NOTÍCIA
Modelo de valor agregado surge com a promessa de isolar os diversos fatores que definem o sucesso escolar, mas já encontra resistências
Publicado em 30/04/2012
Alunos de professores bem avaliados pelo modelo de valor agregado são mais propensos a frequentar o ensino superior, diz pesquisa |
Em diversos países, a avaliação dos professores por meio do resultado dos alunos tornou-se uma tendência ao longo dos últimos anos. A relação parece simples: alunos bem posicionados em testes padronizados devem ter tido os melhores professores. Mas não é bem assim. Isolar as variáveis que influenciam na aprendizagem está entre os mais polêmicos desafios das metodologias de avaliação. Afinal, um bom aluno pode se mostrar mais propenso a aprender por ter uma vida culturalmente ativa, pais participativos, por estar em uma escola organizada, por fazer parte de uma turma mais homogênea e, claro, por ter professores mais preparados. Como separar a influência e o peso de tantos fatores diferentes?
Na última década, principalmente, os modelos chamados value-added models (VAM), ou estudos de valor agregado, mostraram-se um caminho promissor ao tentar controlar com mais precisão o peso das variáveis. Ao invés de olhar apenas para a pontuação obtida pelos alunos em um exame, esses estudos tentam verificar o quanto eles aprenderam ao longo de certo período e dentro de determinado contexto – os ganhos de desempenho do aluno passam a ter, assim, maior peso do que a pontuação final obtida. Alguns pesquisadores vêm questionando, entretanto, a eficácia dessa proposta, alegando que ela pode ser um, mas não o único caminho para diagnosticar a qualidade do trabalho docente. É uma discussão complexa e repleta de cálculos.
Recentemente, economistas do Instituto de Políticas Econômicas, localizado em Washington, nos EUA, fizeram uma revisão de estudos que utilizaram tal metodologia. Os autores reuniram diferentes pesquisas que apontam instabilidades no modelo, que não seria adequado para a tomada de decisões como diferenciações salariais. Verificaram, por exemplo, que professores avaliados segundo esses critérios podem ter grandes variações em seu desempenho em curto espaço de tempo. Tais diferenças podem se dever às variações de turma e professores em um ano particular, mobilidade dos alunos, influências externas à escola e outras variáveis de difícil controle. É muito trabalhoso comparar professores que trabalham com turmas muito diferentes – por exemplo, os que partem de grandes defasagens ou estão em classes muito heterogêneas.
Mas também há pesquisas que reiteram a importância dessa opção metodológica. Outro estudo, publicado pelos pesquisadores Raj Chetty e John Friedman, da Universidade Harvard, e Jonah Rockoff, da Universidade de Colúmbia, encontrou dados que corroboram os estudos de valor agregado. Analisando registros escolares de 2,5 milhões de alunos e seus resultados em 18 milhões de testes de matemática e leitura, surgidos de 1989 a 2009, entre outras informações, os pesquisadores chegaram à conclusão de que os alunos de professores bem avaliados por esta metodologia são mais propensos a frequentar a faculdade e ganhar salários mais altos. Trata-se, portanto, de uma briga acadêmica que ainda terá muitos rounds, até que se construam instrumentos consensualmente capazes de avaliar o que é um bom professor.
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