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CURRÍCULO | Edição 201 Modalidade obrigatória, as atividades complementares possibilitam experimentos e vivências para a formação do estudante por Gérson Trajano Na busca pela oferta de uma formação plena, as instituições de ensino superior apostam nas atividades complementares (AC) como forma de enriquecer e auxiliar […]

Publicado em 17/08/2015

por Redação Ensino Superior

CURRÍCULO | Edição 201
Modalidade obrigatória, as atividades complementares possibilitam experimentos e vivências para a formação do estudante
por Gérson Trajano

Gustavo Morita

Aluna participa de atividade complementar no Centro de Empreendedorismo e Inovação do Insper.


Na busca pela oferta de uma formação plena, as instituições de ensino superior apostam nas atividades complementares (AC) como forma de enriquecer e auxiliar o desenvolvimento de habilidades, de competências e de estimular práticas de estudo independente, visando uma progressiva autonomia técnica e intelectual do aluno. Unidade curricular obrigatória da graduação – bacharelados, licenciaturas e tecnólogos –, introduzida pelo Parecer nº 776/1997 e confirmada pelo Parecer nº 583/2001, ambos da Câmara de Ensino Superior do Conselho Nacional de Educação (CES-CNE), as AC permitem a ampliação dos conteúdos das disciplinas que integram a matriz curricular, possibilitando a interdisciplinaridade e a multidisciplinaridade necessárias à atuação profissional.
Com as atividades complementares, um estudante de bacharelado em ciências contábeis, por exemplo, pode buscar no curso de direito disciplinas que enriqueçam sua formação, como direito empresarial. Ou, no curso de administração, aprofundar-se em  administração orçamentária e financeira. Elas servem, ainda, para a atualização de conteúdos estudados ou já defasados, seja por questões de ordem legal ou por obsolescência, algo comum nos dias de hoje.
Os cursos de graduação devem reservar, no geral, até 20% da carga horária total para a oferta de atividades complementares. “Apostamos nessa prática para entregar à sociedade profissionais capazes de aplicar o que aprenderam com agilidade, criatividade e compromisso social”, afirma Marcello Nitz, pró-reitor acadêmico do Centro Universitário do Instituto Mauá de Tecnologia (Ceun-IMT). Para ele, a graduação universitária deve ser uma experiência rica na formação profissional, humanista e cultural, e as atividades complementares são a promessa de um ensino plural e em formatos diferenciados de aprendizado.
Romane Fortes Bernardo, pró-reitora de ensino, pesquisa e pós-graduação do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal), também defende a ideia de que as IES não devem se preocupar apenas com a formação profissional, mas também com a formação integral do aluno. Atividades como as complementares são imprescindíveis nesse processo, afirma.
“Hoje, temos como referencial formativo a preocupação com a educação integral, que engloba a formação básica e profissionalizante. Mas também há uma preocupação com a melhoria da cultura geral, da capacidade de contextualizar, participar, criticar, construir e defender ideias. Por isso, as atividades complementares são indispensáveis na proposta de construção do cidadão”, avalia Romane.
Além de compor a carga horária, elas têm como objetivo oferecer participação em programas socioculturais, de ensino dirigido, técnico-científicos e comunitários. A natureza da atividade permite a participação em palestras, seminários, debates, oficinas, congressos e visitas monitoradas sobre os mais variados temas.
Desde a institucionalização das AC pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), a Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp) investe nessa prática para integrar conhecimento e informação. Fundada em 1924, a instituição tem 11 mil universitários, 26 cursos de graduação presencial e 13 a distância.
“Nossos esforços concentram-se em promover operações integradas por áreas de saber (humanas, exatas e saúde), que ampliem o conhecimento e despertem interesse para ações transdisciplinares”, diz Sonia Maria Camargo dos Santos, coordenadora de graduação da diretoria de ensino, pesquisa e extensão da universidade.
Uma das formas de incentivar a participação é o estudo independente. Para isso, a Unaerp promove anualmente o Congresso de Iniciação Científica e Pesquisa (Conic). A entidade mantém 54 grupos de pesquisa certificados pelo CNPq e 13 patentes registradas. “A importância das AC reside em articular conteúdos extras aos projetos pedagógicos de cada curso”, diz a coordenadora.
Muito além da sala de aula
