NOTÍCIA

Edição 236

Escolas pequenas e médias adotam estratégias para subsistir

Proximidade com as famílias e marketing digital são algumas das apostas para se manter no ramo

Publicado em 27/01/2017

por Juliana Fontoura

Gestores de escolas pequenas e médias adotam estratégias para se manter no mercado

Foto: Shutterstock


A formação de grandes grupos no setor de educação básica vem se apresentando como uma tendência para os próximos anos. Apesar disso, gestores de escolas de pequeno e médio porte acreditam que esse não é o único caminho para sobreviver no meio – e até para crescer.
Um dos principais trunfos para manter o modelo de negócios é a proximidade entre os administradores e as famílias. “Algumas famílias querem atendimento personalizado e próximo com as pessoas que gerenciam a escola”, diz Eliana de Barros, sócia-mantenedora e diretora do Colégio Global Objetivo. “Acaba sendo um diferencial, um atrativo.”
O Colégio Global tem gestão familiar e é administrado por quatro sócios. É mantido pela mesma família há 40 anos e possui seis unidades pequenas e próximas, localizadas no bairro de Perdizes, em São Paulo. Ao todo, o colégio atende cerca de 700 alunos.
Eliana afirma que as escolas de gestão familiar acabam sofrendo dificuldades naturais em função do tamanho do negócio, e é aí que, em muitos casos, entram os grandes grupos. “A administração é simples. E, como é clássico que uma empresa familiar apresente dificuldades em dar continuidade à gerência, os grupos entram.”
Além das dificuldades de administração – muitas vezes sem profissionais que tenham mais experiência e visão de mercado -, a crise econômica também afeta o setor. Por causa de problemas financeiros, muitos alunos migraram das escolas privadas para as públicas. Em momentos como esse, é preciso focar na manutenção, e não no crescimento. “Nós já passamos por diversas crises econômicas e agimos dessa forma”, diz Eliana.

Oportunidade

Mas a crise também é vista como oportunidade por alguns colégios, especialmente aqueles que cobram mensalidades mais baratas. Isso porque, enquanto alguns pais acabam levando seus filhos para a rede pública, outros os mantêm na rede privada, mas buscam escolas com preço menor.
É o caso do Colégio Ateneu, localizado em Osasco, na região metropolitana de São Paulo. “Como temos uma mensalidade que não é tão alta, muitos alunos de escolas de ponta acabam migrando para a nossa escola em função da crise”, conta Rosana Navarro, mantenedora do colégio. Em média, a mensalidade custa R$ 1,2 mil.
Outra maneira de atrair novos alunos, segundo Rosana, é o boca a boca. “Há uma competitividade muito grande, já que os pais veem o marketing enorme desses grandes grupos, até com relação ao Enem, por exemplo. Mas acabamos atraindo as famílias pelo boca a boca e conquistando uma clientela cativa.”
Até o momento, a estratégia tem dado certo e permitido o crescimento gradual da instituição, afirma a mantenedora. O colégio foi criado há 25 anos e, inicialmente, atendia apenas a educação infantil. Em 2004, com os recursos gerados pelo próprio colégio, Rosana conseguiu a expansão para o ensino fundamental. E a previsão é que em 2018 passe também a ofertar o ensino médio. “Aos poucos fomos adquirindo recursos e comprando áreas próximas para aumentar o colégio. Estamos nos reestruturando para atender também o ensino médio.”

Marketing

Outros colégios, mesmo de pequeno porte, têm apostado no marketing para atrair novas famílias. O Colégio Evolve, localizado no Morumbi, região nobre de São Paulo, é um desses exemplos. Voltado à educação infantil, atende 80 crianças.
Desde 2014, o Evolve conta com um profissional especializado em marketing digital que chegou a trabalhar em grandes empresas. Jurema Esteban, gestora do colégio, destaca a importância de investir para atrair as famílias. “É a melhor forma de mostrar nosso trabalho. E, hoje, o marketing digital é o mais eficaz.”

Recursos próprios

Para se manter ou expandir o negócio, às vezes também é preciso investir do próprio bolso. Segundo Jurema, o Evolve, que existe há apenas quatro anos, conta com o suporte de sua mantenedora, a pedagoga Rosângela Hasegawa, que também atua como empresária no ramo alimentício.
“No caso da nossa escola, a mantenedora tem outro negócio que, a princípio, ajuda a manter esse. Por isso, não há possibilidade de fazer qualquer fusão.”  Para Jurema, as fusões e incorporações a grandes grupos tornaram-se tendência devido à crise financeira. “As escolas se unem para se fortalecer”, afirma.
A criação do Evolve também aconteceu com o investimento de Rosângela, que juntou recursos por 16 anos para tornar o negócio possível. Quando se tornou mãe, buscou escolas de educação infantil especializadas na região em que morava, o Morumbi, e encontrou apenas casas adaptadas. Decidiu, então, que fundaria naquele local uma escola voltada a essa etapa de ensino. Conseguiu atingir o objetivo em 2013 e, hoje, já tem planos para expandir para o ensino fundamental.

Futuro

Para o futuro, Rosana Navarro, mantenedora do Colégio Ateneu, acredita que a profissionalização pode mesmo ser um caminho. “Numa escola, a questão educacional todos dominam muito bem. Mas, às vezes, a escola pequena foca só na parte educacional e pode acabar pecando um pouco com relação à administração e ao marketing.”
Por enquanto, Rosana, que é formada em psicologia e já trabalhou com recursos humanos, treina pessoalmente seus funcionários. Nesse modelo, as possibilidades de crescimento para quem trabalha na escola são grandes. É o caso de uma das funcionárias que treinou. “Ela entrou comigo como estagiária, passou a professora, coordenadora, diretora e hoje é uma sócia minoritária.”

Autor

Juliana Fontoura


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