NOTÍCIA

Edição 238

Para analistas, sistema privado deverá liderar inovações na implantação do novo ensino médio

Em simpósio voltado a gestores de escolas particulares, secretário de Educação Básica do MEC e outros debatedores afirmam que nova lei deve favorecer transformações do ponto de vista pedagógico e curricular

Publicado em 10/04/2017

por Rubem Barros

 

Foto: © Divulgação

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“A grande reforma do ensino médio não é a lei, é a partir de agora, quando vocês vão discutir a reforma dentro das escolas de vocês.” A afirmação é do secretário de Educação Básica do Ministério da Educação, Rossieli Soares da Silva, feita no mês passado em São Paulo, no simpósio “Os caminhos para o novo ensino médio”, destinado a gestores de escolas privadas.
Para o representante do MEC e para os outros debatedores, a lei aprovada em fevereiro não deverá ter impacto sobre as escolas privadas no que diz respeito à carga horária, questão à qual as redes públicas são mais sensíveis. No entanto, a expectativa é que a proposta favoreça experiências que possam transformar a etapa do ponto de vista pedagógico e da articulação curricular.
Para Mozart Neves Ramos, diretor de articulação e inovação do Instituto Ayrton Senna e ex-secretário de Educação de Pernambuco, no que diz respeito à velocidade de implementação do desenho mais flexível almejado pela lei, “a mudança virá pela lancha, e não pelo cargueiro”. “E isso aumentará ainda mais a desigualdade”, diz, ao comentar os reflexos entre a oferta no setor público e privado. Isso porque, avalia Mozart, o setor público, “o cargueiro, que abriga 80% das matrículas”, será palco de mais resistência ao novo formato.
“Mas a transformação no setor privado pode ser benéfica para a velocidade do processo”, acrescenta Antonio Neto, diretor institucional do Conselho Nacional dos Secretários de Educação e ex-titular da pasta no Estado do Rio de Janeiro. Ou seja, a adesão do setor privado, cujo espírito concorrencial deve estimular mais experiências de novos formatos, pode ajudar a quebrar resistências no setor público, acredita.
De fato, as escolas privadas já vêm buscando novos modelos, mais sintonizados com o perfil dos alunos contemporâneos, mais conectados e dispersivos. Cláudio Giardino, do Colégio Pentágono, diz que o colégio de certa forma já começou a implantar os itinerários, pois o médio tem três modalidades de matérias: as regulares, as optativas e as eletivas, estas últimas não sendo obrigatórias. No caso das optativas, há um cardápio para a escolha do aluno.
Para o gestor, a dúvida da nova lei ficou por conta da dimensão técnica profissional, com possíveis 46 cursos profissionalizantes. A instituição ainda não sabe quais ofertará e se por meio de parceria com instituições terceiras.
Já no caso do Colégio Bandeirantes, tradicional instituição com forte reputação na aprovação para os vestibulares, a preocupação já vem mudando tanto em relação ao currículo como quanto aos espaços educativos. Tempos atrás, a direção se reuniu e chegou à conclusão de que não havia alternativa: “Ou muda ou fecha. O jovem não quer mais uma escola em que não haja acolhimento emocional muito grande”, diz o diretor Mauro Aguiar. Há tempos, a escola instituiu rodas de diálogo, para abrir canais de escuta para os alunos e conscientizar os professores da necessidade de renovação.
Para ele, a mudança nas instalações físicas, que permite atividades mais dinâmicas e ambientes mais descontraídos, constitui um bom ponto de partida, pois a sua exigência se restringe a dinheiro e planejamento.
Já para Luiz Magalhães Filho, diretor do Grupo SEB (Sistema Educacional Brasileiro), que tem várias bandeiras, como as novas escolas Concept, “o problema não é tanto curricular, e sim metodológico”. “E para aferir isso é preciso ter indicadores”, diz. A SEB acredita que espaço físico diferenciado, metodologias ativas e formação continuada podem ser os grandes diferenciais de ensino.
Um aspecto estratégico, relativo à gestão, é que o foco do trabalho do coordenador pedagógico deve se restringir ao trabalho pedagógico com os professores e ao acompanhamento dos resultados dos alunos, deixando para o orientador educacional a interlocução com os pais.
Interdisciplinaridade

Um dos aspectos mais desafiadores para a etapa, no entanto, diz respeito à conjugação dos novos itinerários formativos com a Base Nacional Comum Curricular para o ensino médio. Se a reforma prevê a mudança nos currículos das licenciaturas num prazo de dois anos após a aprovação da BNCC, as escolas já terão de começar a implementar esse novo currículo no mesmo prazo. E, para isso, os professores em atividade terão de ter formação continuada, lembra Aldeir Rocha, gestor de serviços educacionais da Edições SM.
“Nosso primeiro trabalho enquanto prestadores de serviço é a montagem de um fórum de discussão sobre como fazer um planejamento estratégico para uma mudança dessa envergadura. As escolas têm por hábito enxergar apenas uma fotografia de momento. Na nossa visão, o mais importante é como se planejar para um novo projeto polí­tico-pedagógico, para introduzir novos tempos e espaços escolares”, avalia Rocha. Num segundo momento, a empresa planeja apoiar as escolas na formação de professores.
Tanto num caso como no outro é importante que as escolas não mudem apenas para atender à lei, mas que discutam efetivamente suas crenças educacionais e como enquadrá-las à proposta. No fim das contas, é o que pode fazer a diferença.

Autor

Rubem Barros


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