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Evelyn Cordeirinha nunca tinha se imaginado lecionando até começar a dar aulas de inglês depois de um intercâmbio nos EUA. “Eu não consegui um trabalho na minha área logo que voltei ao Brasil, então passei a ensinar inglês”, revela a professora, formada em administração de empresas. Cinco anos depois, já graduada em letras, prestou concurso e hoje trabalha em uma franquia da Skill e também em escola pública.
Assim como Evelyn no começo de carreira, a maioria dos professores de cursos de idiomas não possui licenciatura para ensinar. “Por ser curso livre, existe uma flexibilidade. Em muitos lugares não é exigido nenhum tipo de formação, apenas um conhecimento da língua passa a ser suficiente”, explica Vinícius Nobre, gerente acadêmico da escola de idiomas Cultura Inglesa.
Nobre aponta que a falha na formação dos professores é o que leva o Brasil a ser o 41º colocado – de uma lista de apenas 70 países – em proficiência global de língua inglesa. “Dar aula de inglês é algo extremamente sério. Precisamos de bons profissionais, que tenham domínio da língua”, afirma.
Embora não seja obrigatório, um dos parâmetros que pode ser pedido do professor em um centro de línguas é a comprovação de fluência no idioma. Existem diversos certificados emitidos por universidades e centros estrangeiros que conferem ao participante um grau de proficiência, como o TOEFL (Test of English as a Foreign Language) e o IELTS (International English Language Testing System).
Para quem quer dar aulas, existem outros exames como o TESOL, certificação on-line voltada para o desenvolvimento profissional na docência de língua inglesa. Esdras Fattobene, professor do Colégio Batista Brasileiro, realizou ambos os testes. Tanto a certificação quanto a escolha de fazer a faculdade de letras foram tentativas de se manter competitivo no mercado de ensino de inglês.
“Procurei a licenciatura quando percebi que o professor tem data de validade na escola de idiomas, eles preferem pessoas jovens. Você não vê professor se aposentando em lugares assim, não tem futuro”, explica o docente de 43 anos e músico de formação.
Outra das principais diferenças entre o ensino na escola regular e em um centro de idiomas é a abordagem. “Via de regra, as escolas costumam trabalhar com compreensão e leitura, enquanto no centro de línguas abordamos todas as habilidades necessárias à comunicação do idioma”, diz Nobre, da Cultura Inglesa.
Essa realidade foi vivenciada por Esdras. Para ele, trabalhar conteúdos relacionados à oralidade, por exemplo, é muito difícil em uma sala com muitos alunos. “Na escola de idiomas são no máximo 15 pessoas. Aqui, com 45 estudantes, se eu dou uma atividade simples de speaking já vira bagunça”, explica.
Outra questão é a diferença de objetivos. “O currículo apresentado pela escola pública não leva o estudante a falar inglês. O objetivo do governo é prepará-lo para os vestibulares. Já nas escola de idiomas o foco é a comunicação, especialmente a oral”, afirma Evelyn.
Sobre a rede pública, a professora ressalta ainda o fator social como problema para a aprendizagem do inglês entre estudantes de baixa renda. “Na minha região os objetivos dos alunos são outros, a faculdade ainda é distante para eles. A maioria quer sair da escola e ir logo trabalhar, gerar renda”, conta.
Segundo dados do IBGE, a escolaridade média da população de 18 a 29 anos é de aproximadamente 8 anos, menos que o necessário para concluir os ensinos fundamental e médio. Dentro dessa realidade, os alunos não enxergam o domínio do inglês como um diferencial para sua entrada no mercado de trabalho.
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