NOTÍCIA

Ensino Superior

Aprendizagem ativa

Conheça as metodologias que prometem revolucionar a forma de aprender e ensinar, tornando o aprendizado mais dinâmico e as aulas mais interessantes para os alunos

Publicado em 15/07/2013

por Ensino Superior

Conheça as metodologias que prometem revolucionar a forma de aprender e ensinar, tornando o aprendizado mais dinâmico e as aulas mais interessantes para os alunos 
por Salete Silva
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Primeiro a globalização, depois a informatização e, ultimamente, a chegada ao ensino superior, e ao mercado de trabalho, das chamadas geração Y e Z, levaram as instituições de ensino a adotar o uso de metodologias ativas em sala de aula. As mudanças impactam ainda o papel do docente, transformando-o em um verdadeiro orientador de estudos ao invés de mero transmissor de conteúdo, exigindo também do aluno uma nova postura: a de protagonista de seu próprio aprendizado.
Há diversos modelos de metodologias ativas disponíveis no mercado, entre as quais estudos de caso, aula-laboratório, trabalhos em grupos, simulações, aprendizagem baseada em problemas ou projetos (PBL), entre outras. O sucesso de qualquer uma delas, no entanto, depende de uma radical mudança na atuação do professor em sala de aula.
“O foco passa a ser o diálogo com os alunos, a sondagem de conhecimentos prévios e percepções sobre o tema em questão com incidência na problematização, contextualização e aplicação prática dos conhecimentos”, explica Maria Aparecida Felix do Amaral, coordenadora do curso de pedagogia e integrante do Núcleo de Assessoria Pedagógica do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal).
É uma parceria entre professor e aluno na busca pelo conhecimento. De acordo com ela, o aluno assume o papel de ator principal, e o professor o de mediador e estimulador do processo de “ensinagem”, ou seja, do ensino com foco na aprendizagem, resultante de uma interação entre professor e aluno que engloba as ações de ensinar e aprender.
A ideia é estimular a autonomia intelectual dos alunos por meio de atividades planejadas pelo professor para promover o uso de diversas habilidades de pensamento como interpretar, analisar, sintetizar, classificar, relacionar e comparar. “É, acima de tudo, promover o trabalho partilhado com seus pares”, destaca a coordenadora.
Nesse sentido, a unidade de Lorena do Unisal passou a centrar o foco na aprendizagem e não mais no ensino ao adotar, no ano passado, o método Peer Instruction, traduzido de forma literal como Instrução pelos Pares (veja mais no quadro).
Como carro-chefe, a atividade tem na leitura prévia e na interação entre os pares os momentos mais importantes. De acordo com a professora Marcilene Rodrigues Pereira Bueno, uma das responsáveis pelas pesquisas e aplicação de novas metodologias de ensino no Unisal de Lorena, na leitura prévia os alunos percebem a necessidade de se responsabilizar pelo próprio processo de aprendizagem, já que o material fornecido de antemão é primordial para o efetivo aproveitamento da discussão em sala. “Não há mais uma recepção passiva de informações pelo aluno”, salienta Marcilene.
O método ainda usa o apoio da tecnologia para potencializar o aprendizado com agilidade. Com a ajuda de clickers, dispositivos eletrônicos que registram e contabilizam as respostas dos alunos, o professor tem acesso ao desempenho da turma quase em tempo real. “A tecnologia é importante, mas secundária”, ressalva Marcilene. O processo de mudança tem de começar pela atitude do professor. “Aula com metodologia inovadora exige docente com atitude inovadora”, completa.
Os investimentos da instituição, Marcilene admite, são altos e o envolvimento docente, fundamental. Os professores envolvidos na introdução do método trabalham em período integral para dar conta das aulas e atividades de pesquisa. Para isso, a instituição está construindo uma sala para ampliar o uso de metodologias inovadoras com toda a tecnologia necessária para métodos ativos. “Porém, sem dúvida, os benefícios ultrapassam, e muito, os custos”, conclui.
Projetos que desafiam
A Faculdade de Informática e Administração Paulista (Fiap) também encontrou numa metodologia ativa a melhor forma de ensinar e colocar em prática o conhecimento adquirido em sala de aula. A instituição adotou em todos os cursos o chamado Project Based Learning (PBL), ou Aprendizagem Baseada em Projetos, por meio do qual propõe competições e desafios para que os alunos desenvolvam competências de liderança, trabalho em equipe e solução de problemas.
Nesse sistema o ensino também está focado no aluno e a aprendizagem ocorre durante a investigação, discussão dos conceitos em grupo, representação de ideias e da organização das informações em busca de uma solução. O projeto embrionário foi lançado em 2005 pela Fiap com o Robocup, um desafio no qual os alunos projetam e constroem robôs que se enfrentam numa competição eletrizante.
Divididos em equipes, os alunos fabricam robôs articulados sobre rodas, que são controlados pelos próprios estudantes. Cada robô deve transportar um balão e estar munido de uma “arma” controlada por um microprocessador programável. O robô vencedor na disputa é o que mantém seu balão intacto, após ter estourado o do adversário.
