ARTIGO

Olhar pedagógico

Alfabetização científica: a escola, a ciência e o mundo

Por Tony Labanca*: Qual a importância de uma alfabetização científica na educação básica? Como fazer com que a crença na ciência não seja opinativa, tampouco dogmática? Responder a essas perguntas requer compreender que ampliar o universo da ciência é uma necessidade cultural, não necessariamente cidadã.  […]

Publicado em 05/01/2024

por Redação revista Educação

Por Tony Labanca*: Qual a importância de uma alfabetização científica na educação básica? Como fazer com que a crença na ciência não seja opinativa, tampouco dogmática? Responder a essas perguntas requer compreender que ampliar o universo da ciência é uma necessidade cultural, não necessariamente cidadã. 

Daí a importância de tratar a ciência em sala de aula não como algo imperioso, pois seu princípio basilar está na possibilidade própria de sua transformação: vale o que ainda não foi refutado com todas as etapas de um processo científico acurados por tradições acadêmicas. 


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Além disso, a ciência também não pode ser tratada como algo credenciado no ‘achismo’, como uma verdade que emerge de uma fundamentação sem a chancela dos códigos de ética das instituições que elegemos, socialmente credenciadas para isso: as universidades.

Participação do estudante

 

Educar, portanto, para uma alfabetização científica precisa considerar a ciência como um fazer científico e não um produto que se compra no supermercado. Para isso, é necessário que seus processos ganhem mais espaço desde os primeiros anos da educação, caminhando com o estudante ao longo de sua jornada de aprendizagem.

Ensinar ciência para alunos dos anos iniciais parte da necessidade de promover uma aprendizagem que contribua para uma consciência de observação dos fenômenos naturais, que permeiam a realidade do aluno; promovendo, assim, uma participação mais crítica, mais reflexiva e, principalmente, mais transformadora do meio em que vive. 

A ideia é promover uma participação mais eficiente dos alunos nos projetos de ciência, tornando-os protagonistas da experiência; explorando não só os resultados de uma trilha, em uma pedagogia de projeto, mas uma pertença dos processos que se realizam.

Ciência linguística

 

Para uma alfabetização científica é necessário um movimento transdisciplinar, promovendo a leitura e a escrita como partes indissociáveis dos processos da ciência. Neste sentido, a escolha das metodologias de ensino a serem utilizadas exerce um papel fundamental, uma vez que o direcionamento pedagógico equivocado pode comprometer a forma como se vê a ciência, não permitindo que os alunos desenvolvam competências ligadas à leitura, investigação e construção de conhecimento. 

Seja qual for essa metodologia — imagens, mapas conceituais, ensino híbrido, investigação… — é fundamental que a escolha dos gêneros textuais que comporão uma aula planejada para a alfabetização científica considere estudos próprios da  ciência linguística. 

alfabetização científica
Alfabetização científica
Foto: shutterstock

Para  os autores da  escola suíça de linguística Bernard Schneuwly e Joaquim Dolz no importante livro Gêneros orais e escritos na escola, a escolha de qual gênero textual deve ser usado pelo professor, em sala de aula, precisa atender a três aferições: pertinência, legitimidade e solidarização. Porque os gêneros podem ser ensináveis a partir dos conteúdos que apresentam, da estrutura de sua materialidade e das configurações de cada unidade linguística. 

Sendo assim, compreender os gêneros da esfera acadêmica voltados para o trabalho com a ciência é abrir um leque de opções que se justifica no trabalho da sala de aula.


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Documentos pedem estímulo à curiosidade

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) preconiza como uma das competências básicas esperada em formação para o ensino fundamental o exercício da ‘curiosidade intelectual’, além de privilegiar a trilha planejada para a abordagem das ciências: “a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas.” (Brasil, 2017, p. 09). 

Para o ensino médio, a BNCC propõe que a definição das competências e habilidades estejam concatenadas às aprendizagens mais importantes do ensino fundamental, pois o ensino médio terá, como parte dos objetivos, “consolidar, aprofundar e ampliar a formação integral dos estudantes, atendendo às finalidades dessa etapa.” (Brasil, 2018, p. 470)

Educar, portanto, para a ciência, num continuum que se estenderá ao longo da jornada estudantil do aluno, faz-se necessário não só por sua relevância em campos de experiências, como também, por sua possibilidade de adaptação aos estudos acadêmicos em um possível ensino superior.

Consciência e pertencimento

 

A compreensão da língua, em seu domínio estilístico, semântico e discursivo, garante ao aluno seu poder de expressão e reconhecimento no/do mundo, em um movimento socialmente dependente, tal como amplia sua mais poderosa marca de cultura e de acessos.

Por uma educação mais inclusiva e democrática, a campanha para o trabalho da ciência ao longo da caminhada escolar do aluno é uma forma de evitar formas de marginalização e exclusão daqueles que não possuem uma educação de qualidade. 

Para isso, é preciso, desde cedo, balizar, regular e mediar de forma assertiva e com afeto as relações com o saber, com o domínio de diferentes linguagens e com os valores culturais, estéticos, éticos, baseando-se, fundamentalmente, em preceitos científicos.

*Tony Labanca, doutor em educação. E specialista em formação de professores. Professor na Rede Clarissas Franciscanas



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Autor

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