As bolas-planeta e seus tamanhos e massas: a Terra é uma bola de beisebol, Júpiter uma bolona daquelas de praia, o que preserva a relação de massa entre eles
Ao criar uma imagem para explicar a natureza de seu ofício, os historiadores situam a história como uma trama, um emaranhado de eventos pinçados de acordo com a conveniência daquele que busca organizar uma narrativa sobre uma determinada sequência desses mesmos eventos. Como o objeto da história – o passado – é de uma vastidão inapreensível, essas narrativas são sempre lacunares. Quanto mais aproximarmos o olhar da trama, mais perderemos a dimensão do todo; quanto mais nos distanciarmos, menos veremos essas pequenas lacunas onde muitas vezes é possível encontrar eventos desencadeadores de tantos outros.
Não só na história, a questão da escala é muito importante para o conhecimento. Ao colocarmos a Terra, o nosso continente ou país em um mapa, reduzimos o tamanho do objeto representado para conseguir entendê-lo melhor, mesmo que percamos exatidão em relação a alguns aspectos.
É mais ou menos o que faz David J. Smith em
Se… – Uma nova maneira de enxergar grandes conceitos (Companhia das Letrinhas, 2016), livro ilustrado em que usa a estratégia de lidar com grandezas mais palpáveis – especialmente para crianças – para entender a proporção de determinados fenômenos. Assim, do tamanho da galáxia à produção de comida, passando pela divisão do dinheiro e do tempo em nossas vidas, tudo ganha uma escala mais visível, assim como representações visuais que facilitam o entendimento dessas grandezas a princípio incomensuráveis.
Se… – Uma nova maneira de enxergar grandes conceitos, de David J. Smith, ilustrações de Steve Adams, tradução de André Czarnobai (Companhia das Letrinhas, 48 págs. R$ 34,90).
Os planetas viram bolas para a prática de diversos esportes – com tamanhos variados que expõem a diferença entre eles. A Terra é uma bola de beisebol, Júpiter uma daquelas grandonas de plástico que usamos na praia. O dinheiro todo do mundo (estimado em US$ 223 trilhões) se reduz a 100 moedas, das quais 40 delas estão com 1% da população, e uma delas seria dividida por metade dos habitantes da Terra. Já a produção de alimentos, se transformada em 25 fatias de pão, teria 11 delas originárias da Ásia, 5 das Américas Central e do Sul, 4 da Europa e outras 5 de América do Norte, África e Oceania.
Mais relevante é a analogia para explicar às crianças a irrelevância do homem: se os 3,5 bilhões de anos de vida na Terra se reduzissem a apenas uma hora, o homem em sua última versão – a nossa – entraria em campo apenas aos 59 minutos e 59,8 segundos. Imagem forte o suficiente para intrigar qualquer criança.
Smith, no final das contas, se utiliza de uma estratégia que, com algumas variantes, deve sempre estar no horizonte de quem ensina: a de aproximar e de criar imagens para aquilo que parece distante ou difícil de enxergar.
OUTRAS LEITURAS
O homem invisível, de H. G. Wells, apresentação de Thiago Lins, tradução de Alexandre Barbosa de Souza e Rodrigo Lacerda (Zahar Editora, 200 págs., R$ 49,90; e-book: R$ 29,90)
Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, de Mario de Andrade, ilustrações de Mariana Zanetti, posfácio e notas de Noemi Jaffe (FTD Educação, 248 págs., R$ 52)
Não falta nada, de Tatiana Filinto, com ilustrações de Visca (Editora Peirópolis, 32 págs., R$ 36)