NOTÍCIA
Publicado em 15/02/2016
A obra compreende todas as abordagens que priorizem a arte como expressão e cultura
A experiência estética tem o papel de transcender o simples ato de ver ou informar. Ela provoca, instiga, percorre nossas entranhas em busca de novos e inusitados caminhos, cada qual único, pois somos únicos em nossas experiências, percepções e leituras pessoais do mundo que nos cerca. É esse caminho de ampliação de horizontes que Ana Amália Tavares Bastos Barbosa nos apresenta de forma contundente em Além do corpo – Uma experiência em arte/educação (Cortez, 200 p, R$ 46), obra baseada em um programa de arte para criançascom paralisia cerebral da associação Nosso Sonho de São Paulo.
Trata-se de um livro que conduz o leitor a encontrar novas reflexões e possibilidades de trabalhos comprometidos com o ensino da arte e a inclusão de crianças com e sem deficiência. A experiência da autora não se restringe a propostas de arte voltadas a jovens com paralisia cerebral, e sim, compreende todas as abordagens que priorizem a arte como expressão e cultura, traduzidas pela apreciação estética, contextualização e fazer artístico. Além disso, leva em consideração a percepção multissensorial como forma de abarcar a diversidade de todas as crianças, incluindo suas necessidades e potencialidades.
Ao propor formas de leitura e de expressão que utilizem todos os nossos sentidos (sensorial, corporal e espacial), a autora demonstra a importância deles como instrumentos facilitadores do conhecimento estético e cognitivo das crianças. Mesmo afirmando sua vocação como arte-educadora e não arte-terapeuta, Ana Amália concorda que cultivar a arte por meio dos sentidos leva a uma maior consciência corporal e ao desenvolvimento de habilidades de percepção e produção artística. Para ela, isso estimula e motiva no público outras habilidades intrinsecamente reabilitadoras. Do mesmo modo, ao incluir no seu programa a arte como cultura, a autora extrapola os limites da produção dos alunos, levando-os a estabelecer um diálogo entre sua própria produção e as obras de outros artistas. esse movimento excede os limites da instituição, ao proporcionar experiências nas quais o corpo de cada participante interage com obras tridimensionais, e ao promover a interação dos corpos com objetos artísticos de diversas naturezas. E, falando de inclusão de alunos com deficiência na arte, temos também aqui um contundente exemplo de inclusão profissional, cujos reflexos foram nitidamente aprovados pelas crianças: a professora do programa possuía características físicas muito semelhantes aos pequenos, referencial que levou à aproximação e à empatia de todos. As crianças, os demais docentes da instituição e também os pais dos alunos viram em Ana Amália, além de uma referência profissional e humana, a esperança, um caminho futuro, ainda que árduo, mas não impossível.
Amanda Fonseca Tojal é doutora pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP) e atua como arteeducadora, museóloga e consultora de acessibilidade cultural e ação educativa inclusiva. Também é sócia-presidente da empresa Arteinclusão Consultoria em Ação Educativa e Cultural.