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A Declaração Universal dos Direitos Humanos completou 75 anos em dezembro. O empenho dos professores e professoras brasileiros em assegurar o direito à educação está refletido no relatório do Pisa (Programa Internacional de Avaliação do Estudante) divulgado pela OCDE. No Brasil, 80% das famílias responsáveis pelos estudantes receberam dos docentes as informações sobre […]
Publicado em 25/12/2023
A Declaração Universal dos Direitos Humanos completou 75 anos em dezembro. O empenho dos professores e professoras brasileiros em assegurar o direito à educação está refletido no relatório do Pisa (Programa Internacional de Avaliação do Estudante) divulgado pela OCDE. No Brasil, 80% das famílias responsáveis pelos estudantes receberam dos docentes as informações sobre a aprendizagem pelo menos uma vez por mês. A média em países integrantes da OCDE foi de 65%.
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“Com apenas um terço de investimento na educação por estudante, quando comparado à média dos países da OCDE, o Brasil, infelizmente, segue perto das últimas posições do ranking global, sem apresentar evolução significativa nos últimos dez anos. Apesar desse cenário, a dedicação dos professores em garantir acesso à educação aos estudantes foi o que assegurou que o desempenho escolar não caísse ainda mais, mesmo com quase um ano de aulas remotas”, diz a gerente de implementação do Itaú Social, Cláudia Sintoni.
Conheça iniciativas inovadoras e de ações de acolhimento à comunidade escolar realizadas por professores em diversas partes do país, que são determinantes para garantir o direito da criança, adolescente e jovem ao ensino de qualidade de matemática, língua portuguesa e ciências.
Edjane Pereira da Costa Mello, professora de Itapevi, SP
Ensinar matemática de maneira divertida e lúdica foi a opção adotada pela professora Edjane, da Escola Maestro Heitor Villa Lobos. Utilizando jogos de conta, como a mancala (brincadeira de tabuleiro com captura de peças do adversário), o resultado apareceu logo nos primeiros meses com o despertar do interesse dos alunos para a disciplina, como Richard Custódio Afonso. O estudante, que tinha dificuldade em participar das aulas se tornou mais dedicado aos estudos após a iniciativa, conquistando prêmios em concursos escolares, como o segundo lugar no campeonato Jogomat (Jogos Matemáticos), realizado pela USP.
Roberta Gledsa, mãe do estudante João, de Vespasiano, MG
O acolhimento de estudantes com deficiência é um desafio histórico que escolas públicas lidam no cotidiano. “Eu já pensei várias vezes em tirar meu filho da escola”, diz Roberta Gledsa, mãe de João, estudante de 10 anos diagnosticado com AMC (artrogripose múltipla congênita). Sua permanência foi garantida por meio de iniciativas pedagógicas que o acolheram, como a abordagem Mentalidades Matemáticas, que promove o ensino de forma criativa e valoriza as diferentes maneiras de pensar a disciplina. “Antes, o João tinha medo de matemática. Porém, nas primeiras aulas ele compreendeu que havia infinitas possibilidades para se aprender a disciplina. Isso trouxe a ele outra visão e despertou o interesse pela matemática.”
Cristiane Coppe de Oliveira, professora de Uberlândia, MG
Como forma de aproximar a matemática do cotidiano dos estudantes, a professora Cristiane Coppe desenvolveu um curso para outros docentes sobre como abordar a disciplina valorizando a cultura local e as relações raciais. O conteúdo é inspirado no método Modelagem Matemática, que destaca a cultura negra, contribuindo para estimular os alunos no desenvolvimento do pensamento crítico, da autonomia e da participação ativa das atividades em sala de aula.
Jeane Almeida da Silva, professora da rede pública de Normandia, RR
Para ensinar português aos estudantes da Escola Estadual Indígena Índio Marajó, localizada na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, a professora Jeane Almeida compreendeu que é necessário trazer a cultura do território para dentro da sala de aula. Em razão das famílias dos alunos não terem sido escolarizadas, os estudantes expressam diversas variações orais do idioma. Para lidar com esse desafio, a docente mobilizou a criação de uma biblioteca para a escola com livros de autoria indígena, sendo muitos deles utilizados em sala de aula como forma de aproximar o conteúdo pedagógico do convívio dos adolescentes.
Lais Freitas, professora de língua portuguesa do ensino fundamental e médio de Embu-Guaçu, SP
Despertar o interesse dos estudantes pela literatura por meio da arte foi o objetivo da professora de língua portuguesa Laís Freitas. Com seu projeto Slam e a realização de saraus na escola, os adolescentes se encantaram e passaram a consumir obras literárias e a escrever poesias, seja para participar dos eventos culturais ou até para registro pessoal.
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Laura Helena Amorim, escritora e ativista de Piracicaba, SP
Após participar e vencer um concurso entre escolas em 2019, a estudante Laura Helena Amorim recebeu o incentivo que lhe faltava para investir na carreira profissional no terceiro setor. “Desde que ganhei a medalha, prometi que não desperdiçaria esse reconhecimento. Hoje, sou redatora na Iniciativa Íris, organização sem fins lucrativos em apoio à comunidade LGBTQIAPN+.” A conquista de Laura serviu de exemplo para os colegas, que se sentiram motivados a participar de outras competições escolares.
Nicole Rodrigues, estudante de Belo Horizonte, MG
A poesia da estudante Nicole Rodrigues foi uma das produções premiadas no concurso nacional entre escolas públicas. O texto Da janela de Minas se tornou um livro digital, oferecido gratuitamente na Estante Digital do Leia com uma criança, programa do Itaú Social. Desde sua participação, a aluna conta que seu interesse pela leitura e pela escrita cresce a cada dia. “Hoje, ler é uma terapia, por meio da qual conheço um universo novo, completamente diferente, valorizando o meu repertório.”
Rosa Maria Martins, professora da Ilha da Torotama, RS
Com o objetivo de valorizar a cultura do território, a professora Rosa Maria estimulou seus alunos dos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º) a escreverem sobre seu cotidiano em formato de crônica. O destaque dessas produções textuais foi a participação das mulheres na economia local e na organização social. “Cada estudante narrava o que chamava sua atenção. Nesse momento, surgiram muitas histórias envolvendo as mulheres da região, que ficavam em roda, conversando enquanto preparavam siris para serem vendidos.”
Karla Annyelly Teixeira de Oliveira, professora de Goiânia (GO)
Sete escolas em Goiás participaram do projeto Nós Propomos! Goiás, coordenado pela professora Karla Annyelly. A iniciativa incentiva os estudantes a apontarem soluções para os problemas em seus territórios, como buracos na rua, falta de praça, lixos acumulados, etc. Para identificar esses desafios, os alunos realizaram entrevistas com moradores do bairro, tiraram fotos e registraram as ocorrências. A partir desses dados, elaboraram mapas, construíram gráficos, escreveram textos para construir possíveis propostas às dificuldades da região.
Eliane Schlemmer, professora da Universidade Vale do Rio dos Sinos, de São Leopoldo, RS
Migrar a experiência do videogame e de outras tecnologias digitais para a sala de aula é uma das propostas do projeto coordenado pela professora Eliane Schlemmer. A iniciativa é composta pelo uso de ferramentas tecnológicas e da observação do cotidiano para elaborar conteúdos pedagógicos. Uma das atividades foi a saída do grupo de estudantes às ruas para observar os locais com o objetivo de recriar seu bairro com ajuda de um aplicativo. “Como o projeto era interdisciplinar, o professor de língua portuguesa ajudava com a narrativa, o de artes nas modelagens, o de matemática com os programas e o de história com os conhecimentos sobre a região.”
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