Celso Frauches, consultor educacional da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes), diz que a sala de aula não pode ser o único local para o processo de ensino-aprendizagem. Segundo ele, as metodologias de aprendizagem ativa são realizadas fora da sala de aula, em ambientes que diferem em muito do território tradicional presente na maioria das IES. “No caso das categorias complementares, elas são mais apropriadas fora da clássica sala de aula, mas podem, nestas, ser desenvolvidas de forma competente. Tudo depende da IES e de seus gestores”, diz o consultor.
Na opinião de Carolina da Costa, diretora acadêmica do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), a sala de aula não dá conta sozinha da função de ensinar. “É preciso diversificar a forma e o conteúdo do que é oferecido.”
Autonomia no currículo
Para Frauches, as AC podem ser mais eficientes e eficazes quando conduzidas por profissionais ou docentes estranhos ao quadro oficial da faculdade e mais afeitos ao exercício da profissão. Enquanto o professor acadêmico dá maior solidez conceitual, o responsável pela AC está mais ligado às práticas do mercado de trabalho.
A modalidade permite também ao discente a participação direta na construção do seu currículo, já que ele pode sugerir as atividades do seu interesse. “Temos de respeitar a diversidade e a autonomia intelectual do estudante e, juntos, elaborar um currículo eficiente”, diz Márcio Luis Carreira, diretor da Faculdade Anhanguera de Bauru.
No Instituto Mauá, desde o início de 2015, os currículos de engenharia  vêm sendo reformulados levando em conta o melhor aproveitamento dos alunos. Foram deslocados, em média, 20% das aulas teóricas para atividades complementares práticas e eletivas. A reformulação também acontece nos cursos de administração e design.
Com isso, na primeira série o aluno tem 40 opções de projetos, que contemplam todas as áreas de ensino e integram todos os cursos da graduação. É o caso do Fábrica de Skates,  com 150 inscritos. Por meio da metodologia Fab Lab, eles participam dos processos de concepção, design, gestão de projeto, pesquisa de mercado e de materiais, prototipagem, organização administrativa, análise de custos de produção, plano de marketing, branding e plano de vendas. Os alunos podem aplicar o que aprenderam em associações comunitárias parceiras da Mauá, tornando o projeto um negócio rentável e de integração social.
No Insper, os estudantes da graduação em ciências econômicas têm no 6º semestre a disciplina Problemas em economia, cuja proposta é desenvolver as competências na resolução de problemas reais. A ideia é sair da teoria e pôr a mão na massa. Os alunos são agrupados em times, para um trabalho em equipe que envolve pensamento crítico, comunicação e foco no problema.
Desafio para os gestores
Oferecer atividades que atendam aos objetivos de uma formação profissional ampla, estimular práticas de autonomia intelectual, possibilitar a inter e a transdisciplinaridade e implantar formas de controle e validação são os principais desafios para os gestores acadêmicos e coordenadores de curso na criação e na execução das atividades complementares.
Para Antonio Carlos Araújo, coordenador pedagógico das Faculdades Integradas Padre Albino (Fipa), de Catanduva (SP),  o principal desafio é compreender o que é uma formação profissional e a relevância das AC nesse processo. E, a partir daí, gerar valores, conceitos, atitudes e hábitos ligados diretamente às necessidades práticas e teóricas exigidas pelo mercado de trabalho.
De acordo com a legislação, cada instituição deve desenvolver normas próprias para regularizar as AC. A Unaerp criou uma comissão composta por coordenadores de cursos para discutir e elaborar um guia geral de atividades complementares. O material informa a política da instituição para a modalidade e como ocorre a integração entre as áreas para o compartilhamento das ações, além de orientar os coordenadores na construção dos regulamentos das atividades.
“Gradualmente, docentes e alunos estão entendendo e incorporando as AC e suas possibilidades de complementação e ampliação intelectual e profissional. A ação proativa de estudos independentes e complementares é algo novo na cultura do estudante brasileiro. Mas, à medida que as instituições as criam, estimulam e realizam, a comunidade as incorpora em seus objetivos e práticas”, avalia Sonia Maria Camargo dos Santos, da instituição de Ribeirão Preto.
Para saber se a atividade atingiu seu objetivo, Celso Frauches, consultor da Abmes, orienta incluí-la no rol de avaliação de cursos pela Comissão Própria de Avaliação (CPA), que integra a matriz curricular.
Outro mecanismo é incorporar as atividades complementares ao trabalho realizado pelo Núcleo Docente Estruturante (NDE), que tem por competência monitorar e implementar os projetos pedagógicos, a fim de manter esse instrumento atualizado e condizente com a formação desejada pelos estudantes, ao lado do cumprimento das diretrizes curriculares nacionais.

Autor

Redação Ensino Superior


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