O Pisa [programa internacional da OCDE] é uma avaliação interdisciplinar. O uso de provas digitais é uma prática no mundo inteiro. Desde 2017, nos Estados Unidos, não tem mais prova em lápis e papel. Não podemos ficar para trás”, explica Maria Helena.
Ter uma avaliação de formação geral e uma segunda etapa de aprofundamento das áreas do conhecimento escolhidas pelo estudante, com questões abertas e múltipla escolha é um dos caminhos visualizado por Maria Helena para o Enem — e que se assemelha à proposta de novo ensino médio inicial. “O Saeb [Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica] e o Enem estão parados do ponto de vista conceitual e metodológico há muito tempo. Enquanto isso, o Pisa e o Naep americano (principal avaliação da educação básica dos EUA) evoluíram.”
Maria Helena, que foi presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE) entre 2020 e 2022 e atualmente é titular da recém-criada Cátedra Instituto Ayrton Senna de Inovação em Avaliação Educacional, também defende critérios de estímulo aos estudantes, como já ocorrem no Provão Paulista, que dá acesso às universidades, e no PAS, vestibular da UnB. Nesse sentido, bolsa permanência é fundamental, uma vez que o ensino superior sofre também com evasão.
Enquanto especialistas estão divididos sobre o Enem, no caso do Saeb há abertura para a inovação entre membros da Undime, Consed, Inep e entidades do terceiro setor. Entre elas, segundo Maria Helena, incluir as habilidades socioemocionais e o uso de plataformas digitais.
A presidente da Abave tem uma sugestão que quer levar para a discussão: ter um Saeb obrigatório e mais forte na 3ª série do ensino médio, para ser somado junto à nota do Enem.
No encontro da Abave, especialistas discutiram como alinhar o Saeb à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). “O Saeb deste ano começou a introduzir questões abertas e produção textual para os alunos, mas entendemos que é preciso ir além e avaliar as competências de alta complexidade como a criatividade, as competências gerais da Base, a resolução colaborativa de problemas, avaliação das competências digitais, socioemocionais. Também discutimos no encontro como fazer para a devolutiva pedagógica dos resultados do Saeb chegarem mais rápido à sala de aula para ajudar o professor a visualizar os conteúdos em que os estudantes estão com dificuldade. Não é tarefa fácil e vai demandar investimento grande do Inep.”
Durante o evento da Abave, MEC, Consed e Undime assinaram o Pacto Nacional pela Recomposição da Aprendizagem, que entre as frentes busca reduzir os impactos negativos intensificados pela pandemia.
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