“Os conhecimentos em eletrônica, programação, redes de computadores, física, raciocínio lógico matemático, planejamento estratégico, entre outros, são colocados à prova, assim como a visão de mercado para o produto desenvolvido”, salienta Wagner Sanchez, diretor acadêmico da Fiap.
Transmitir o conhecimento na mesma frequência dos jovens, o professor aponta, é a primeira vantagem dessa metodologia. “Não podemos oferecer um ensino analógico para esta geração digital que está em nossas salas de aula”, afirma. Além disso, o PBL dá, segundo ele, significado ao aprendizado, por meio da vivência na prática das disciplinas ministradas em sala de aula. “É preciso abandonar o conceito de que giz, lousa e saliva transmitem conhecimento. O aluno precisa ver funcionando tudo aquilo que é mostrado pelo professor”, acrescenta Sanchez.
O método também é um estímulo à pesquisa. Com o desafio instiga-se a vontade de vencer, de aplicar na prática o conhecimento adquirido e pesquisar para inovar na criação das soluções. O PBL incentiva ainda o trabalho em grupo e a socialização do conhecimento não só entre os grupos e nas salas de aula, mas também nas redes sociais, nos fóruns e nos laboratórios. “O professor adota um papel importante de mediador e inspirador e não mais de detentor único do conhecimento”, diz Sanchez.
Além disso, o PBL permite integrar vários conteúdos e disciplinas a fim de transmitir desde conceitos simples até os mais complexos. “É possível, por exemplo, ensinar tanto regra de três como estudar o lançamento de foguetes em que o aluno aplica ciência dos materiais, química, eletrônica, telemetria, entre outros conceitos”, relata o diretor.
Aprender fazendo
A tese do norte-americano Roger Schank, crítico do modelo tradicional de educação, segundo o qual o verdadeiro aprendizado vem da prática, não das teorias de sala de aula, foi o que inspirou a Faculdade de Administração da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) a desenvolver novos projetos utilizando-se de recursos de metodologias ativas.
A instituição alia teoria a prática por meio de estudos de casos, apresentação de problemas reais e a aproximação de alunos com empresários e executivos, além de fazer uso de jogos na aplicação do aprendizado. “Tudo o que se constitui em conhecimento surgiu de uma prática ou de perguntas que estimulam o conhecimento teórico”, diz Paula Carvalho Pereda, coordenadora da Faap.
Muitos conceitos de economia, como a produtividade, os alunos aprendem jogando. Distribuídos em grupos que representam empresas, eles aprendem com a dinâmica do jogo o que faz aumentar ou diminuir a produtividade de uma companhia. “Conforme o professor introduz complicações teóricas, eles percebem o impacto na produtividade”, relata.
Estudos de casos também fazem parte do programa da Faap, que inclui a criação de um concurso para premiar os melhores casos de empreendedorismo. Nessa iniciativa, os estudantes apresentam casos reais para serem estudados, discutidos e avaliados. “Além de estimular a busca por experiências de negócios bem-sucedidos, a iniciativa vai gerar um banco de casos para serem estudados por outros alunos da instituição”, planeja Paula.
A expectativa da coordenação, depois da experiência piloto de empreendedorismo, iniciada no primeiro semestre, é ampliar para casos de marketing, recursos humanos e ainda estender para outros cursos da Faap. Apesar de as ações serem recentes, de acordo com Paula, já é possível detectar resultados positivos, como a redução da taxa de evasão na faculdade e um menor número de trancamento de matrículas.
Força da realidade
A problematização centrada na interação entre professor, aluno e conhecimento, um dos principais pilares da educação libertadora proposta por Paulo Freire, é a metodologia escolhida para tornar mais ativa a aprendizagem nas salas de aula da Faculdade Ages, localizada no município de Paripiranga, interior da Bahia.
O modelo está presente em todos os cursos da instituição, nos quais os estudantes são chamados a observar a realidade a fim de elaborar um problema. Em seguida, passam a levantar ideias e suposições para resolvê-lo. “O problema não é formulado, mas emerge da realidade estudada, a partir da observação”, salienta José Wilson dos Santos, diretor-geral da Faculdade Ages. Por meio de perguntas, os alunos levantam hipóteses de solução ou explicação para o problema identificado.
O professor em seguida fornece as teorias necessárias para o estudo do problema e os estudantes pesquisam para confrontar as hipóteses com as teorias. “A ideia é trazer para a aula questões práticas para serem analisadas à luz da teoria e dar significado ao conhecimento acadêmico”, salienta.
Ao exigir o envolvimento do aluno com a realidade, a metodologia da problematização permite, segundo Santos, que o aluno desenvolva o espírito crítico e questionador. “O estudante está sempre em ação como observador, formulador de questões, fazendo e refazendo suas percepções”, afirma o diretor. Tendo como base a própria realidade, esse sistema de ensino motiva, segundo ele, a formação de estudantes comprometidos com a transformação da realidade.
Além disso, ao desenvolver competências intelectuais como observação, questionamento, análise, planejamento, compreensão, síntese, relação e visão interdisciplinar e também habilidades sociais – convivência em grupo, tolerância e comunicação –, o aluno sai mais preparado para o mercado de trabalho.

