NOTÍCIA
Publicado em 10/04/2013
Especialista em avaliação na América Latina, Gustavo Iaies diz que a deficiência do Pisa é a comunicação dos dados, e defende que a criação de uma prova regional pode ajudar os países com maiores carências
Graduado em Ciências da Educação, com mestrado em Política e Administração da Educação, o argentino Gustavo Iaies foi secretário de Educação Básica do Ministério da Educação da Argentina e, a partir de 2004, como diretor da Fundação Centro de Estudos em Políticas Públicas (CEPP), ampliou sua atuação para a América Latina. Dirigiu o programa de avaliação estrutural em sistemas educativos adotado no Chile, México, Colômbia e Costa Rica. Na entrevista a seguir, ele comenta o posicionamento dos países latino-americanos frente ao Pisa e a intenção de criar uma avaliação para a região.
Em sua opinião, quais são as deficiências de avaliações como o Pisa?
A discordância não é apenas entre os países da América Latina. Para todos, os resultados do Pisa são dolorosos, e os governos têm pouco manejo dos modos pelos quais eles são divulgados. Por outro lado, é certo que no caso da América Latina há alguns problemas de pertinência cultural na prova, mas também na maneira de divulgá-la. Temas como o fato de jovens serem os primeiros de suas famílias a chegarem ao ensino médio, entre outros, requerem uma análise muito mais contextualizada dos resultados.
Os sistemas educativos da América Latina precisam de um indicador, ou de uma avaliação regional?
Acredito que um indicador regional possa ser um início. A região é extremamente desigual em termos de capacidades de seus governos, e a construção de uma prova regional pode ser uma boa forma de criar um dispositivo de cooperação horizontal que fortaleça, especialmente, os países com maiores carências. Senão, de novo se torna uma ferramenta que apenas serve para construir a ideia de que a educação está muito mal, e que é muito difícil sair dessa crise.
Os sistemas educativos da América Latina são mais semelhantes entre eles – em suas deficiências – do que em comparação a outros países que participam do Pisa? Quais são os desafios em comum?
Os países que participam do Pisa são mais homogêneos do que o resto. Em geral, são os que contam com sistemas educativos mais desenvolvidos. Provavelmente, a maior diferença é o tamanho de seus sistemas, o que influencia os resultados. Em sistemas menores, e mais homogêneos, os processos de melhoria são mais simples. Acredito que o desafio da América Latina é que o “motor” de transformação do sistema deixe de ser apenas os Ministérios. A diferença entre nossos sistemas e os europeus é que nestes últimos, a escola é anterior ao Estado. Na América Latina, o Estado “impôs” a escola, quando a tornou obrigatória. Nesse sentido, as famílias não se apropriaram das escolas. Precisamos que nossos sistemas multipliquem as “locomotivas”. Apenas com o Estado, é muito difícil mover esse “trem” na necessidade necessária.
Quais seriam os dados ou informações que poderiam compor esse indicador regional?
Acredito que seria preciso ter dados de aprendizagem, fundamentalmente, mas analisados a partir das distintas realidades sociais em que vivemos, que devem ser comunicadas de modo que as escolas entendam mais claramente onde estão as dificuldades de seus alunos e como podem fazer para abordar esses problemas.
No Brasil hoje há uma forte discussão sobre as avaliações de rendimento de estudantes, professores e escolas. Essa discussão está presente em outros países da região?
Sim. Me parece que no fundo estamos produzindo uma mudança cultural dos sistemas educativos e é preciso introduzir o valor da avaliação nessa nova cultura. Nossos sistemas foram criados para incluir e socializar crianças e jovens nos valores nacionais. O debate sobre a qualidade é muito recente. A sensação é de que a realidade social é tão dura, que só de estar na escola já é o suficiente. Mas a verdade é que a região precisa melhorar seus indicadores de qualidade para se desenvolver.