Fonte inesgotável de personagens, tragédias, comédias, monólogos e frases de efeito, a obra de William Shakes1916peare (1564-1616), cuja morte completa quatro séculos neste ano, encontrou na produção audiovisual um parceiro ideal para chegar ao grande público. A caneta de pena do dramaturgo inglês é diretamente responsável por mais de 1.100 longas, curtas e séries, de acordo com o site IMDB, maior banco de dados on-line sobre cinema. Somente no período do cinema silencioso, até o final da década de 1920, foram cerca de 500 produções – esse grande interesse não deixa de ser curioso, já que os atores não podiam declamar as falas dos personagens nos filmes.
O apelo de Shakespeare é universal. Suas peças esquadrinham todos os cantos dos sentimentos humanos: lá estão a cobiça, o ciúme, o amor, a ira, o riso. O cinema permitiu que esse inventário pudesse sair do palco e fosse adaptado aos mais diferentes cenários e em épocas distintas, de modo que funcionassem também como um comentário sobre um tempo e espaço particular – do Japão dos samurais ao Brasil rural da novela das seis.
No entanto, mesmo em meio a tantos filmes, é raro que uma obra de Shakespeare levada às telas consiga obter elogios unânimes. A primeira vez que isso ocorreu provavelmente foi com o Henrique V de Laurence Olivier, lançado em 1944, em meio à Segunda Guerra Mundial. Orson Welles também foi muito bem-sucedido em suas adaptações, assim como Akira Kurosawa – duas vezes, com Trono manchado de sangue (1957), adaptação de Macbeth, e Ran (1985), baseado em Rei Lear.
Em leituras inventivas, como no musical Amor, sublime amor (1961) que leva Romeu e Julieta a uma disputa de gangues em Nova York, ou literais, como a versão integral de Hamlet com duração de quatro horas dirigida por Kenneth Branagh em 1996, o cinema não cansa de reviver Shakespeare.