Classe invertida
A Escola de Enfermagem da Universidade do Arizona, localizada em Tucson (EUA), sofria com a falta de professores de enfermagem. A instituição precisava de um sistema poderoso e flexível com o qual fosse possível converter o programa presencial de doutorado em enfermagem, que já existia, em um programa totalmente on-line. Aplicou a FlipClass (classe invertida), uma das experiências ativas e inovadoras de ensino utilizadas nos Estados Unidos. O programa deu tão certo que agora a Escola tem 56 cursos de doutorado em enfermagem on-line, que contam com apresentações e momentos interativos. A FlipClass é centrada no uso da tecnologia, especialmente vídeo, e tem como objetivo aproveitar melhor o tempo presencial e reduzir o número de aulas expositivas, aproveitando a tecnologia e outros recursos fora da sala de aula. “Às vezes, erroneamente, associamos essa metodologia a assistir vídeos em casa, mas na realidade ela diz respeito a uma nova abordagem no uso do tempo em sala de aula, pois nem sempre o sistema expositivo deve dar início ao aprendizado”, explica Virginia Jamieson, assessora de Comunicação Corporativa da Desire2Learn, companhia norte-americana especializada em soluções de aprendizagem. Por esse sistema o aluno passa a ter a responsabilidade de entender a matéria para ser capaz de aplicá-la em sala de aula. “Assim consegue articular o que não entende por meio de um modelo mais ativo que estimula o raciocínio complexo ao invés de uma atitude passiva na aula”, salienta. Segundo Virginia, esse é um conceito novo que enfoca o uso da tecnologia. “Porém, o importante é que os alunos precisam se tornar mais ativos e responsáveis pela própria aprendizagem”, destaca. A sala de aula invertida, ela informa, pode abranger uma série de outras metodologias, entre as quais a aprendizagem baseada em projetos.

 

Instrução pelos pares
Criado pelo professor Eric Mazur, da Universidade Harvard, a aplicação do Peer Instruction, ou Instrução pelos Pares, constitui um conjunto de etapas que vão desde a leitura prévia do material em estudo pelos alunos, passando pela exposição em sala de aula e o levantamento de questões, a discussão em grupos para rever pontos em conflito, até chegar à avaliação do professor e ao recolhimento de dados e análise das dificuldades da turma. No caso de um percentual grande de erros, o ciclo é reiniciado novamente, sendo propostos novos textos para os alunos. O método criado por Mazur faz uso de clickers, dispositivos eletrônicos que registram e contabilizam as respostas dos alunos, permitindo ao professor ter acesso ao desempenho da turma em tempo real.

 

Alunos com a mão na massa
A Faculdade de Informática e Administração Paulista (Fiap) aproveita para desenvolver o conteúdo teórico na prática, colocando os alunos em contato com situações que poderão encontrar no ambiente de trabalho. Nesse sentido realiza a Security Cup, uma competição em que é dado ao aluno o desafio de desenvolver ações e raciocínio para solucionar problemas decorrentes de prováveis falhas de segurança digital. Num ambiente preparado de servidores, que simula uma grande estrutura tecnológica corporativa, os alunos aplicam seus conhecimentos de segurança da informação. Para cumprir as etapas da competição, os estudantes são submetidos a uma série de inconsistências de segurança, comuns a diversos setores da economia e que podem fragilizar o negócio da empresa, e precisam encontrar as soluções necessárias.

 

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